Vacina da Covid-19 até o fim do ano é cenário improvável, dizem especialistas

Gonzalo Vecina, Esper Kallas e Mariângela Simão discutem expectativas para vacinas e tratamentos em 'Diálogos Capitais'

(Foto: Reprodução/CartaCapital)

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Com mais de 147 mil mortes no Brasil, 1 milhão de vítimas ao redor do mundo e 2 milhões de infecções pelo novo coronavírus registradas apenas na semana passada no mundo inteiro, é possível dizer que o pior da pandemia de Covid-19 já passou?

 

Para responder a essas e outras perguntas, a edição do Diálogos Capitais desta quinta-feira 7 reuniu especialistas em infectologia, vacinas e saúde pública para uma conversa ao vivo, mediada pela repórter de CartaCapital Thais Reis Oliveira. [assista à entrevista completa abaixo]

Na visão de Mariângela Simão, vice-diretora geral da Organização Mundial da Saúde, aprende-se mais sobre os tratamentos para a Covid-19 a cada dia, mas ainda há um longo horizonte com a presença do vírus na vida das pessoas até que se possa dizer que o pior, de fato, ficou para trás.

“Imagina o que seria do Brasil se não tivesse o SUS [Sistema Único de Saúde]? Seria uma catástrofe ainda maior para lidar”, destacou Simão.


Apesar disso, o sanitarista e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Gonzalo Vecina avaliou como preocupante o relativo abandono que a atenção primária enfrenta no momento. “Já cometemos muitos erros, e suspender a atenção primária […] resulta da falta de uma política federal que conseguisse criar um modelo de acesso”, analisa.

Apesar de defender que, a esta altura, a fase mais aguda da pandemia possa ter sido superada, o infectologista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Esper Kallas acredita que não há justificativa para as pessoas relaxarem nos cuidados.

“Quando a gente olha para os outros coronavírus que circulam entre nós, há a suspeita de que o Sars-Cov-2 siga o mesmo caminho”, disse.

Ter o vírus em circulação, porém, não significa que a reinfecção pelo Sars-Cov-2 seja uma realidade, ressalta o especialista. “O que eles [pacientes com reinfecção confirmada] representam na pandemia, do ponto de vista epidemiológico, é negligenciável. Pelo menos até agora, continua sendo um fenômeno extremamente raro que não tem impacto na epidemia ou na pandemia.”

 

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“É impossível ter vacina antes do final do ano”

 

Ao analisarem as promessas de uma vacina contra o coronavírus disponível para a população até o fim do ano – conforme prometido por políticos como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) -, os especialistas foram unânimes: só haverá tempo hábil para passar por todos os registros legais e lidar com a logística de vacinação em meados de 2021.

“É impossível ter vacina antes do final do ano, independente do que o governador fizer. Do ponto de vista dos prazos, eu não vejo como a vacina pode ser liberada pela Anvisa este ano. Do ponto de vista produtivo, eu acho que é possível”, analisou Gonzalo. “Não faltará imunizante, mas faltará tempo para imunizar no ano que vem”, disse.

A questão das aprovações pelas agências sanitárias dos países em relação às vacinas em estudo já é uma preocupação da OMS, cita Mariângela. Mesmo assim, frisa, “a OMS lançou a proposta para fazer o uso emergencial de vacinas. Sendo bem otimista, podemos ter vacina no mercado em meados do ano que vem.”

Para Kallas, é necessário “racionalidade” para combinar uma série de fatores a fim de fazer enfrentamento ao Sars-Cov-2. O infectologista defendeu a combinação de vacinas diferentes para que se aumente o conhecimento sobre a proteção imunológica daquelas que estão nas fases mais avançadas.


Enquanto detalhes sobre quantas doses serão necessárias para criar uma memória imunológica resistente contra o vírus ainda são desconhecidas, argumenta Kallas, é preciso ter um “rol de opções” contra o pior dos efeitos da pandemia: a morte de pacientes.

“A proteção é variável e não tem o tempo definido. Nós precisamos ter coisas mais potentes e mais eficazes para, quando a pessoa fizer o teste RT-PCR positivo, dar uma medicação para impedir a fase grave da doença. O que importa é o número de mortes, de pessoas que estão pegando a doença e sucumbindo”, destacou.

 

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