Sociedade

A Internet ajuda, mas não faz revoluções

Dois ativistas, uma contra a ditadura na Síria e outro do Occupy Wall Street, entendem que a mobilização online ajuda, mas não basta para mundo o mundo

Durante palestra na Campus Party, ativistas falam sobre a importância da web para manifestações de protesto Foto: Divulgação
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Telefones celulares. Esta foi a “arma” que a ativista síria Leila Nachawati pediu aos participantes do Campus Party para que mandassem aos manifestantes de seu país, que vive forte tensão política sob a ditadura de Bashar al-Assad. Em tempos de redes sociais como ferramentas de articulação, e nos quais xingar muito no Twitter já é uma prática corriqueira, a blogueira garante que manifestar opiniões na rede é tarefa fundamental para o combate à repressão e aos regimes autoritários. Mas ela alerta para uma hipervalorização desse fato: “A luta é feita com sangue, não com a web. A realidade não é um videogame, tem sofrimento, pessoas sendo torturadas e massacradas”, declarou.

Leila Nachawati foi uma das participantes da mesa “Uma revolução em rede: os movimentos sociais no século XXI”, realizada no Campus Party no última sexta-feira 10. Ao lado dela estavam Olmo Galvéz, ativista do movimento espanhol Democracia Real Ya!, e Charles Lenchner, do Occupy Wall Street, na última sexta-feira 10.

Como quebrar o silêncio na Síria


Leila narrou alguns dos episódios horríveis que a Síria enfrenta sob o regime de Bashir al-Saad, como o caso de um ativista que filmava um protesto e teve os olhos arrancados, ou o do cartunista Ali Ferzat, cujas mãos foram quebradas depois de ele ter publicado charges que criticavam a ditadura. “São metáforas, avisos do governo para as pessoas pararem com as manifestações”, explica.

A ativista síria ainda afirma que grande parte da população nem fica sabendo destes fatos: o governo controla a mídia local e a entrada de jornalistas estrangeiros é estritamente proibida. Justamente por isso a rede se tornou essencial: “Acredito que o papel da tecnologia foi o de espalhar a revolução de um lugar para outro de forma rápida. Antes da internet, milhares de pessoas foram assassinadas pelas autoridades e o mundo não tomou conhecimento disso. Dessa vez, havia fotos e vídeos que mostravam os acontecimentos”.

“Nós precisamos de solidariedade global, de quebrar a barreira de silêncio, não esperar apoio dos governos. Escreva em algum blog, perfil de Twitter a respeito do assunto, revolte-se!”, enfatizou.

‘Mudar o mundo é muito mais excitante do que qualquer jogo de computador’

“Quem aqui já falou sobre corrupção?”, perguntou Charles Lencher assim que tomou o microfone. A maioria da plateia respondeu afirmativamente. E o ativista emendou: “E quem participação da edição brasileira do Occupy?” Os braços levantados rarearam.

Diante de um público nem tão engajado assim, o ativista do movimento Occupy Wall Street tratou de realizar uma palestra didática. O primeiro ensinamento, bastante simples: não se apaixone por você mesmo. “Nós temos que nos apaixonar por aquilo que o mundo pode ser”, afirmou.

Lencher falou sobre a mobilização online do movimento e explicou que as pessoas precisam entender a importância de cada um se ver como um agente livre, capaz de divulgar suas ideias, mesmo sem ser escoltado por uma organização. “Qualquer um pode ser um agente, mas para isso é preciso que a gente se conecte, agregue idéias, conheça pessoas. Você pode até não conhecer quem que está ao seu lado, mas pode ser que vocês compartilhem opiniões. Por que não juntar essas ideias?”

Ainda, o ativista deixou claro que o sucesso do Occupy Wall Street é em grande parte fruto de uma prática incomum em grandes corporações: não há juízo de valor. Os integrantes do movimento não impedem que ninguém tome alguma atitude, mesmo que pareça que ela não dará certo. “Nós achamos que os erros ensinam tanto quanto os acertos. Tudo deve ser tentado, depois vemos se deu certo ou não”, disse.

“Mas não fique prestando tanta atenção no futuro, você tem que agir para que as mudanças aconteçam”, ressalvou. A ideia de Charles Lencher é trazer o espírito de luta que permeia a rede para o mundo real. “Muitos cidadãos foram atingidos por balas de borracha e tiveram sangue derramado durante os protestos. É preciso se mobilizar online, mas, na sequência, também é necessário sair às ruas para que essa mobilização surta efeito”, conclui, mostrando um slide que garantia que mudar o mundo é muito mais excitante do que qualquer jogo de computador.

Telefones celulares. Esta foi a “arma” que a ativista síria Leila Nachawati pediu aos participantes do Campus Party para que mandassem aos manifestantes de seu país, que vive forte tensão política sob a ditadura de Bashar al-Assad. Em tempos de redes sociais como ferramentas de articulação, e nos quais xingar muito no Twitter já é uma prática corriqueira, a blogueira garante que manifestar opiniões na rede é tarefa fundamental para o combate à repressão e aos regimes autoritários. Mas ela alerta para uma hipervalorização desse fato: “A luta é feita com sangue, não com a web. A realidade não é um videogame, tem sofrimento, pessoas sendo torturadas e massacradas”, declarou.

Leila Nachawati foi uma das participantes da mesa “Uma revolução em rede: os movimentos sociais no século XXI”, realizada no Campus Party no última sexta-feira 10. Ao lado dela estavam Olmo Galvéz, ativista do movimento espanhol Democracia Real Ya!, e Charles Lenchner, do Occupy Wall Street, na última sexta-feira 10.

Como quebrar o silêncio na Síria


Leila narrou alguns dos episódios horríveis que a Síria enfrenta sob o regime de Bashir al-Saad, como o caso de um ativista que filmava um protesto e teve os olhos arrancados, ou o do cartunista Ali Ferzat, cujas mãos foram quebradas depois de ele ter publicado charges que criticavam a ditadura. “São metáforas, avisos do governo para as pessoas pararem com as manifestações”, explica.

A ativista síria ainda afirma que grande parte da população nem fica sabendo destes fatos: o governo controla a mídia local e a entrada de jornalistas estrangeiros é estritamente proibida. Justamente por isso a rede se tornou essencial: “Acredito que o papel da tecnologia foi o de espalhar a revolução de um lugar para outro de forma rápida. Antes da internet, milhares de pessoas foram assassinadas pelas autoridades e o mundo não tomou conhecimento disso. Dessa vez, havia fotos e vídeos que mostravam os acontecimentos”.

“Nós precisamos de solidariedade global, de quebrar a barreira de silêncio, não esperar apoio dos governos. Escreva em algum blog, perfil de Twitter a respeito do assunto, revolte-se!”, enfatizou.

‘Mudar o mundo é muito mais excitante do que qualquer jogo de computador’

“Quem aqui já falou sobre corrupção?”, perguntou Charles Lencher assim que tomou o microfone. A maioria da plateia respondeu afirmativamente. E o ativista emendou: “E quem participação da edição brasileira do Occupy?” Os braços levantados rarearam.

Diante de um público nem tão engajado assim, o ativista do movimento Occupy Wall Street tratou de realizar uma palestra didática. O primeiro ensinamento, bastante simples: não se apaixone por você mesmo. “Nós temos que nos apaixonar por aquilo que o mundo pode ser”, afirmou.

Lencher falou sobre a mobilização online do movimento e explicou que as pessoas precisam entender a importância de cada um se ver como um agente livre, capaz de divulgar suas ideias, mesmo sem ser escoltado por uma organização. “Qualquer um pode ser um agente, mas para isso é preciso que a gente se conecte, agregue idéias, conheça pessoas. Você pode até não conhecer quem que está ao seu lado, mas pode ser que vocês compartilhem opiniões. Por que não juntar essas ideias?”

Ainda, o ativista deixou claro que o sucesso do Occupy Wall Street é em grande parte fruto de uma prática incomum em grandes corporações: não há juízo de valor. Os integrantes do movimento não impedem que ninguém tome alguma atitude, mesmo que pareça que ela não dará certo. “Nós achamos que os erros ensinam tanto quanto os acertos. Tudo deve ser tentado, depois vemos se deu certo ou não”, disse.

“Mas não fique prestando tanta atenção no futuro, você tem que agir para que as mudanças aconteçam”, ressalvou. A ideia de Charles Lencher é trazer o espírito de luta que permeia a rede para o mundo real. “Muitos cidadãos foram atingidos por balas de borracha e tiveram sangue derramado durante os protestos. É preciso se mobilizar online, mas, na sequência, também é necessário sair às ruas para que essa mobilização surta efeito”, conclui, mostrando um slide que garantia que mudar o mundo é muito mais excitante do que qualquer jogo de computador.

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