Sociedade

1,2 milhão de mulheres sofreram violência entre 2010 e 2017, diz levantamento

Compilado do Instituto Igarapé mostra que mais de 37 mil mulheres foram assassinadas em sete anos no Brasil, número ainda subnotificado

Mulheres fazem ato na rodoviária do Plano Piloto, em Brasília, para denunciar o feminicídio no Distrito Federal (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
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Cerca de 1,23 milhão de mulheres foram vítimas de algum tipo de violência entre 2010 e 2017 – das quais mais de 37 mil foram mortas nesse mesmo período. Os dados são resultado de um levantamento inédito feito pelo Instituto Igarapé e compilados na plataforma EVA (Evidências sobre Violências e Alternativas para Mulheres e Meninas), lançada nesta segunda-feira 25 por conta do Dia Internacional para Eliminação da Violência contra Mulheres.

O levantamento aponta que a violência física é a causa de 59% dos registros de agressão de gênero no Brasil – um percentual próximo aos índices da Colômbia e do México, que também foram analisados no estudo. “A violência contra a mulher tem origem na desigualdade de gênero, então nós queríamos saber como estavam esses três países em relação aos mecanismos de defesa”, diz Renata Giannini, pesquisadora sênior do Igarapé.

A comparação permite observar que, enquanto as agressões físicas por força corpórea são prevalentes no Brasil, o uso de armas brancas (como facas) na Colômbia assume o primeiro lugar do modo como as violências são cometidas.

“Normalmente, principalmente nos casos de feminicídio, houve uma série de agressões cometidas contra as mulheres anteriormente. Se essas violências fossem melhor identificadas e essas mulheres fossem melhor acolhidas, quem sabe a gente não pudesse protegê-las melhor antes do crime acontecer”, analisa Giannini.

Em território nacional, o Acre desponta como o local que mais concentrou os casos de agressão no País em 2017, já que, a cada 100 mil mulheres agredidas, 419 eram do estado. Ele aparece na lista em toda a série contabilizada desde 2010, e divide protagonismo com diferentes estados a cada ano.

É possível identificar quais foram as principais formas de violência em uma base de mais de nove mil municípios dos três países, apesar da dificuldade para sistematizar os dados coletados. O Instituto Igarapé utiliza como base informações repassadas pelo sistema de saúde brasileiro e pelos números contabilizados pela segurança pública, mas ainda há dificuldade na sistematização dos números para a ampliação de políticas mais efetivas, conta Giannini.

As informações do SUS vão até 2017, enquanto as da segurança pública possuem registros em 2018. Porém, enquanto o sistema de saúde aponta que 66% das vítimas de homicídios em 2017 eram mulheres negras, apenas três estados enviaram ao Instituto os dados de segurança pública referentes à diferença racial no feminicídio. A falta de transparência é também uma medida urgente a ser reparada a fim de combater os valores crescentes, opina a pesquisadora.

 

O Instituto ainda lançará uma base de iniciativas pela redução da violência contra a mulher que conta, até o momento, com 280 projetos no Brasil. Apenas 2% dos programas são efetivamente avaliados pelo poder público, o que coloca em xeque a amplitude de ações que devem ir além das campanhas educacionais e de conscientização.

“Quando a gente entende quais são esses padrões, a gente consegue ter iniciativas focadas naqueles públicos. O impacto que a campanha vai ter em mulheres negras, mulheres brancas ou indígenas é diferente. Temos que entender as nuances”, diz Giannini.

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