Sociedade
A história da cantina
Uma correção ao verdadeiro significado da palavra ‘cantina’
A ignorância nativa é clássica. Quando me permito levar meu verbo às universidades, nunca deixo de me espantar com a crassa incultura dos estudantes. Não sabem o que aconteceu no Brasil ontem e anteontem. Nem se fale do passado próximo e remoto. Seus mestres também não se distinguem em matéria de conhecimento. Alguns eminentes professores de Direito sustentam, por exemplo, que a Itália nos anos setenta era dominada por um governo de extrema-direita, a justificar a resistência de heróis da liberdade como Cesare Battisti, de fato um ladrãozinho do arrabalde romano capaz de descobrir razões ideológicas para assassinar quatro inocentes.
Leio que acaba de falecer Pier Luigi Grandi, o Piero da célebra cantina. Eu o conheci como garçom da segunda cantina de Giovanni Bruno, ficava, priscas eras, no viaduto Martinho Prado, quase em frente à mais antinga sinagoga paulistana. Diz a cultíssima Folha de S.Paulo que foi ele o precursor das antigas cantinas italianas. Italianas, mas haveria outras? Esclareço. Cantina, em vernáculo peninsular, significa adega, subsolo. Na Itália, o gênero de restaurante que aqui chamamos cantina é trattoria. Ocorre que os primeiros imigrantes instalaram suas trattorie em subsolos do Brás, da Mooca e do Bexiga, chamavam-nos cantine e o nome ficou.
Illo tempore nem o pai do Piero tinha nascido.
Últimos artigos de Mino Carta:
A ignorância nativa é clássica. Quando me permito levar meu verbo às universidades, nunca deixo de me espantar com a crassa incultura dos estudantes. Não sabem o que aconteceu no Brasil ontem e anteontem. Nem se fale do passado próximo e remoto. Seus mestres também não se distinguem em matéria de conhecimento. Alguns eminentes professores de Direito sustentam, por exemplo, que a Itália nos anos setenta era dominada por um governo de extrema-direita, a justificar a resistência de heróis da liberdade como Cesare Battisti, de fato um ladrãozinho do arrabalde romano capaz de descobrir razões ideológicas para assassinar quatro inocentes.
Leio que acaba de falecer Pier Luigi Grandi, o Piero da célebra cantina. Eu o conheci como garçom da segunda cantina de Giovanni Bruno, ficava, priscas eras, no viaduto Martinho Prado, quase em frente à mais antinga sinagoga paulistana. Diz a cultíssima Folha de S.Paulo que foi ele o precursor das antigas cantinas italianas. Italianas, mas haveria outras? Esclareço. Cantina, em vernáculo peninsular, significa adega, subsolo. Na Itália, o gênero de restaurante que aqui chamamos cantina é trattoria. Ocorre que os primeiros imigrantes instalaram suas trattorie em subsolos do Brás, da Mooca e do Bexiga, chamavam-nos cantine e o nome ficou.
Illo tempore nem o pai do Piero tinha nascido.
Últimos artigos de Mino Carta:
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.



