Sociedade
A agropecuária com Bolsonaro
Basta verificar o mapa de votação das eleições. Por que uma região céu de azul-anil e outra vermelha? Porque a última sabe de onde o sangue escorrerá


Bem, os indicativos já estavam todos dados. Vista assim do alto ou com a lupa, era possível perceber o aparelhamento ideológico do capitão-reformado, que disso nunca passará, e seu gari econômico, Paulo Guedes. A escolha para a agropecuária brasileira prometia manter os mesmos inconvenientes e privilégios do passado.
Mas, confessemos, há nisso algumas considerações pregressas, de nossa lavra, ainda que as pensemos menos graves. Não são, pois de moto próprio ao relativizar a força do Acordo Secular de Elites.
Começa no relativo abandono da deposta presidente, Dilma Rousseff, aos movimentos sociais reivindicatórios dos campos rurais. Abdicou de programas de apoio à agricultura familiar em favor de campeões de “nada além de um minuto ou de ilusões neoliberais”. Pensava assim manter o mandato até o ponto Joaquim Levy, sem imaginar o quanto eles são farinha do mesmo saco.
Continuou-se no pós-golpe. A ilegitimidade de Temer aprofundou o desastre ao descaracterizar o Desenvolvimento Agrário, como ministério autônomo. Passou-se a trabalhar, sob lobby ruralista e das multinacionais, em incursões para afrouxamento da venda de terras a estrangeiros, liberar agrotóxicos fora dos controles sanitários, inação do ministério do Trabalho em tratamentos patronais escravos, demarcação de terras indígenas e quilombolas sem intervenções de INCRA e FUNAI.
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Para fora, baixavam-se calçolas em retrocessos nos acordos mundiais de preservação ambiental, postergados pela camarilha atual de raposas velhas para efetivação pela matilha de lobos que chegava.
Rapidamente. Basta verificar o mapa de votação das últimas eleições. Por que uma região céu de azul-anil e outra vermelha? Porque a última sabe de onde o sangue escorrerá.
Um senão: burros, inabilitados, vaidosos, donos de forças armadas pífias, quando comparadas à nossa extensão territorial e potencial de riqueza, os parvos costumam não acreditar que fora de seus umbigos existe uma correlação plena de diversidades e interesses, completamente à par das tendências políticas, econômicas, sociais e tecnológicas atuais, que estão vendo o Brasil de Moro, Guedes e Bolsonaro, como uma grande regressão oportunista e risível.
Não mexendo com a China em sua enviesada política, se darão bem por algum tempo. Não muito. Tendências direitistas nas Américas do Sul e Central não são mais bem-vistas como no passado. As hostilidades prometidas contra Venezuela e Cuba não serão toleradas na comunidade internacional, e muito a menos pela China em sua volúpia de conquistas. Vide a reação da ONU à oportunista, injusta e sem provas prisão de Lula, hoje em dia explícita na cínica indicação de Sérgio “Premiado” Moro.
Tecnologicamente, vivo afirmando que, em proporção, pouco evoluiremos sobre EUA, Argentina e, mesmo certas regiões do continente africano. A China mapeia e cadastra clientes atuais e futuros, como presas fáceis do neoimperialismo. Mas, isto, é assunto futuro livro: “Agricultura sem nome”.
Quem for pobre e votou 17 espere nada, pois, de Bolsonaro, campo ou cidade. Hoje em dia, o golpe engendrado, a partir de 2013, quando um movimento de ruas claramente cooptado pela direita e extrema ingenuidade nossa, reificou os interesses dos mais ricos. Nada além.
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