Política

Arquivamento é padrão nas investigações de mortes por policiais, alerta especialista

Para o professor José Cláudio Souza Alves, da Universidade Federal Rural do Rio, ‘há uma verdadeira cumplicidade do Judiciário’

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Subiu para 28 o número de mortos na operação realizada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro na quinta-feira 6 no Jacarezinho, zona norte da capital fluminense. Trata-se da mais letal ação policial já registrada no estado.

Para José Cláudio Souza Alves, doutor em sociologia e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, uma operação desse porte é marca do principal mercado em jogo no estado e no País: o político-eleitoral. Além disso, ações desse tipo, frisa o especialista em segurança pública, não costumam resultar em investigações profundas.

“Tentam desmontar a agenda nacional de debates e nos trazer para a questão de que ‘estão limpando a sociedade e matando bandidos’. Se isso fosse verdade, teríamos resolvido o problema do tráfico e da violência há muito tempo. Não resolvemos, porque os grupos políticos se aproveitam da estrutura do crime organizado para se projetar, principalmente aqueles ligados à milícia”, afirmou José Cláudio em entrevista ao programa Direto da Redação, no canal?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> de CartaCapital no YouTube.

Segundo ele, a lógica de “guerra às drogas” remonta ao final dos anos 1970 e jamais levou a qualquer solução.

“É uma prática de execução sumária em grande escala. Quero ver se vão sair os laudos cadavéricos, para me provarem que de fato se tratou de confronto armado. Normalmente são execuções sumárias. Essa é uma prática da polícia do Rio em uma guerra que não é contra o tráfico, mas contra os pobres. É covardia pura, barbárie do Estado, uma prática recorrente de extermínio”, acrescentou.

Além disso, o professor se diz preocupado quanto à disposição das instituições envolvidas na investigação da chacina. De acordo com ele, o padrão de apuração das mortes cometidas por policiais é “simplesmente o arquivamento”.

“Não há investigação, preservação do local, perícia. O Ministério Público não conduz de forma adequada essas investigações. É uma verdadeira cumplicidade das estruturas do Judiciário com essa dimensão bárbara por parte do Estado”, criticou.

José Cláudio ainda declarou que, ao contrário de “qualquer país sério”, o Brasil trata as drogas “na forma da repressão pura, simples e aberta”.

“Por que nós empurramos por décadas uma crise tão profunda, com milhares de pessoas mortas, e não conseguimos resolver esse problema? Porque os próprios que ocupam esses espaços se beneficiam dessas lógicas: da grana da droga, da grana do comércio ilícito de vários produtos, da lógica da milícia que ganha com tudo em uma comunidade”, completou.

Assista à íntegra da entrevista:

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