Sociedade

As Olimpíadas de Londres, segundo as cidades

Quem venceria os Jogos Olímpicos se os países fossem tirados do quadro de medalhas? Provavelmente, você não acertou os “campeões”

Foto: Charles Atkeison µg/Flickr
Apoie Siga-nos no

Alguma vez você já imaginou quem seriam os “vencedores” dos Jogos Olímpicos, o evento esportivo mais importante do mundo, pela perspectiva de cidades em vez de países? Deixar de lado o forte aspecto nacionalista que envolve a competição desde a Guerra Fria, quando a batalha no esporte servia de publicidade aos modelos político-econômicos de Estados Unidos e União Soviética, parece um delírio. Mas foi isso que um estudo da fundação suíça New Cities (Novas Cidades, em tradução livre), que trabalha pela melhoria da qualidade de vida nas cidades, buscou descobrir ao analisar quais municípios ganharam mais ouros nas Olimpíadas de Londres. E o resultado surpreende em diversos aspectos.

Entre as cidades mais bem colocadas, apenas Tóquio está na lista das dez maiores do mundo por população. Isso evidencia, ao menos nesta edição do evento, que o número de habitantes não é um fator chave para alcançar mais medalhas de ouro. Megalópoles como São Paulo e Nova York, por exemplo, saíram da disputa sem nenhum primeiro lugar em mãos.

Situação oposta a das capitais da China e da Rússia. No topo da lista estão Pequim e Moscou, respectivamente. Com um desempenho impressionante, elas obtiveram juntas 29 medalhas de ouro (18 para a cidade chinesa e 11 para os moscovitas), mais que o total da América do Sul. “Isso se dá claramente pela maneira como o esporte é administrado nestes países [de influência socialista], de forma centralizada. Há uma política forte de planejamento esportivo por parte do governo, que decide onde fica a infraestrutura e quais são as metas”, explica Mathieu Lefevre, diretor-executivo da New Cities e um dos responsáveis pelo levantamento.

Ao separar as medalhas das duas cidades do total alcançado por seus países, elas também ficariam no topo no quadro geral. Pequim seria a quarta colocada nos Jogos de Londres, atrás apenas de Estados Unidos, Reino Unido e da própria China. Moscou ficaria em sétimo, à frente de Alemanha e França.

Em terceiro lugar no ranking aparece Los Angeles, nos Estados Unidos, com oito medalhas. A “cidade dos anjos” teria mais medalhas que a Itália. Em seguida, aparecem Londres e Manchester (seis ouros cada), Almaty, capital do Cazaquistão, com cinco, e Budapeste, Hungria, com quatro. O mesmo número alcançado por Hangzhou (China), Kingston (Jamaica), Roma (Itália) e Tóquio (Japão).

As cidades mais ricas no mundo também não figuram na lista, mesmo que costumem possuir uma melhor infraestrutura social. Teoricamente, elas oferecem opções de transporte público, qualidade de vida e centros de treinamento mais avançados que poderiam garantir resultados expressivos aos atletas. Mesmo assim, não há relação direta entre riqueza e medalhas de ouro. “São Paulo, por exemplo, já é boa em tantas áreas, como criatividade, moda e finanças, que provavelmente produzir um medalhista olímpico de ouro não é uma prioridade”, diz Lefevre.

Então, se ser populoso e rico não garante mais ouros, quais outros fatores poderiam contribuir positivamente? Ao menos por enquanto, morar em uma das dez melhores cidades do mundo para viver não está entre eles. A lista de 2011 destes locais, computada pela consultoria Economist Intelligence Unit, traz Melbourne (Austrália), Viena (Áustria), Vancouver (Canadá), Toronto (Canadá), Calgary (Canadá), Adelaide (Austrália), Sydney (Austrália), Helsinki (Finlândia), Perth (Austrália) e Auckland (Nova Zelândia). Nenhuma delas figura entre as que mais obtiveram medalhas douradas em Londres. Por outro lado, o barulho, a poluição e o tráfego caótico de Pequim, Moscou e Los Angeles parecem não ter sido empecilho para os 37 ouros destas cidades.

“As cidades com melhor qualidade para o esporte não têm necessariamente investimentos para isso. Em muitas delas, o poder público investe no esporte com outro olhar, o da qualidade para a população, pois formar atletas de alto rendimento custa caro”, explica Paulo César Montagner, professor-doutor da Unicamp e especialista em estudo da gestão e diferentes estruturas do esporte.

Outra surpresa foi o desempenho das pequenas e médias cidades: Manchester, Almaty e Kingston. E o que elas têm em comum? Investiram em um ou dois esportes. Em Manchester, o ciclismo foi responsável por 83% das medalhas de ouro, Almatyteve 80% de suas vitórias no levantamento de peso, enquanto todos os ouros de Kingston vieram do atletismo.

Resultados inegavelmente ligados às raízes da cultura esportiva local, aponta Montagner. Em Manchester, o ciclismo é tradicional. Na União Soviética, à qual a capital do Cazaquistão pertencia, o levantamento de peso sempre esteve entre as políticas de investimento. “A cultura é um elemento impulsionador muito poderoso para alavancar com alguma agilidade o mecanismo de envolvimento. Onde há ciclismo, por mais que o capital não tenha se envolvido na modalidade, esse esporte vai continuar forte.”

Uma análise do top 10 da lista mostra que as quatro primeiras colocadas fogem da concentração de medalhas. O esporte com maior número de medalhas em Pequim foi o levantamento de peso (28%), em Moscou o atletismo respondeu por 36% dos ouros e em Los Angeles, a natação trouxe 37% das medalhas douradas. Já em Londres, 33% dos ouros vieram do boxe e da canoagem. “Isso indica que eles apostam em diversos esportes e não em apenas um, o que parece ser uma estratégia das cidades menores”, diz Lefevre.

Roma e Tóquio estão no grupo das exceções. São cidades grandes com 50% das medalhas de ouro em apenas um esporte. Na capital italiana, elas vieram da esgrima e, na capital japonesa, da luta greco-romana. Já as medalhas de outro de Budapeste vieram de esportes diferentes.

O levantamento considerou que as medalhas de modalidades individuais seriam atribuídas à cidade onde o atleta vive e treina a maior parte do ano, geralmente onde o clube está sediado. Já os ouros de times foram somados apenas uma vez ao local em que a equipe treinou junta para os Jogos Olímpicos.

Alguma vez você já imaginou quem seriam os “vencedores” dos Jogos Olímpicos, o evento esportivo mais importante do mundo, pela perspectiva de cidades em vez de países? Deixar de lado o forte aspecto nacionalista que envolve a competição desde a Guerra Fria, quando a batalha no esporte servia de publicidade aos modelos político-econômicos de Estados Unidos e União Soviética, parece um delírio. Mas foi isso que um estudo da fundação suíça New Cities (Novas Cidades, em tradução livre), que trabalha pela melhoria da qualidade de vida nas cidades, buscou descobrir ao analisar quais municípios ganharam mais ouros nas Olimpíadas de Londres. E o resultado surpreende em diversos aspectos.

Entre as cidades mais bem colocadas, apenas Tóquio está na lista das dez maiores do mundo por população. Isso evidencia, ao menos nesta edição do evento, que o número de habitantes não é um fator chave para alcançar mais medalhas de ouro. Megalópoles como São Paulo e Nova York, por exemplo, saíram da disputa sem nenhum primeiro lugar em mãos.

Situação oposta a das capitais da China e da Rússia. No topo da lista estão Pequim e Moscou, respectivamente. Com um desempenho impressionante, elas obtiveram juntas 29 medalhas de ouro (18 para a cidade chinesa e 11 para os moscovitas), mais que o total da América do Sul. “Isso se dá claramente pela maneira como o esporte é administrado nestes países [de influência socialista], de forma centralizada. Há uma política forte de planejamento esportivo por parte do governo, que decide onde fica a infraestrutura e quais são as metas”, explica Mathieu Lefevre, diretor-executivo da New Cities e um dos responsáveis pelo levantamento.

Ao separar as medalhas das duas cidades do total alcançado por seus países, elas também ficariam no topo no quadro geral. Pequim seria a quarta colocada nos Jogos de Londres, atrás apenas de Estados Unidos, Reino Unido e da própria China. Moscou ficaria em sétimo, à frente de Alemanha e França.

Em terceiro lugar no ranking aparece Los Angeles, nos Estados Unidos, com oito medalhas. A “cidade dos anjos” teria mais medalhas que a Itália. Em seguida, aparecem Londres e Manchester (seis ouros cada), Almaty, capital do Cazaquistão, com cinco, e Budapeste, Hungria, com quatro. O mesmo número alcançado por Hangzhou (China), Kingston (Jamaica), Roma (Itália) e Tóquio (Japão).

As cidades mais ricas no mundo também não figuram na lista, mesmo que costumem possuir uma melhor infraestrutura social. Teoricamente, elas oferecem opções de transporte público, qualidade de vida e centros de treinamento mais avançados que poderiam garantir resultados expressivos aos atletas. Mesmo assim, não há relação direta entre riqueza e medalhas de ouro. “São Paulo, por exemplo, já é boa em tantas áreas, como criatividade, moda e finanças, que provavelmente produzir um medalhista olímpico de ouro não é uma prioridade”, diz Lefevre.

Então, se ser populoso e rico não garante mais ouros, quais outros fatores poderiam contribuir positivamente? Ao menos por enquanto, morar em uma das dez melhores cidades do mundo para viver não está entre eles. A lista de 2011 destes locais, computada pela consultoria Economist Intelligence Unit, traz Melbourne (Austrália), Viena (Áustria), Vancouver (Canadá), Toronto (Canadá), Calgary (Canadá), Adelaide (Austrália), Sydney (Austrália), Helsinki (Finlândia), Perth (Austrália) e Auckland (Nova Zelândia). Nenhuma delas figura entre as que mais obtiveram medalhas douradas em Londres. Por outro lado, o barulho, a poluição e o tráfego caótico de Pequim, Moscou e Los Angeles parecem não ter sido empecilho para os 37 ouros destas cidades.

“As cidades com melhor qualidade para o esporte não têm necessariamente investimentos para isso. Em muitas delas, o poder público investe no esporte com outro olhar, o da qualidade para a população, pois formar atletas de alto rendimento custa caro”, explica Paulo César Montagner, professor-doutor da Unicamp e especialista em estudo da gestão e diferentes estruturas do esporte.

Outra surpresa foi o desempenho das pequenas e médias cidades: Manchester, Almaty e Kingston. E o que elas têm em comum? Investiram em um ou dois esportes. Em Manchester, o ciclismo foi responsável por 83% das medalhas de ouro, Almatyteve 80% de suas vitórias no levantamento de peso, enquanto todos os ouros de Kingston vieram do atletismo.

Resultados inegavelmente ligados às raízes da cultura esportiva local, aponta Montagner. Em Manchester, o ciclismo é tradicional. Na União Soviética, à qual a capital do Cazaquistão pertencia, o levantamento de peso sempre esteve entre as políticas de investimento. “A cultura é um elemento impulsionador muito poderoso para alavancar com alguma agilidade o mecanismo de envolvimento. Onde há ciclismo, por mais que o capital não tenha se envolvido na modalidade, esse esporte vai continuar forte.”

Uma análise do top 10 da lista mostra que as quatro primeiras colocadas fogem da concentração de medalhas. O esporte com maior número de medalhas em Pequim foi o levantamento de peso (28%), em Moscou o atletismo respondeu por 36% dos ouros e em Los Angeles, a natação trouxe 37% das medalhas douradas. Já em Londres, 33% dos ouros vieram do boxe e da canoagem. “Isso indica que eles apostam em diversos esportes e não em apenas um, o que parece ser uma estratégia das cidades menores”, diz Lefevre.

Roma e Tóquio estão no grupo das exceções. São cidades grandes com 50% das medalhas de ouro em apenas um esporte. Na capital italiana, elas vieram da esgrima e, na capital japonesa, da luta greco-romana. Já as medalhas de outro de Budapeste vieram de esportes diferentes.

O levantamento considerou que as medalhas de modalidades individuais seriam atribuídas à cidade onde o atleta vive e treina a maior parte do ano, geralmente onde o clube está sediado. Já os ouros de times foram somados apenas uma vez ao local em que a equipe treinou junta para os Jogos Olímpicos.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar