Saúde

Viver mais e melhor

Em entrevista, o oncologista Fernando Maluf explica como a terapia hormonal pode ajudar a controlar o câncer de próstata

"Tanto o câncer quanto os tumores benignos têm como alimento a testosterona", afirma o especialista
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Um em cada seis homens ­terá câncer de próstata durante sua vida. Felizmente, a maioria é detectada em fase em que o tratamento local, quer seja por cirurgia, quer seja por radioterapia, consegue controle eficiente e cura dos pacientes.

Por outro lado, um terço dos doentes que recebem esse diagnóstico evolui com disseminação da doença, metástases pelo corpo, principalmente nos ossos. A qualidade de vida é comprometida, com dor e desconforto grande. Para resolver essas situações, a medicina apresentou avanços incríveis. Não passa um mês sem que recebamos informações sobre estudos clínicos que elevaram a expectativa e a qualidade de vida dos pacientes com tumores de próstata.

Sempre que ouvimos falar de câncer e metástases, surge na nossa mente a imagem da quimioterapia clássica. Mas, para o câncer de próstata, o controle hormonal pode apresentar eficácia impressionante. Há poucos dias, foi publicado na revista médica New England Journal of Medicine um estudo do hospital de câncer Memorial Sloan-Kettering, em Nova York, que relata os resultados animadores com uma nova droga, a enzalutamida. Conversamos com o doutor Fernando Maluf, chefe da Oncologia Clínica do Hopital São José, em São Paulo, sobre o impacto dessa novidade.

CartaCapital: Manipular os hormônios em pacientes é uma novidade?


Fernando Maluf: Não. Diferentemente de outros tumores malignos, o câncer de próstata tem como tratamento principal a hormonioterapia. Um médico inglês, John Hunter, em 1786, ao remover os testículos de animais observou redução significativa do volume da próstata. Mas, somente em 1930, três investigadores americanos descobriram que a remoção dos testículos causava a eliminação da testosterona do corpo e, mais adiante, do câncer.

CC: Como se explicam esses resultados?


FM: Tanto o câncer quanto as células benignas normais da próstata têm como “alimento” principal a testosterona. No caso do câncer de próstata, esse estímulo hormonal é tão intenso, como jogar “­álcool no fogo”. As células passam a crescer e a multiplicar-se de forma intensa, aumentando as chances de causar metástase.

CC: Bastaria remover a produção hormonal dos testículos?


FM: Não. Os testículos, apesar de serem a principal, não são a única fonte de hormônio masculino do corpo.

CC: Como funciona a hormonioterapia?


FM: Ao “cortar” a testosterona produzida nos testículos, as células tumorais tendem a morrer ou a ficar paralisadas. Esse efeito benéfico é eficaz em aproximadamente 90% das vezes. Mas o tratamento hormonal, ao eliminar a testosterona, tem capacidade de somente controlar, e não de curar.

CC: Por quê?


FM: As células malignas, com o tempo, “aprendem” a se defender da inibição da produção dos hormônios masculinos e escapam ao controle.

CC: Qual a novidade dessa pesquisa?


FM: O estudo relatou outra forma de hormonioterapia associada a resultados excelentes em pacientes que já haviam falhado em outros tratamentos hormonais e quimioterápicos. Essa droga, chamada enzalutamida, apresenta um mecanismo único que impede os hormônios mas­culinos de entrar na célula tumor e promover o crescimento do câncer de próstata. Essa droga age como um porteiro de prédio: o porteiro é o receptor que deve impedir o bandido (hormônio) de entrar no prédio (na célula), causando um total descontrole. A enzalutamida, testada em 1.199 pacientes, aumentou a sobrevida em praticamente cinco meses, e mais do que triplicou a chance de o tumor não crescer e afetar os ossos, com claro impacto na qualidade de vida dos doentes.

CC: Como é administrada a enzalutamida?


FM: A enzalutamida é uma droga oral e seus efeitos colaterais, em geral, são brandos e transitórios. Baseado nesses resultados extremamente positivos, a enzalutamida há poucas semanas foi aprovada pelo FDA nos Estados Unidos.

CC: Como o senhor vê esses avanços?


FM: Muito positivos. Viver mais e melhor tornou-se não mais um sonho, mas uma realidade para os pacientes com câncer de próstata.

Um em cada seis homens ­terá câncer de próstata durante sua vida. Felizmente, a maioria é detectada em fase em que o tratamento local, quer seja por cirurgia, quer seja por radioterapia, consegue controle eficiente e cura dos pacientes.

Por outro lado, um terço dos doentes que recebem esse diagnóstico evolui com disseminação da doença, metástases pelo corpo, principalmente nos ossos. A qualidade de vida é comprometida, com dor e desconforto grande. Para resolver essas situações, a medicina apresentou avanços incríveis. Não passa um mês sem que recebamos informações sobre estudos clínicos que elevaram a expectativa e a qualidade de vida dos pacientes com tumores de próstata.

Sempre que ouvimos falar de câncer e metástases, surge na nossa mente a imagem da quimioterapia clássica. Mas, para o câncer de próstata, o controle hormonal pode apresentar eficácia impressionante. Há poucos dias, foi publicado na revista médica New England Journal of Medicine um estudo do hospital de câncer Memorial Sloan-Kettering, em Nova York, que relata os resultados animadores com uma nova droga, a enzalutamida. Conversamos com o doutor Fernando Maluf, chefe da Oncologia Clínica do Hopital São José, em São Paulo, sobre o impacto dessa novidade.

CartaCapital: Manipular os hormônios em pacientes é uma novidade?


Fernando Maluf: Não. Diferentemente de outros tumores malignos, o câncer de próstata tem como tratamento principal a hormonioterapia. Um médico inglês, John Hunter, em 1786, ao remover os testículos de animais observou redução significativa do volume da próstata. Mas, somente em 1930, três investigadores americanos descobriram que a remoção dos testículos causava a eliminação da testosterona do corpo e, mais adiante, do câncer.

CC: Como se explicam esses resultados?


FM: Tanto o câncer quanto as células benignas normais da próstata têm como “alimento” principal a testosterona. No caso do câncer de próstata, esse estímulo hormonal é tão intenso, como jogar “­álcool no fogo”. As células passam a crescer e a multiplicar-se de forma intensa, aumentando as chances de causar metástase.

CC: Bastaria remover a produção hormonal dos testículos?


FM: Não. Os testículos, apesar de serem a principal, não são a única fonte de hormônio masculino do corpo.

CC: Como funciona a hormonioterapia?


FM: Ao “cortar” a testosterona produzida nos testículos, as células tumorais tendem a morrer ou a ficar paralisadas. Esse efeito benéfico é eficaz em aproximadamente 90% das vezes. Mas o tratamento hormonal, ao eliminar a testosterona, tem capacidade de somente controlar, e não de curar.

CC: Por quê?


FM: As células malignas, com o tempo, “aprendem” a se defender da inibição da produção dos hormônios masculinos e escapam ao controle.

CC: Qual a novidade dessa pesquisa?


FM: O estudo relatou outra forma de hormonioterapia associada a resultados excelentes em pacientes que já haviam falhado em outros tratamentos hormonais e quimioterápicos. Essa droga, chamada enzalutamida, apresenta um mecanismo único que impede os hormônios mas­culinos de entrar na célula tumor e promover o crescimento do câncer de próstata. Essa droga age como um porteiro de prédio: o porteiro é o receptor que deve impedir o bandido (hormônio) de entrar no prédio (na célula), causando um total descontrole. A enzalutamida, testada em 1.199 pacientes, aumentou a sobrevida em praticamente cinco meses, e mais do que triplicou a chance de o tumor não crescer e afetar os ossos, com claro impacto na qualidade de vida dos doentes.

CC: Como é administrada a enzalutamida?


FM: A enzalutamida é uma droga oral e seus efeitos colaterais, em geral, são brandos e transitórios. Baseado nesses resultados extremamente positivos, a enzalutamida há poucas semanas foi aprovada pelo FDA nos Estados Unidos.

CC: Como o senhor vê esses avanços?


FM: Muito positivos. Viver mais e melhor tornou-se não mais um sonho, mas uma realidade para os pacientes com câncer de próstata.

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