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‘A vontade era de gritar: Eu me vacinei, vou viver! A ciência venceu a politicagem’

Conheça a história de Vanuza Kaimbé, a primeira indígena vacinada contra a Covid-19 no Brasil

‘A vontade era de gritar: Eu me vacinei, vou viver! A ciência venceu a politicagem’
‘A vontade era de gritar: Eu me vacinei, vou viver! A ciência venceu a politicagem’
Vanuza Kaimbé, 50, sendo vacinada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Foto: GOVSP
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Mais de 200 mil mortes, 8 milhões de casos confirmados e uma segunda onda que chega devastadora: neste contexto, ser vacinado contra o coronavírus é o objetivo comum de milhões de brasileiros. 

Apesar da agulhada durar segundos, para Vanuza Kaimbé, de 50 anos, o momento da vacinação trouxe a sensação de ver “um filme” na própria cabeça. Kaimbé foi uma das primeiras pessoas vacinadas do País e, em um ato que marcou seu nome na história, a primeira indígena a receber o imunizante. 

As imagens da trajetória de vida de quem construiu uma aldeia ao lado da maior metrópole do País e que lutou para que houvesse testagem para todos, de certo, forma um roteiro que diz muito do que é o Brasil na pandemia de coronavírus. 

“Fui tirada como exagerada, como doida ou como tendo excesso de cuidados… Tudo isso passou e eu estava sendo contemplada pela vacina. A vontade era gritar e dizer: eu me vacinei, eu vou viver!”, declarou Vanuza em entrevista a CartaCapital. “Tive que me conter, porque eu não podia fazer isso no momento em que a ciência venceu a politicagem.”

Natural da aldeia Massacará, na cidade de Euclides da Cunha, sertão da Bahia, Vanuza veio para São Paulo na adolescência em busca de oportunidades para se formar na área da Saúde. Graduou-se técnica de enfermagem. 

Trabalhou no comércio, em banco e como doméstica, mas foi no Cabuçu, bairro da cidade de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, que reatou o elo com as próprias origens, agora como líder e co-fundadora da aldeia indígena Filhos Dessa Terra. Moram na aldeia fundada há quatro anos aproximadamente 75 pessoas, de diferentes etnias. 

Conter a transmissão do coronavírus, conta, significava preservar uma cultura em extermínio desde a colonização, seu objetivo desde a ocupação daquele território. 

Foto: GOVSP

“Eu achei que eu ia morrer doente, sozinha na minha casa. Toda noite chorava achando que não ia amanhecer”, conta Vanuza, que contraiu Covid-19 em maio – com direito a dores no corpo, tosse e severa falta de ar, além da ausência de olfato e paladar. A melhora veio apenas um mês depois. E a luta pela testagem do restante da aldeia levou ainda mais tempo. 

Em mais de um mês de contato com a Secretaria de Saúde de Guarulhos e após várias tentativas para conseguir a testagem, a mensagem sem delongas de que não ‘era possível fazer os testes’ fez Vanuza acionar o ‘plano B’: mobilizar as redes sociais e unir outras lideranças indígenas, como o Conselho Indigenista Missionário. 

Após a articulação, a notícia chegou ao Instituto Butantan, que fez contato com a secretaria guarulhense para realizar os testes, ocorridos em junho. A partir daí, acredita Vanuza, é que veio a ideia de convidá-la a ser a primeira indígena vacinada. 

Vanusa é enfática ao criticar a priorização apenas de povos indígenas aldeados no processo de vacinação contra a Covid-19. Para os parentes, deixa um recado de incentivo à vacinação e de rejeição ao “medo” da vacina. 

“Não vamos ouvir falar de mentira e fake news, vamos acreditar na ciência, que é confiável. Vacina é amor, é resistência e é vida.”

Confira o relato de Vanuza a CartaCapital:

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