Sociedade
A abertura dos Jogos Olímpicos do Rio
O personagem central teria que ser o povo com suas cores regionais e a inclusão de um país que se redescobriu
No carnaval da Bahia, o cineasta norte-americano Spike Lee perguntou a Marta Suplicy, Ministra da Cultura, como estava sendo planejada a abertura dos Jogos Olímpicos Brasileiros.
Lembrou, em 2008, a abertura dos Jogos Olímpicos da China foi entregue ao diretor de cinema Zhang Yimou (“Lanternas Vermelhas”, “Nenhum a Menos”, “Herói” e “O Clã das Adagas Voadoras”). Investiram-se US$ 100 milhões em um espetáculo marcante, que lançou a imagem da nova China para o mundo. Foram convocados especialistas em danças, fogos de artifícios e mostrou-se, em um espetáculo inesquecível, os muitos séculos de civilização chinesa. O espetáculo foi assistido por 4 bilhões de pessoas.
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Depois, em 2012, a abertura dos Jogos Olímpicos de Londres ficou sob responsabilidade de Danny Boyle, premiado diretor de filmes como “Quem Quer Ser um Milionário?”, “Trainspotting – Sem Limites”, “127 Horas”, “Extermínio”, entre outros.
Iniciou-se com um filme de dois minutos com imagens do rio Tâmisa, cenas da vida contemporânea britânica, música de conjuntos de rock. Depois, uma exposição do desenvolvimento econômico e social da Inglaterra até os anos 1960.
De acordo com uma descrição da época, “inicialmente o estádio foi transformado numa imensa área rural com uma representação do famoso monte Glastonbury Tor. Aos poucos, a área verde deu lugar às enormes chaminés de fábricas representando as modificações causadas no país pela Revolução Industrial. Os hinos informais dos quatro países do Reino Unido foram cantados: “Jerusalém” (cantada por um coro ao vivo no estádio), complementada por performances filmadas de “Danny Boy” (na Calçada dos Gigantes, Irlanda do Norte), “Flor da Escócia” (no Castelo de Edimburgo, Escócia) e “Pão do Céu” (na Praia de Rhossili, País de Gales)”.
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Algo surpreso, Lee ouviu de Marta que até agora nada tinha sido pensado em relação aos Jogos Olímpicos do Rio. Pois está na hora de se começar a pensar na cara do Brasil.
Em Salvador, Spike Lee foi conferir os meninos do Olodum, que participaram do celebérrimo vídeo de Michael Jackson. Hoje, adultos musculosos, luzidios e cada vez mais musicais. Na abertura, ele colocaria o Olodum. Mas não poderia deixar de fora os maracatus pernambucanos, o forró nordestino, a chula gaúcha, menos ainda as Escolas de Samba do Rio, os batuques mineiros, a São Paulo cosmopolita.
O personagem central teria que ser o povo com suas cores regionais, celebrando a inclusão de um país que se redescobriu. Por certo haverá espaço para a tecnologia, para os setores modernos, para a eterna sofisticação da bossa nova, para Villa e Jobim.
Mas, de alguma forma, terá que ser mostrado ao mundo a cara do Brasil, nosso modo de ser afetivo, descolado, colocando para desfilar, de braços dados, descendentes de árabes e judeus, de chineses e japoneses, de russos e americanos.
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