Sociedade

Arquidiocese mantém arquivamento de denúncia sobre suposto vídeo do padre Júlio Lancellotti

Em nota, a instituição afirmou que não chegou a ‘convicção suficiente sobre a materialidade da denúncia’

Foto: Julia Prado/MS
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A Arquidiocese de São Paulo informou, nesta terça-feira 23, que decidiu manter o arquivamento de um procedimento investigativo que havia sido aberto em 2020 contra o padre Júlio Lancellotti.

A instituição disse que, ao avaliar denúncias sobre o padre apresentadas pelo presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil), observou que o conteúdo já havia sido analisado em 2020.

Segundo a Arquidiocese, naquele ano, não se chegou à “convicção suficiente sobre a materialidade da denúncia” e que acompanhou as decisões do Ministério Público de São Paulo e da Justiça no mesmo caso.

A nota também diz que “distante de interesses ideológicos e políticos, com serenidade e objetividade, a Cúria Metropolitana de São Paulo permanece atenta a ulteriores elementos de verdade sobre os fatos denunciados”.

No material em questão, o padre estaria em uma videochamada íntima com um menor de idade, após um diálogo virtual. O conteúdo foi apresentado ao Ministério Público de São Paulo pelo então deputado estadual Arthur do Val, o “Mamãe Falei”, em novembro de 2020.

Em 2021, uma reportagem da revista piauí destacou a investigação do Ministério Público sobre um perfil falso em redes sociais, supostamente criado por um assessor do Movimento Brasil Livre, Guto Zacarias. O perfil imitava um adolescente de 16 anos e entrou em contato com outro perfil que seria do padre Lancellotti. A investigação foi arquivada por falta de evidências concretas devido à impossibilidade de localizar o suposto adolescente.

Apesar de Zacarias admitir a existência do perfil falso, ele negou sua autoria, atribuindo a criação do mesmo à Guarda Civil Metropolitana. A revista piauí entrevistou um membro da GCM, conhecido como “comandante Braga”, que frequentemente acompanhava Do Val. Este membro também negou qualquer envolvimento na criação do perfil falso, segundo a publicação.

Segundo a Arquidiocese, ao mesmo tempo em que a instituição realizava o procedimento interno, o MPSP investigou a denúncia num inquérito aberto junto a uma seção do TJSP, o Setor de Atendimento de Crimes da Violência contra Infante, Idoso, Pessoa com Deficiência e Vítima de Tráfico Interno de Pessoas.

A entidade diz que o MPSP apontou “ausência de materialidade” e “emitiu parecer contrário à instauração de uma ação penal, acompanhado pelo juiz que decidiu pelo arquivamento do inquérito”.

Procurada por CartaCapital, a assessoria do Tribunal de Justiça de São Paulo se limitou a confirmar que houve um inquérito em 2020 relativo ao padre e que hoje ele consta como “extinto”. Informou ainda que “todos os inquéritos e processos do SANCTVS tramitam em segredo de justiça” e que não havia informações disponíveis.

O caso voltou à tona após uma publicação do site Revista Oeste, de 20 de janeiro, ter relatado uma perícia e sustentado que a videochamada íntima, supostamente gravada em fevereiro de 2019, era verdadeira. Posteriormente, o site da Revista Fórum relatou outra perícia e sustentou que a gravação é falsa, com base em uma análise do professor Mário Gazziro, da Universidade Federal do ABC.

Procurado pela reportagem, Lancellotti enviou um link da Fórum que afirma que “perícia publicada na Oeste é baseada em pseudociência” e reproduz manifestação de Gazziro, que diz que “houve montagem, edição e divulgação de material adulterado”. A defesa jurídica do padre não retornou à reportagem.

Veja nota da Arquidiocese

NOTA DE ESCLARECIMENTO

“A Arquidiocese de São Paulo, mediante ofício enviado por e-mail ao vereador Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo, no dia 6 de janeiro, protocolado na Câmara Municipal no dia 8 sucessivo, solicitou-lhe que fosse enviado o material referente à suposta denúncia contra o Padre Júlio Renato Lancellotti. Finalmente, na tarde do dia 22 de janeiro, o material foi entregue na Cúria Metropolitana de São Paulo.

Tomado conhecimento do material recebido, constatou-se que se trata do mesmo conteúdo divulgado em 2020. Naquela ocasião, a Cúria Metropolitana de São Paulo, conforme prescrevem as normas da Igreja para esses casos, realizou um procedimento investigativo para apurar a denúncia recebida.

Concomitantemente, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) passou a investigar a dita denúncia, conforme inquérito aberto junto ao Setor de Atendimento de Crimes da Violência contra Infante, Idoso, Pessoa com deficiência e Vítima de tráfico interno de pessoas. O MPSP, considerando ausência de materialidade, a seu tempo, emitiu parecer contrário à instauração de uma ação penal, acompanhado pelo D. Juiz que decidiu pelo arquivamento do inquérito.

A Arquidiocese de São Paulo, não chegando à convicção suficiente sobre a materialidade da denúncia e considerando as conclusões do MPSP, bem como da Justiça Paulista, também decidiu pelo arquivamento e informou a Santa Sé.

Distante de interesses ideológicos e políticos, com serenidade e objetividade, a Cúria Metropolitana de São Paulo permanece atenta a ulteriores elementos de verdade sobre os fatos denunciados.

São Paulo, 23 de janeiro de 2024

Padre Michelino Roberto

Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo”

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