Sociedade

A vida e as controvérsias de Tina, personagem que satiriza a classe média na quarentena

As criadoras Isabela Mariotto e Júlia Burnier falam sobre humor e militância nas redes sociais. E Tina conta seus planos para 2021

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Uma jovem antenada com as tendências de seu tempo, que reconhece as lutas que precisa travar e não se cala diante das injustiças. Espiritualidade, arte, brasilidade e militância dentro do apartamento. De preferência com a presença de Maria, a empregada doméstica, mas seguindo todos os protocolos de segurança, é claro! Ela tem consciência social. E carrega uma culpa burguesa.

Essas são algumas das facetas de Tina, uma personagem criada no Instagram em meio à pandemia. O perfil da personagem, que acumula mais de 110 mil seguidores no Instagram, recebe mensagens constantes de pessoas, jovens, de classe média e confinados, que se identificam com as situações vivenciadas por ela.

Tina foi criada pelas atrizes paulistanas Isabela Mariotto e Júlia Burnier – o rosto e a voz de Tina, respectivamente -, para alimentar a vazão criativa em tempos de incertezas.

“A Tina surgiu na pandemia por uma questão da conjuntura mesmo, com muita gente nas redes sociais postando momentos em casa e fazendo mil atividades diferentes, coisas que nunca fariam se não fosse pela quarentena”, explica Mariotto. Se, por um lado, só se falava do coronavírus, acumulavam-se também registros de receitas de pão, estreias na yoga e aulas de alemão. “Começamos a questionar quem é que pode se dedicar a ficar o dia inteiro fazendo esse tipo de coisa.”

Tina é multifacetada: é artista, empresária, intelectual. E sempre atenta às formas de se posicionar em relação às causas. Destruição na Amazônia? Um filtro no Facebook é sinal de repúdio e indignação. Por mais que haja identificação, a imagem caricata da jovem performática e cercada de privilégios falando sobre injustiças faz rir. E a intenção não era outra.

Isabela Mariotto e Júlia Burnier, as criadoras de Tina (Foto: Caio Falcão/Arquivo Pessoal)

“O humor tem esse poder. Ao rir, você se distancia da situação ou, ao rir de outro, você se percebe naquela situação. Percebe que as atitudes que toma na sua vida na verdade não são grandes atitudes”, analisa Mariotto. “Esse lugar do que ‘pode’ ou ‘não pode’ é muito rico. Ela é muito simpática e legal, ela é sedutora, maravilhosa, alegre, mas ao mesmo tempo, tem limitações”.

“Essa forma de rir de si e não rir do outro é uma forma interessante de autocrítica”, complementa Burnier. A Tina tem muitas boas intenções, mas muitas contradições. Fazer algo pequeno só para estar com a consciência tranquila, porque a gente sabe que fazer militância séria, dá muito mais trabalho”.

Como exemplo, Isabela Mariotto cita a convivência entre os artistas nas redes sociais. Há, segundo ela, certa pressão por se posicionar constantemente – ou simplesmente expor as próprias posições.

“Em muitos momentos, quando tem uma grande mobilização, eu me sinto pressionada a postar algum filtro ou imagem mostrando que apoio aquela luta. Ao mesmo tempo, sei de que lado estou e que não preciso deixar isso claro para 500 amigos que me seguem.”

A contradição de Tina, aponta Julia Burnier, humaniza o ambiente hostil das redes sociais. Nada mais justo, portanto, que a personagem não se proponha a indicar um caminho único para transformar discursos em mudança.

“É um perfil de humor. Consegue indicar, no máximo, uma negativa, ou seja, que certas atitudes individuais não são capazes de mudar algo estrutural. Mas a negativa também constrói”, diz. 

Com uma disputa política pela vacina contra a Covid-19, uma quarentena sem data para acabar e mil variações de pão a explorar, o Brasil de 2021 ainda reserva enormes contradições para Tina. “Sempre haverá material para fazer humor no Brasil”, pontua Mariotto. 

Uma entrevista com Tina

Tina, que já expressou seu desejo de lotar as bancas com a revista CartaCapital para uma sociedade mais justa, abriu uma brecha em sua atarefada agenda para responder a três perguntas da reportagem.

Abra seu aplicativo de reflexões, pegue um caderno – ou seu planner com mandala lunar -, e confira:

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