Sociedade

A imprensa não é o futuro, mas também não é o passado

Os últimos números dos EUA sobre o declínio dos jornais podem ser preocupantes, mas analistas e executivos começam a se desesperar com o digital

Homem lê jornal em Dar es Salaam, na Tanzânia. Qual o futuro da imprensa?
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Por Peter Preston

Uma vez por ano, a Associação de Jornais da América apresenta seus números de desempenho geral, assim uma vez por ano podemos ver, mais claramente que nunca, o rumo que está tomando a indústria da imprensa americana (de enorme influência em termos da expectativa de desempenho na Grã-Bretanha e na Europa). A resposta atual, para 2013 assim como para todos os anos desde 2007: descendente.

A publicidade impressa está 10% abaixo do ritmo anterior. Podem-se encontrar alguns aumentos – em paywall (cobrança por conteúdo) e dinheiro de assinaturas em geral, mais patrocínio e dispositivos aliados –, mas o resultado final ainda fica 2,8% abaixo do de 2012. E a estatística que chega com um susto adicional mostra a publicidade digital, que já foi o suposto ingrediente-maravilha da futura prosperidade, estagnou: na verdade, no mesmo nível em que estava em 2007. Juntos, os anúncios impressos e digitais chegam a 21 bilhões de dólares, contra 49 bilhões há menos de uma década. Não há luz na escuridão.

Talvez tenha havido uma certa mistura de categorias em meio ao empacotamento e desempacotamento. Possivelmente. Mas Michael Wolff, guru insistente e, até cinco minutos atrás, colunista do MediaGuardian, gosta de nadar contra a corrente, provocando ondas conforme avança. E lá vai ele de novo. A pergunta crucial – não apenas para Wolff, aliás, mas para as diretorias de jornais em toda parte, com base nesses números – é se essa corrente em particular continuará para sempre.

Descobrimos uma maneira de fazer o online recompensar? “Estou profundamente pessimista. Sinto que o segredo não foi remotamente revelado aqui. Trata-se da transição realmente interessante que está acontecendo no setor de publicidade. A publicidade é tão significativamente menos eficaz no mundo digital [que] criamos um mundo que não pode pagar por si mesmo.”

Falando em declínio, e a imprensa? “Nós no setor de imprensa desistimos. [Mas] a publicidade provavelmente funciona melhor impressa do que em qualquer outra mídia; ela representa o compromisso definitivo… Isso aconteceu porque as agências de publicidade ganhavam mais com outros tipos de publicidade. Hoje ninguém sabe criar anúncios impressos.”

O problema talvez esteja aí. A revolução digital segue animadamente, atrás de uma moda, enquanto outros sites não pertencentes a jornais colhem as riquezas. Mas a imprensa ainda pode ser um salvador parcial, pelo menos temporariamente?

Escutem, na Grã-Bretanha, a Steve Auckland, novamente encarregado dos títulos do diário gratuito Metro e acalmando o entusiasmo de seu antecessor por operações digitais, que talvez tivessem “ido além da conta”. “Noventa por cento ou mais de nosso dinheiro vem da imprensa”, ele diz na última edição de InPublishing. Como você divide seus recursos para ser digital quando isso significa “tirar um monte de custos que tendem a vir de sua operação impressa”? É um enfraquecimento artificial, uma aceleração para a queda.

Exatamente, diz Diane Kenwood, uma das mais experientes editoras de revistas da IPC, algumas páginas depois. “A imprensa deve ficar a par com o resto da indústria de criação de contenção, e não ficar para trás choramingando… Ainda há muito dinheiro a se ganhar com a venda de revistas: 2 bilhões de libras são compradas todos os anos, das quais 2,6 milhões são vendidas no Reino Unido todos os dias. Elas são lidas por 87% da população britânica.”

Agora, de certa maneira, não há nada muito surpreendente em tudo isso. É simplesmente o dedo que se move para a frente e para trás e depois em círculos. Na última década, mais ou menos, vimos uma nova infraestrutura noticiosa baseada só em publicidade seguida por uma corrida para os paywalls; a adoção dos tablets como sendo o futuro, seguida por uma corrida para os celulares.

Ninguém deixa de ver a mudança, é claro. É quase possível apalpá-la. Esses resultados americanos não podem ser descartados. Mostram uma indústria que ainda não capitalizou o digital (assim como foi apanhada em uma recessão mais ampla). Mas eles ainda são apenas parte da história: não afetam todos os jornais ou todos os países de maneira semelhante – ou revistas ou livros. Continua sendo uma incrível obra em progresso. Que resultados os últimos visionários estarão apregoando em 2017? E o que Wolff dirá realmente quando o fizerem? A previsão mais segura, infelizmente, é que será algo totalmente diferente.

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