Sociedade

Ação foi necessária e legítima, diz ex-governador

Luiz Antonio Fleury Filho falou ainda sobre sua responsabilidade no episódio: “A responsabilidade política era minha; a criminal, caberá aos jurados esclarecer”.

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Em seu depoimento durante o julgamento dos policiais acusados de participação no Massacre do Carandiru, o ex-governador de São Paulo à época, Luiz Antonio Fleury Filho, afirmou que a entrada da polícia, em outubro de 1992, “foi absolutamente necessária e legítima”. Fleury foi ouvido nesta terça-feira 16 no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. Ele foi convocado pela defesa dos 26 policiais militares julgados desde o início da semana. O desembargador Ivo de Almeida, juiz corregedor do presídio quando ocorreu a invasão policial, também falou ao júri.

O ex-governador falou ainda sobre sua responsabilidade no episódio, que culminou na morte de 111 detentos. “A responsabilidade política era minha; a criminal, caberá aos jurados esclarecer”. Fleury negou que a ordem para a ação dos PMs do Carandiru tenha partido dele, mas reafirmou a declaração que deu para os autores do livro Vozes do Carandiru, publicado em 2007, quando disse: “Não dei a ordem de entrada, mas, se estivesse em meu gabinete, daria”. Nesta terça-feira, ele disse confirmar a frase.

Quando questionado sobre a relação entre a criação do PCC (Primeiro Comando da Capital), respondeu que essa era uma tentativa de “se dar um pouco de glamour” à facção criminosa.

Fleury Filho contou que não estava em São Paulo no dia em que o massacre ocorreu. “Era véspera de eleição municipal e estava em Sorocaba, porque sabíamos que em São Paulo não tinha possibilidade de o meu candidato se eleger prefeito”.  E completou: “Não era minha obrigação ir ao local, eu era governador do estado. O interesse do estado é a investigação isenta; o governador não é presidente de inquérito.”


Em Sorocaba, Fleury Filho disse ter recebido um recado dizendo que o secretário Claudio Alvarenga queria falar com ele. “Naquela época não tinha celular”, disse. Liguei para o secretário e ele me falou sobre a rebelião que estava ocorrendo no Carandiru e que o secretário de Segurança Pública da época, Pedro Franco de Campos, estava cuidando do caso.


“Saí de lá (de Sorocaba) de helicóptero por volta das 16h ou 16h30. Quando cheguei ao Palácio dos Bandeirantes [sede do governo paulista], descobri que tinha ocorrido a invasão. Liguei, então, para o Campos e perguntei se havia necessidade de a polícia ter entrado. Ele me disse que sim”, contou o ex-governador.


Naquele dia, Fleury disse ter sido informado que a invasão policial no Carandiru tinha provocado 40 mortes. À noite, a informação foi alterada para 60 mortos. No dia seguinte, domingo de eleição, ele tinha a informação de que havia 100 mortos. “Pedi então que só informassem o número de mortos quando tivessem o número correto”, disse ele.


Segundo ele, só à noite, às 18h, horário em que as urnas estavam fechadas, ele recebeu a confirmação de que havia 111 mortos. Na época, a imprensa noticiou oito mortos no massacre e só recebeu a confirmação do número exato de mortos após o término das eleições.


Para Fleury Filho, os ânimos das tropas policiais se alteraram quando houve a notícia de que o comandante da Polícia Militar à época, Ubiratan Guimarães, foi atingido por um tubo de TV e tinha desmaiado, pouco depois que a tropa policial invadiu o presídio. “Ubiratan foi atingido por um tubo de TV e isso deve ter causado, evidentemente, comoção à tropa”, contou ele.


Devido ao grande número de réus envolvidos, o julgamento do Massacre do Carandiru está sendo feito em etapas. A previsão é que esta primeira dure entre uma e duas semanas. Os 26 réus julgados agora são acusados por 15 mortes ocorridas no segundo pavimento do Pavilhão 9.

 

*Com informações da Agência Brasil

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