Diversidade

Apenas 25% das pessoas trans têm emprego formal no Brasil, aponta o Ipea

Além da menor taxa de participação no mercado formal, pessoas trans recebem, em média, 32% menos que a média nacional

Apenas 25% das pessoas trans têm emprego formal no Brasil, aponta o Ipea
Apenas 25% das pessoas trans têm emprego formal no Brasil, aponta o Ipea
A recolocação profissional das pessoas transgênero é sempre mais difícil – Imagem: Fernando Frazão/ABR
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Em 2023, apenas 25% das pessoas trans estavam empregadas formalmente no Brasil. O dado consta na nota técnica divulgada nesta quarta-feira 22 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, que traça um retrato inédito da presença trans no mercado de trabalho.

Intitulado “A inserção e as características das pessoas trans no assalariamento formal”, o estudo identificou 38,7 mil pessoas trans com idade entre 14 e 64 anos vivendo no país. A estimativa foi obtida a partir de um cruzamento entre o CPF e as informações da Relação Anual de Informações Sociais, a RAIS, de 2023.

O cruzamento dos dados revelou que apenas um quarto dessa população possuía vínculo empregatício formal — um índice 6,8% inferior à taxa geral de emprego formal no país. A renda média mensal foi de 2.707 reais, valor 32% inferior à média nacional. A desigualdade se mantém mesmo entre profissionais com ensino superior completo: trans formados ganham 27,6% menos que seus pares cisgêneros.

A disparidade é ainda mais marcada quando se observa o recorte de gênero: mulheres trans apresentam participação de 20,7% no mercado, contra 31,1% entre homens trans.

Regionalmente, as menores taxas de inserção foram observadas no Centro-Oeste (24%) e no Nordeste (17,8%). “Mesmo nas regiões com maior dinamismo econômico, as barreiras à contratação e à permanência de pessoas trans permanecem expressivas”, observam os autores do estudo.

Subnotificação e barreiras burocráticas

Os números, no entanto, podem estar subestimados. O estudo considera apenas pessoas que retificaram nome e gênero nos registros civis — uma realidade ainda distante para boa parte da população trans e travesti.

Apesar de o Supremo Tribunal Federal ter garantido esse direito em 2018, a burocracia e os altos custos cartoriais continuam sendo entraves. O processo exige até 17 documentos, entre eles cópias autenticadas e certidões emitidas com poucos dias de validade. Além do custo, o rito pode ser constrangedor, especialmente quando inclui exigências como a apresentação do certificado de alistamento militar.

Juventude e mudança cultural

O levantamento aponta ainda que 59,8% das pessoas trans identificadas têm entre 18 e 30 anos. Para os pesquisadores, essa concentração etária reflete uma mudança cultural: o aumento do reconhecimento e da expressão social de identidades de gênero divergentes, sobretudo entre as gerações mais jovens.

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