Sociedade

Airbnb: viemos para ficar, diz o dono bilionário

Nathan Blecharczyk, cofundador de uma polêmica startup de hospedagem global, insiste que a empresa é uma força do bem e quer ajudar as autoridades a adaptar-se a sua nova tecnologia

Nathan Blecharczyk (centro) ao lado de Joe Gebbia e Brian Chesky, os outros cofundadores do Airbnb
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Por Rory Carroll, em San Francisco

É um conceito simples e engenhoso, que permite que você alugue um quarto ou reserve hospedagem barata em quase qualquer lugar do planeta, no conforto de seu notebook.

O site Airbnb virou do avesso a indústria de viagens, com a promessa de conectar pessoas comuns de uma maneira nova e mais pessoal de fazer negócios, deixando para trás as corporações. Mas hoje a empresa sediada em San Francisco, Califórnia, é obrigada a se defender de acusações de ser apenas mais um monstro voraz da internet que burla os regulamentos, foge dos impostos e enriquece os inescrupulosos.

Nathan Blecharczyk, um dos fundadores da Airbnb que também é um dos mais jovens e novos bilionários do mundo, disse que a companhia é uma força do bem e veio para ficar.

A Airbnb vai superar o ataque de reguladores e críticos porque seu modelo empresarial se espalhou pelo mundo e o gênio não pode ser “colocado de volta na garrafa”, disse ele. “Existem milhões de pessoas que experimentaram algo que elas adoram e querem”, disse. “Não há como apagar esse conhecimento. E, francamente, há muitos outros sites que fazem exatamente a mesma coisa. E muitos outros virão no futuro. Por isso, acho que não há como colocá-los de volta na garrafa.”

Sentado na nova sede da Airbnb no centro da cidade, um saguão ensolarado com um café-bar e skates para os funcionários, a maioria na casa dos 20 anos, Blecharczyk, 30 anos, disse que as autoridades terão de reconhecer que essa parte da “economia compartilhada” está criando raízes profundas. A Airbnb, hoje avaliada em 10 bilhões de dólares, oferece hospedagem em mais de 40 mil cidades de mais de 160 países. A cada dois segundos, um hóspede faz check-in em um lugar usando a Airbnb.

“O primeiro passo é conversar com o seu tempo”, disse Blecharczyk, uma figura descontraída e amável que fundou a empresa em 2008, juntamente com Brian Chesky e Joe Gebbia. “Há essa coisa que está acontecendo e claramente oferece muito valor para os hóspedes e anfitriões. É uma tendência que não vai desaparecer.”

No entanto, autoridades e comentaristas nos Estados Unidos e na Europa acusaram a startup de evitar impostos e violar códigos locais sobre aluguel de hospedagem – a última de uma série de críticas semelhantes a Amazon, Google, Uber e outras gigantes da internet.

Blecharczyk, que dirige a estratégia técnica da Airbnb, disse que as políticas atuais já existem há muito tempo e a empresa deseja ajudar as autoridades a se adaptarem ao que ele pinta como uma nova tecnologia disruptiva, mas de qualquer modo bem-vinda.

“Muitas perguntas boas estão sendo feitas. Precisamos encontrar algumas políticas sensatas, políticas modernas, para equilibrar as preocupações legítimas com os benefícios legítimos que essa nova atividade oferece.” Cada cidade tinha regras e códigos fiscais diferentes sobre aluguel, alguns variando conforme o anfitrião servia café da manhã, alugava apenas um sofá, um quarto ou uma casa inteira, disse Blecharczyk. “A última coisa que queremos são 40 mil políticas diferentes. Gostaríamos de estabelecer um modelo que as cidades possam modificar um pouco.” Ele disse que a Ásia é a próxima grande área de crescimento.

Mesmo que a Airbnb feche amanhã, disse o cofundador, as autoridades enfrentarão o mesmo problema. “Todo mundo está falando sobre a Airbnb, mas há outros sites onde você pode fazer exatamente a mesma coisa.”

O secretário de Justiça de Nova York, Eric Schneiderman, sugeriu que quase dois terços dos inscritos na Airbnb em Nova York são ilegais e exigiu os dados de 15 mil anfitriões. Um ponto chave é um regulamento local que exige que os moradores permanentes estejam presentes em uma propriedade se a subalugarem por um período inferior a 30 dias. A Airbnb agora retirou cerca de 2 mil inscritos em Nova York que pareciam ser hotéis ilegais e disse que também quer mudar uma lei que a impede de pagar impostos.

A Airbnb retratou a maioria dos anfitriões como “pessoas comuns” que alugam só um quarto e interagem com os hóspedes. Mas no mês passado um estudo de 90 mil anfitriões em 18 cidades descobriu que 40% tinham diversas inscrições. Uma análise de dados separada das operações da Airbnb em San Francisco, encomendada pelo jornal The San Francisco Chronicle e publicada na semana passada, contestou ainda mais a descrição dos hóspedes feita pela companhia. Ela descobriu que dois terços dos 4.798 inscritos na cidade eram apartamentos ou casas inteiros. “Em uma cidade que tem falta de habitação crônica, o número de casas na Airbnb que parecem não estar disponíveis no mercado de locações é significativo”, disse Laura Teller, diretora de estratégia da Connotate, uma firma de extração de dados que fez a análise.

Críticos na cidade-sede da empresa também citaram casos de senhorios que despejam os antigos inquilinos para transformar as propriedades em membros da Airbnb.

Blecharczyk admitiu que isso acontece, mas disse que os senhorios tinham um histórico de despejar inquilinos para aumentar os aluguéis e que a Airbnb apoia os esforços da cidade para conter essa prática. “A Airbnb não é o problema. É apenas um dos vários sintomas do problema.”

O bilionário disse que tanto em viagens quanto nas férias ele mesmo usa a Airbnb em vez de hotéis. Passou recentemente três noites na Letônia com um anfitrião que alugou seu próprio quarto e serviu de guia turístico.

“Tudo tem a ver com conexões locais. Ele conhecia todo mundo na cidade.”

Blecharczyk pagou 25 dólares por noite – o que faz parte do padrão de frugalidade do empresário, apesar de sua enorme fortuna. Ele costuma pedalar para o trabalho, e sua bicicleta só é nova porque a anterior foi roubada, disse. “Não gosto de gastar dinheiro. Gosto de coisas simples.”

Blecharczyk e sua mulher pretendem alugar um quarto em sua casa recém-comprada. Ela tem uma vantagem que não está ao alcance de todos os anfitriões da Airbnb: uma entrada separada, mantendo certa distância dos hóspedes.

Leia mais em Guardian.co.uk

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