Saúde

Varíola dos macacos: ‘Podemos criar um comitê de emergência’, diz secretário do Ministério da Saúde

Em entrevista ao GLOBO, Arnaldo Medeiros afirma que pasta tenta fechar a compra de 50 mil doses de vacina

Manchas causadas pela varíola dos macacos - Foto: iStock
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Dois dias após a Organização Mundial de Saúde (OMS) aumentar o alerta sobre a disseminação da varíola dos macacos (monkeypox), clasificada como emergência pública de preocupação global, o secretário de Vigilância do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, disse ao GLOBO que a pasta avalia a criação de um comitê para acompanhar a propagação no país.

O governo também tenta fechar a compra de 50 mil doses de vacina para oferecer especificamente a profissionais de saúde e ainda não há previsão de quando poderá ser oferecida à população em geral. A expectativa é que haja vacinação ainda neste ano.

O Brasil apresentou um salto no número de casos na última semana, chegando a 696 ocorrências. Especialistas atribuem a alta à falta de coordenação do Ministério da Saúde em definir uma estratégia nacional contra a doença e de comunicação para alertar a população sobre formas de contato. Uma sala de situação chegou a ser criada no ministério para monitorar a doença, mas ela foi desmobilizada no último dia 13.

Para Medeiros, porém, a pasta tem atuado de forma efetiva em conjunto com as secretarias estaduais e municipais de saúde.

“O ministério tem feito o seu papel na medida de esclarecer a população e de criar o fluxo de maneira pactuada com Conass e Conasems (conselhos de secretários de saúde) para que possamos ter uma vigilância ativa”, disse ele.

Houve uma explosão no número de casos de varíola dos macacos no Brasil. O que o ministério tem feito para conter esse avanço?
O ministério vem monitorando os casos, criou toda essa vigilância junto com todos os estados e municípios, porque na verdade o SUS é tripartite. Criamos todo um fluxo de informação, de como coletar as amostras, como avaliá-las, desde o início publicamos de maneira regular o card informando sobre a doença mesmo quando não havia casos no Brasil. O ministério tem feito o seu papel na medida de esclarecer a população e de criar o fluxo de maneira pactuada com Conass e Conasems (conselhos de secretários de saúde) para que possamos ter uma vigilância ativa.


Porque que o ministério desmobilizou a sala de situação sobre a doença, no último dia 13?

A sala de situação é criada quando nós temos um evento novo, de importância, que a gente verifica que aquela doença possa ter um impacto na saúde pública do Brasil. Qual o motivo de manter uma sala de situação? É entender a doença, como ela se comporta, e construir um fluxo de vigilância. A partir daí, se efetivamente temos a necessidade, podemos criar um comitê de emergência para continuarmos as análises e os estudos e a vigilância desse fato, mas a sala de situação cumpriu o seu papel. Imagina se tivéssemos sala de situação para todas as doenças? A sala de situação é criada com um objetivo.

O senhor mencionou a possível criação de um comitê. Há uma decisão sobre a criação desse grupo?

Nós estamos analisando, à medida que os casos forem aumentando. Hoje temos um departamento que toma conta dessa vigilância. Estamos analisando a possibilidade de criar um comitê para continuarmos ainda mais com a sensibilidade da vigilância nesse sentido.

Especialistas têm reclamado da ausência de uma campanha de conscientização em relação à doença. Há planos na pasta em relação ao tema?

O Ministério da Saúde já está se organizando para lançar uma campanha de conscientização e esclarecimento sobre monkeypox no nosso país. Ela pretende abordar as medidas de controle, de prevenção, os cuidados e o que é a doença. Muitas vezes a população não tem o conhecimento adequado de como a doença aparece, quais as formas de transmissão. Então, na verdade a campanha vai no sentido de esclarecer efetivamente a população sobre o que é a doença.


Sabe-se que o uso de máscara é uma das medidas de proteção. Durante a pandemia de Covid-19, houve controvérsia em relação ao tema. O ministério pretende incentivar o uso de máscara?

Existem várias medidas de prevenção. Para profissionais de saúde que vão lidar com esse paciente é fundamental o uso de máscara, ou contactantes próximos que vão lidar com um paciente infectado.

Há perspectiva de uma campanha ampla sobre o uso de máscara?

Temos a perspectiva de uma campanha ampla de esclarecimento da doença, sobre máscara vamos dar o esclarecimento necessário para o pessoal que mais precisa utilizar a máscara. Até porque a principal forma de transmissão da doença é por contato de pele. Estamos em tratativa com a assessoria de comunicação e com toda organização da pasta e muito em breve essa campanha entra na praça.

Como estão essas tratativas para a compra de vacinas?

Certamente é uma realidade. Existem duas empresas que fornecem a vacina. Uma utiliza um método de aplicação, chamado de escarificação, e outra por uma injeção intramuscular. Nós entendemos que o melhor método é o da injeção intramuscular. O ministério está em tratativa junto a Opas para aquisição de doses para nossa população.

Quando essas doses devem chegar?

A Opas está em tratativas com o fabricante para que o mais breve possível essa vacina esteja disponível para os trabalhadores de saúde e os contactantes. Em uma primeira análise que fizemos com a Opas, estimamos o quantitativo de aproximadamente 50 mil doses iniciais. A depender da capacidade de produção da empresa e da capacidade de aquisição que a Opas possa adquirir para toda a região das Américas.

Qual a expectativa de prazo?

A expectativa é que ainda ocorra neste ano.

Temos dois grandes institutos científicos no Brasil, o Butantan e a Fiocruz. O ministério teve alguma conversa com eles em relação à possibilidade de desenvolvimento de uma vacina própria?

Existe todo uma tratativa de uma transferência tecnológica e, obviamente, o Ministério da Saúde tem nos laboratórios públicos do Brasil, produtores de vacina, grandes parceiros. Se houver interesse desses laboratórios de fazer a transferência tecnológica para aquisição dessa vacina, pelo óbvio o Ministério da Saúde tem todo o interesse em fazer tratativas e adquirirmos essa vacina para garantirmos a qualidade da saúde pública do nosso país.

Houve alguma movimentação no sentido de viabilizar a transferência tecnológica com laboratórios estrangeiros?

Já tivemos uma reunião com a fabricante da vacina. Se discutiu rapidamente essa possibilidade da transferência tecnológica. A produtora da vacina falou sobre uma possibilidade, mas isso ainda está muito no início. Foi um surto que cresceu muito rapidamente e a produtora tem dificuldades de entregar o quantitativo para o mundo inteiro nesse momento. Por isso a gente entende que a parceira com a Opas é mais rápida.

O ministério estuda alguma medida drástica para conter a transmissão da doença, como contenção do fluxo de fronteiras?

Não.

No sábado, o Brasil estava em 7º no número de casos da doença. O ministério faz alguma autocrítica em relação a isso? Tem relação com o atraso da pasta em se mobilizar em relação à doença?

Não vejo que houve atraso com relação à doença. Discordo completamente. O Ministério se organizou do ponto de vista de vigilância epidemiológica quando não havia nenhum caso de monkeypox no nosso país. Pelo contrário. Participamos da Assembleia mundial da Organização Mundial de Saúde em Genebra, e em maio já estávamos com a vigilância ativa, com a forma de notificação de casos, com toda a vigilância necessária. Com relação a isso, o Ministério da Saúde não atrasou absolutamente nada.

A que o senhor atribui o grande número de casos no país?

A doença é transmissível, então certamente as pessoas se contaminaram e estão, sem perceber, contaminando outras pessoas. É uma doença transmissível. Mas não por falta de capacidade de sensibilização para detecção de casos e vigilância. Se temos hoje uma capacidade de identificar o número de casos que o Brasil tem é porque este ministério fez a sua parte, que é fazer uma vigilância sensível e ativa.

Como o senhor avalia o risco que há hoje no Brasil em relação a essa doença?

É uma doença que a gente precisa tomar cuidado. Precisamos ficar atentos aos sinais e sintomas. Ao primeiro sintoma, procurar um médico e a unidade básica de saúde para que ele possa lhe examinar e dar o fluxo necessário para dar o tratamento adequado a esse paciente. Essa é a principal recomendação. Em caso de febre abrupta, manchas no corpo, cansaço, cefaleia, não fique em casa, procure seu médico e a unidade de saúde.

Alguns estados têm relatado falta de testes para diagnóstico da doença. Como está o abastecimento e as conversas do ministério com estados ?

Elas são diárias e constantes. Nós montamos quatro laboratórios de referência no Brasil para fazer os testes e já estamos procurando se existe no mercado empresas que produzam esse teste em maior quantidade para adquirirmos. Os quatro laboratórios estão trabalhando dentro de sua rotina normal, não há sobrecarga no momento.

Secretários estaduais solicitaram apoio à Opas na construção de protocolos em relação à doença e criticam a falta de coordenação do Ministério da Saúde. Qual sua avaliação sobre essas críticas?

Tanto os representantes do Conass quanto do Conasems faziam parte de todo o processo da sala de situação, acompanhavam e participavam de todos os fluxos que foram estabelecidos durante o trabalho. Acredito que tenhamos um fluxo adequado e correto para notificação dos casos, tanto é que temos casos notificados. Se não tivéssemos uma vigilância estabelecida não teríamos os dados para apresentar à população brasileira. Precisamos melhorar, atualizar sempre em qualquer processo, mas a vigilância se encontra ativa e atuante em todos os estados do Brasil.

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