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Apesar de eventos climáticos extremos, Brasil vai reduzir orçamento para transição energética em 2025

Levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos, o Inesc, detalha como a diminuição de verba pode comprometer metas climáticas

Apesar de eventos climáticos extremos, Brasil vai reduzir orçamento para transição energética em 2025
Apesar de eventos climáticos extremos, Brasil vai reduzir orçamento para transição energética em 2025
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
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No Amazonas, incêndios por todos os lados mudaram a cara de um dos principais biomas do país. No Rio Grande do Sul, chuvas inimagináveis arrasaram cidades inteiras e levou boa parte da população ao desamparo. Em São Paulo, dias com ares quase irrespiráveis fizeram a maior metrópole do país ser considerada, por um momento, a cidade com o pior ar do mundo. Não faltam exemplos para comprovar o fato de que as mudanças climáticas – e os seus efeitos nocivos – já compõem uma realidade que a sociedade não esperava viver agora.

Da farta lista de ações necessárias para atenuar os efeitos da crise, uma delas é a transição energética. Ou seja, promover, na prática, a mudança de fontes tradicionais de energia (os combustíveis fósseis, por exemplo) para outras mais sustentáveis. 

Eis uma maneira de atingir as metas climáticas estabelecidas por organismos internacionais. A transição energética é tema recorrente nos discursos do governo federal. Na abertura da 79ª Assembleia Geral da ONU, na última terça-feira 24, o presidente Lula (PT) se disse “farto de acordos climáticos que não são cumpridos”, cobrando ações concretas da comunidade internacional contra a crise do clima.

Entretanto, apesar do reconhecimento da crise e de sentir no seu próprio território os efeitos dela, o Brasil deverá cortar verbas para transição energética em 2015. É o que aponta um relatório do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), divulgado nesta segunda-feira 30.

Risco de comprometer as metas climáticas

A partir dos dados do Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) para 2025, o estudo aponta uma redução no orçamento de quase 18% no orçamento destinado à transição energética, na comparação com 2024.

Em 2024, por exemplo, foram 4,44 bilhões de reais para a transição energética. Para 2025, por outro lado, a cifra será de 3,64 bilhões de reais.

O Brasil até chegou a avançar no trato da questão, criando um programa específico no Plano Plurianual sobre a transição energética. A pasta responsável por gerir o orçamento é o Ministério de Minas e Energia. Acontece que, do total de recursos que serão investidos no período 2024-2027 (10,35 bilhões de reais), metade terá como destino a manutenção da indústria de petróleo e gás natural – uma das trincheiras que, na visão de muitos especialistas, atrasa a transição energética eficaz.

“Enquanto o PPA estabelece como meta promover a participação de energias renováveis, aumentar a eficiência energética e ampliar a capacidade de adaptação às mudanças climáticas, o orçamento revela um cenário contraditório: parte significativa dos recursos está sendo alocada para sustentar a indústria de combustíveis fósseis”, avalia Cássio Cardoso Carvalho, assessor político do Inesc.

Detalhes do orçamento

Em relação ao orçamento para a transição energética, o Inesc se debruçou sobre dados de três ministérios: o do Desenvolvimento Agrário, o do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; e o da Ciência, Tecnologia e Inovação.

No primeiro caso, são dois planos orçamentários, que são complementares: o “Apoio à participação da agricultura familiar nas cadeias de energias renováveis” e “Energização renovável e inclusão digital para agricultura familiar”. Ambos sofreram perdas orçamentárias. Em 2024, o orçamento somado foi de 3,05 milhões de reais. Para 2025, a cifra caiu para 2,25 milhões de reais. Na prática, a redução de 26,36% pode dificultar o acesso da agricultura familiar a fontes renováveis de energia.

A segunda pasta, por sua vez, é responsável por gerir o programa do governo que visa fornecer auxílio gás de cozinha para famílias pobres cadastradas no Cadastro Único. Na lógica do governo, o programa serve como ferramenta de transição energética. A política pública sofrerá perdas em 2025, já que o orçamento passou a ser de 600 milhões de reais, cifra que é 83,52% abaixo do orçamento de 2024, que ficou em 3,64 bilhões de reais.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação é uma exceção à regra. Os recursos para transição energética no parque industrial brasileiro subiram de 800 milhões de reais em 2024 para 3,03 bilhões de reais em 2025.

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