Sociedade

A fé argentina na busca pelo título

Desde a “mão de Deus” de 1986, futebol e religião se misturam de jeito especial na Argentina. Na Copa de 2014, a relação continua

Com a máscara do papa Francisco, argentino celebra a vitória de sua seleção diante da Holanda, em São Paulo, na quarta-feira 9
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Para a final contra a Alemanha, o argentino Gabriel Pici, de Mar del Plata, aposta no poder divino. Há semanas ele acompanha a equipe argentina pelo Brasil, a bordo de um trailer. “Sem o papa, não vamos conseguir”, profetiza. “Nós queremos que Francisco venha!”

Gabriel já percorreu 12.500 quilômetros durante a Copa do Mundo. Com a viagem final até o Rio de Janeiro, serão 13 mil quilômetros. Mas o que são essas distâncias terrenas em comparação com os poderes sobrenaturais de um representante argentino de Cristo?

Desde a eliminação do Brasil, está claro para os “hermanos” do país vizinho: Deus abandonou os brasileiros, mas o papa de Buenos Aires está do lado dos argentinos. “Não queremos ver a presidente Cristina Fernandez de Kirchner na final, mas o rosto do papa nos ajuda”, diz, convencido, o torcedor de 26 anos.

De fato: no Rio, a máscara de Francisco já se tornou um sucesso de vendas entre os torcedores argentinos. Afinal de contas, não é esta a primeira vez que a Argentina tenta vencer uma Copa do Mundo com apoio celeste.

Durante o Mundial de 1986, no México, a “mão de Deus” deu um empurrãozinho para os argentinos alcançarem o título. Na verdade, a mão foi de Diego Maradona. Depois de, naquele 22 de junho, ter posto a Argentina nas semifinais, o craque comentou: “Foi um pouco com a cabeça de Maradona e um pouco com a mão de Deus.”

Nesta Copa do Mundo, os argentinos querem confiar no papa “deles”. Até porque Jorge Maria Bergoglio é um torcedor fervoroso. E no Rio de Janeiro, durante a Jornada Mundial da Juventude, ele já realizou um grande milagre: em apenas uma semana, conseguiu transformar em amizade a histórica rivalidade entre argentinos e brasileiros.

Maradona, Messi e Francisco: na Argentina, futebol e religião estão conectados por um laço muito especial. Heróis dos gramados são reverenciados como santos, e os torcedores peregrinam até as cidades onde se realizam os jogos de seu time com o mesmo fervor que fiéis rumo a santuários.

Desde a vitória sobre a Holanda, até o goleiro argentino Sergio Romero goza status de santo: numa montagem fotográfica, ele aparece com os braços esticados, com as vestes da estátua do Cristo Redentor do Rio de Janeiro. Romero, o salvador da pátria argentina?

Apesar dos sonhos celestiais, o torcedor Bruno Remondino mantém os pés no chão. “Eu não acho que o papa virá para a final”, avalia. “Porque, se os argentinos ganharem, todo o mundo vai dizer que a vitória foi do papa.” E assim a lenda da “mão de Deus” também seria ressuscitada.

Entre uma cidade brasileira e outra, o argentino viaja com amigos no trailer “Barrilete Cósmico” desde o início da Copa, numa aventura no asfalto que pode ser acompanhada pelas redes sociais. Bruno tem certeza de que o pontífice vai acompanhar a final lá de Roma. “O papa existe para todos, não só para os argentinos”, recorda. Sendo assim, até mesmo a Alemanha, a adversária da Argentina na final da Copa, vai poder apelar para o papa pela vitória.

  • Autoria Astrid Prange (ip)
  • Edição Augusto Valente / Rafael Plaisant

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