A morte rende votos

Bolsonaro atiça a barbárie policial na certeza de que irá colher dividendos eleitorais. A esquerda, por sua vez, não sabe como lidar com o fenômeno

Parado por uma corriqueira infração de trânsito, Genivaldo de Jesus Santos foi arrastado para uma câmara de gás improvisada no camburão da viatura. Parou de se debater após dois minutos, já sem vida - Imagem: Reprodução TV e André Borges/AFP

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Moradores escrachados, casas metralhadas durante a madrugada, com as famílias ainda dormindo, sangue vertendo pelas escadarias, cadáveres retalhados por tiros e facadas. A violenta operação policial na Vila Cruzeiro, Zona Norte do Rio de Janeiro, resultou na morte de 23 “suspeitos”, nenhum deles julgado pela Justiça. Quando os disparos de fuzis silenciaram, familiares das próprias vítimas tiveram de carregar os corpos para o Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, que precisou montar uma força-tarefa para atender à inesperada demanda. Com as geladeiras do necrotério lotadas, os sacos pretos foram acomodados no chão.

Na mesma semana, as cenas do brutal assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, asfixiado até a morte em uma câmara de gás improvisada em uma viatura da Polícia Rodoviária Federal, correram o mundo. Por conta de uma prosaica infração de trânsito – conduzir uma moto sem capacete, algo que um certo capitão não se cansa de fazer –, o motociclista de 38 anos foi parado pelos agentes em Umbaúba, litoral de Sergipe, e resistiu à autuação. Foi o que bastou para ser agredido, algemado, arrastado e atirado à força no camburão.

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1 comentário

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 8 de junho de 2022 03h40
Bandido bom é bandido morto, diz o ditado fascista que Bolsonaro herdou dos governos pós-ditadura militar e que todo agente de segurança pública despreparado utiliza , além dos programas de rádio e televisão sensacionalistas que defendem a pena capital de modo oblíquo e terceirizada nesse país. As vítimas, em sua maioria, são sempre pessoas pobres e negras, num processo de depuração e higienização social. A pobreza e a negritude são interpretadas e confundidas com criminalidade por esses agentes públicos. Bolsonaro sequestrou e sabotou a hierarquia das polícias militarizadas federais e estaduais para si, e, com o seu mau exemplo de truculência incita o ódio e os índices de mortalidade dessas populações ressoam lá fora e envergonham ainda mais a imagem do país. Os últimos casos de chacina registrados, por incrível que pode parecer, não provoca manifestação popular contra esses atos de violência, mas de uma espécie de resignação por parte da sociedade. Essa passividade da população pode indicar um certo apoio inconsciente em relação a parte do eleitorado que se identifica com a barbárie proposta por Bolsonaro e políticos que o seguem. O país precisa, urgentemente, de uma revolução para a mudança de mentalidade em relação a segurança pública. Uma espécie de intolerância à intolerância tolerância zero no combate ao crime, visto que o Estado brasileiro, quando se desvia da sua função de proteger a sociedade e reprime essa mesma sociedade é o maior e mais covarde criminoso através de seus agentes públicos.

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O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

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