Sociedade

Black Power vira fantasia na Black Friday de loja da rede Extra

Campanha que faz caricatura dos negros é alvo de protestos nas redes sociais

De acordo com funcionários, a iniciativa partiu da gerência da loja
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Quatro dias após o feriado da Consciência Negra, funcionários do supermercado Extra, unidade da Frei Caneca, em São Paulo, usaram perucas black power como parte da campanha publicitária da Black Friday, durante a sexta-feira 24. De acordo com os colaboradores do estabelecimento, a iniciativa partiu da gerência.

A reportagem de CartaCapital foi até o local, onde os funcionários dos caixas trajavam o acessório. De acordo com o subgerente da loja, Reginaldo Evangelista, a iniciativa não é uma orientação geral da rede, e surgiu como uma “brincadeira consensual” entre os colaboradores e os gerentes.

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“Em todas as datas comemorativas nós usamos alguns adereços, como óculos coloridos, gravatas, depende de qual é a comemoração. Dessa vez usamos a peruca pra lembrar a Black Friday”, afirma. Evangelista diz ainda não acreditar que a “brincadeira” pode ser considerada racista, visto que funcionários negros também usavam a peruca.

Assim como pintar o rosto de preto – o chamado “black face” – o uso de perucas afro com intenção humorística é ofensivo para muitos, por remeter a estereótipos racistas.  

A denúncia partiu de Cristiane Guterres, cliente do Extra e administradora da página Bem Preta no Facebook, que por meio de uma postagem denunciou o caso.

De acordo com ela, a iniciativa “caricatura as pessoas negras”, o que caracteriza uma forma de opressão. “Homens e mulheres negros ouvem inúmeras ofensas sobre seus cabelos. Ouvimos piadas, somos discriminados, não somos contratados por muitas empresas porque não temos um cabelo comportado”, afirma.

No Twitter, os usuários também questionaram o supermercado sobre a caracterização

Embora criticada nas redes sociais, clientes da loja não estranharam a utilização das perucas. A aposentada Maria*, que passava no caixa em que a funcionária utilizava a peruca, não se incomodou. Outros dois clientes, que preferiram não ser identificados, também não enxergavam racismo na atitude

Por meio de sua assessoria de imprensa, a rede de supermercados afirmou que o caso foi uma ação pontual e que, assim que tomou conhecimento, foi solicitada a sua interrupção imediata.

Leia abaixo a nota na íntegra:  

A rede esclarece que não houve qualquer orientação para a iniciativa retratada e que o caso apontado foi uma ação particular e pontual ocorrida em uma de suas unidades. Assim que tomou conhecimento, solicitou sua interrupção imediata. A loja lamenta pelo ocorrido e desculpa-se por qualquer ofensa causada.

A rede reitera que segue diretriz estratégica da companhia para uma conduta de combate a todo e qualquer tipo de discriminação, promovendo a inclusão de todos os públicos em seu conceito mais amplo. Isso é reiterado pelo compromisso assumido internamente no seu Código de Ética e publicamente com a Coalização Empresarial de Equidade Racial e de Gênero.

* Nome fictício. A entrevistada preferiu não ser identificada

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