Política

‘Vamos ter que reconstruir um lugar para a saúde mental no ministério’, diz Arthur Chioro, escalado por Lula para a equipe de transição

Ex-ministro diz que novo governo deverá recompor a cobertura vacinal e melhorar a gestão da rede hospitalar no Rio de Janeiro administrada pela pasta

O ex-ministro da Saúde Arthur Chioro. Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
Apoie Siga-nos no

Um dos coordenadores da equipe de Saúde da transição, o ex-ministro da área Arthur Chioro defende como uma das prioridades para o novo governo a reconstrução de uma área para lidar com a saúde mental e a recomposição da cobertura vacinal. Em entrevista ao GLOBO, ele diz ainda que pretende utilizar o relatório final da CPI da Covid para remediar “uma situação de bastante gravidade da rede hospitalar administrada diretamente pelo Ministério no Rio de Janeiro”.

— Existem muitos contratos de trabalhadores a vencer, uma situação preocupante, porque não podemos ter descontinuidade no atendimento à população do Rio de Janeiro — afirma ele.

Chioro deve dividir a coordenação do grupo de saúde com outros três ex-ministros da pasta: José Gomes Temporão, Alexandre Padilha e Humberto Costa. O médico David Uip foi convidado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para participar do grupo, mas acabou recusando devido a questões pessoais. A expectativa é de que seja indicado novo nome para sua vaga. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual será a prioridade da equipe de saúde nesta transição?

Há uma primeira dimensão que diz respeito aos ajustes no orçamento do Ministério da Saúde que vão ser necessários emergencialmente. Depois, há um conjunto de tarefas desde as questões que precisam ser imediatamente revogadas. Temos um entulho, um conjunto de medidas, que foram adotadas e deverão ser revistas imediatamente logo nos primeiros atos do governo. A própria reestruturação administrativa organizacional do Ministério da Saúde (deve ser revista), que foi deformado ao longo desses últimos anos, de 2016 para cá. Um aspecto fundamental diz respeito à continuidade das ações. Então, não é apenas diagnosticar a situação epidemiológica , sanitária, os riscos, questões da cobertura vacinal, da Covid-19, da dengue. Passa também por riscos de desabastecimento de medicamentos na área de câncer, de HIV, hepatites, na atenção básica e contratos que estão a vencer.

Quando deve estar pronto esse primeiro diagnóstico?

O vice-presidente vai indicar um cronograma de trabalho para os grupos. Já temos muitos elementos, a partir das análises que tivemos ao longo da campanha, a partir das contribuições que os diferentes segmentos nos enviaram. Vamos ouvir muita gente, vamos conversar naturalmente com a atual direção do ministério, com o secretário executivo. Mas queremos ouvir muitos setores, as lideranças médicas, empresariais, dos movimentos dos trabalhadores da Saúde, o Conselho Nacional de Saúde. Ouvir todos aqueles que tenham um papel relevante na área para que a gente possa se apropriar o máximo possível do cenário. A gente precisa ter a responsabilidade de garantir a continuidade da prestação de serviços e ao mesmo tempo fazer as mudanças que desde já são necessárias.

O relatório da CPI da Covid será utilizado pela equipe de transição?

Naturalmente. Talvez seja um dos documentos mais bem organizados e que desde já apontam graves problemas. Alguns deles foram objeto já de correção por parte do ministério, outros precisarão ser devidamente trabalhados. Um exemplo: o relatório da CPI indica uma situação de bastante gravidade da rede hospitalar administrada diretamente pelo Ministério no Rio de Janeiro. Existem muitos contratos de trabalhadores a vencer, uma situação preocupante, porque não podemos ter descontinuidade no atendimento à população do Rio de Janeiro. Esse é um elemento.

O senhor mencionou que o Ministério da Saúde foi deformado. Como pretendem reorganizá-lo?

Esse é o trabalho da equipe: produzir um diagnóstico e formular uma proposta de organização. Ao longo da campanha nós fomos apresentando as prioridades do presidente Lula, do programa de governo. A reestruturação do Ministério responderá a esse conjunto de prioridades. Ou seja, ela precisa ser capaz de dar as condições para que Ministério da Saúde implemente desse conjunto de prioridades.

Há algum consenso de retomada de alguma estrutura que não existe mais?

O Mistério acabou com qualquer estrutura da saúde mental. Não existe em nenhum lugar do Ministério hoje. Esse é um exemplo que faz parte das nossas prioridades: ter uma política de saúde mental, de prevenção e controle do uso abusivo de álcool e droga bastante rigorosa e prioritária. Então, precisa ter também uma expressão na estrutura organizacional do Ministério da saúde. Estamos ainda vivendo uma situação de emergência de sanitária Internacional. Entendemos que tem que haver um fortalecimento da capacidade de resposta do Ministério da Saúde às situações de crise sanitária e vamos propor algumas medidas de aprimoramento. Mas isso tudo será objeto de discussão. Vamos unir experiências, expertise, muito compromisso para o SUS, de gente que está aí na luta em defesa do SUS há muito tempo, que entende de administração pública, de gestão.

A que o senhor atribui essas coberturas vacinais tão baixas e qual será a estratégia para reverter esse cenário?

O grande problema é que o Ministério da Saúde nada fez e ao assumir o negacionismo como referência para a condução do Programa Nacional de Imunização, com o próprio presidente da República negando e se recusando a se vacinar, colocando a sua carteira de vacinação sob sigilo de 100 anos, plantou na cabeça de parte da população uma desconfiança sobre a vacina. Então, vamos ter que fazer um amplo trabalho de recuperação da credibilidade do Programa Nacional de Imunização, que era uma conquista. O Brasil era um exemplo Internacional. Vamos recuperar e muito rapidamente. E acho que esse é um compromisso assumido. Nós vamos fazer de tudo para unir o país em torno da vacinação e elevar as coberturas vacinais muito rapidamente a patamares seguros.

Como isso será feito?

Com o exército de agentes comunitários, com as unidades básicas de saúde, a expertise de fazer vacinação nesse país, não tem nenhum motivo que justifique esse retrocesso que estamos vivendo. Por isso, vamos fazer, sim, um grande dia de vacinação, um dia V. E eu tenho certeza que o presidente Lula, diferente do atual mandatário, vai mostrar seu braço, convocando a população de braços dados com o Zé gotinha, que é o nosso patrimônio cultural. Vamos mobilizar todo mundo, artistas, personalidades, atletas, convocar as famílias, as igrejas, fazer aquilo que a gente sabe fazer, que não é novidade. Além de acompanhar os desenvolvimentos da ciência e baseado nas melhores evidências científicas tomar decisões sobre incorporação de vacinas, reforço, como é o caso da covid. Vamos precisar andar junto a ciência e não contra a ciência, que foi a experiência trágica do país nestes últimos quatro anos.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo