Sociedade

Agora, respostas às invasões econômicas são fatais

O atual ciclo do capitalismo está obcecado por fazer o dinheiro aumentar sem produção, comércio ou serviços.

Desejo é multiplicar o dinheiro sem produção. Gradativamente, tudo foi homogeneizado pelas finanças
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Vamos mal, senhores e senhoras. Falo do planeta e nele de países ricos, cidades grandes e pessoas com dinheiro e poder (pleonasmo, talvez). “Mas esses são poucos”, diz meu amigo Pires, o raso. Poucos sim, respondo, até diminuindo, mas fazem um baita estrago.

E de nós, que vivemos em um só diapasão, falar o que? Repetir o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935), “navegar é preciso, viver não é preciso?” Ou perguntar, como fez Caetano Veloso, “existirmos a que será que se destina”? Estaríamos falando de nós, os que não existem, vivem, navegam e têm o destino de não existirem, viverem ou navegarem.

Este péssimo introito me chega depois de ler Ana Maria Primavesi, História de Vida e Agroecologia, de Virgínia Mendonça Knabben (Editora Expressão Popular, SP, 2016). Conheci ainda mais de uma mulher que existe, vive e navega com destino.

Vivemos sociedades sem fortes divergências em sistematizações econômicas, políticas, sociais. O mesmo em formas, fundamentos e quereres religiosos. Diferem as armas de autodestruição vendidas em nossos armazéns de secos e molhados.

Os ataques suicidas em escolas dos EUA, os suicídios de jovens japoneses escravizados pela meritocracia, os cada vez mais frequentes atos terroristas, respostas fatais às invasões econômicas prevalentes no século passado, parte como imperialismo, parte como globalização, para o historiador britânico Eric Hobsbawm (1917-2012), tutti lo stesso.

Neste inzoneiro país, no mês de junho se festeja Antônio, João, Pedro e, para afastar qualquer pecha machista, aí incluiria as Marias. Na zoada é permitido entrarem santos de sacristia vivencial e malfeitores de adições várias. Uns serão louvados, outros presos e segregados, embora sempre santos desculpados pelo pudor criacionista.

Pois, justamente no primeiro dia deste mês, um pele-laranja, de topete inspirado nas Montanhas Rochosas, eleito presidente por preguiça, ignorância atávica, prepotência e insegurança norte-americanas, decidiu desacordar Paris.

“Tô nem aí! Caso todos se ferrem no futuro, eu já estarei morto e na História, como um desalmado Lincoln. A família Trump protegida por décadas de dólar. Isto, se os alertas não forem as bobagens de sempre, dos ecologistas de pequeno pênis”.

Sim, o presidente dos EUA e a maior parte de sua eugênica (?) população foram claros: ‘Paris et le monde, vas te faire encule’. Não foram exatamente contra o planeta. Apenas se aproveitaram da hesitação. Se der happy-end, ótimo.

Os EUA querem que tudo aconteça rapidinho. Em Hollywood, nada de sequências longas e lentas. É vapt-vupt. Um monte de porrada no mocinho e no final a ação salvadora. Beijos finais estão fora de moda. Demoram e pareceriam pornográficos diante das tantas cenas de sexo durante o filme.

Após décadas de ECOs, Convenções da ONU, COPs, Dohas, Mileniuns, Protocolos e outros piqueniques para reduzir a emissão de gases poluentes, em dezembro de 2015, 195 países, incluídos os EUA, resolveram assinar um acordo para, a partir de 2020, começarem a fulminar as emissões de dióxido de carbono. Paris, COP 21, agora abandonada por Donald Trump.

Não é bobo, não. Sabe que não daria em nada e, agora, mais ainda, não dará. Nada justifica que se precise meio século para o beijo final. “Vivo ou morto, fui”.

O atual ciclo do capitalismo está obcecado por fazer o dinheiro aumentar sem produção, comércio ou serviços. Países de economistas cadavéricos e fazedores de cadáveres caem nessa facilmente. No mais das vezes, se empregam no governo, saem, vão virar chefes ou porta-vozes em bancos, e lá esperam o mundo se ferrar. Seus computadores desenham planilhas para provar que a metragem de papel higiênicos usada em ânus de pobres é prejudicial ao livre mercado. Excesso de demanda, econometria mal gasta.

Desde 1980, gradativamente, tudo foi homogeneizado pelas finanças. Um jeitinho desleixado aqui, outro mais regrado lá, chineses ocidentalizando muralhas, feijoadas master orientalizadas por crianças num canal de TV a cabo coreano e sojicultores brasileiros pensando que o mundo nunca lhes trará surpresas, como trouxe a Joesley (lateral-direito do Galo), Odebrecht (volante do Bayern) e Cerveró (ponta-direita do Valência).

Sabe-se lá se o juiz é sério, equivocado ou ladrão, mas é assim que a casa grande destrói a senzala. Volta, Mino! 

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