Saúde

Trump prega rebelião contra confinamento por coronavírus; EUA tem mais de 37 mil mortes

Praticamente não há país ou território no planeta que não tenha sido afetado pelo coronavírus

O presidente Donald Trump chega para mais uma coletiva sobre a pandemia de coronavírus nos EUA (Foto: Alex Wong/Getty Images/AFP)
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pregou a rebelião contra o confinamento, apesar de seu país ter virado o principal foco do coronavírus, com quase 25% das mais de 154 mil mortes registradas no mundo.

E uma semana depois dos católicos e protestantes, o mundo ortodoxo celebra o fim de semana da Páscoa em confinamento. Isto porque o distanciamento social conseguiu conter a acelerada propagação da pandemia com 4,5 bilhões de pessoas, ou seja mais da metade da população mundial, confinadas em suas casas.

Nos Estados Unidos, no entanto, o principal instigador pelo fim do confinamento é o próprio presidente. “Libertem Minnesota!”, “Libertem Michigan!”, tuitou Trump, ao mesmo tempo que manifestantes, alguns deles armados, pretendem desafiar neste sábado as autoridades nos dois estados governados por democratas.

Enquanto o mundo supera 154 mil mortes na pandemia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê a recessão mais grave desde a Grande Depressão de 1929, os governos enfrentam o dilema sobre quando e como acabar com o confinamento, em uma tentativa de buscar o equilíbrio entre reduzir os danos sobre a economia e salvar vidas.

Praticamente não há país ou território no planeta que não tenha sido afetado pelo coronavírus, que já infectou mais de 2.250.000 pessoas, com mais de 154 mil óbitos. A Europa registra metade dos contágios (1,11 milhão de casos confirmados) e quase dois terços dos falecidos (98 mil), de acordo com o balanço da AFP na manhã deste sábado.

A Itália registra quase 23 mil mortes, a Espanha mais de 20 mil, a França quase 19 mil e o Reino Unido se aproxima de 15 mil.

Na América Latina o número de vítimas fatais supera 4 mil e a África registra mais de 1 mil.

Temor de violência

O território dos Estados Unidos é o mais afetado pelo vírus, que foi detectado pela primeira vez na cidade de Wuhan no fim de 2019. Até o momento registra mais de 706 mil contágios e 37.079 mortos.

Sem uma rede de proteção social, milhões de americanos recorrem aos bancos de alimentos, cujos funcionários estão saturados pela explosão da demanda.

“Nossos funcionários não conseguem mais”, afirmou Dan Flowers, gerente de um banco de alimentos de Ohio. “Eles estão sobrecarregados. Gostaríamos de ver o fim”, completou.

Neste contexto, o governador democrata do estado de Washington, Jay Inslee, expressou indignação com os tuítes do presidente que estimulam, segundo ele, “atos perigosos e ilegais”.

 

“Coloca milhões de pessoas em risco de infecção da covid-19. Seus ataques desequilibrados e seus apelos para ‘libertar os estados’ também podem levar à violência”, escreveu no Twitter.

Um estudo da Universidade de Stanford, em Santa Clara, na Califórnia, mostrou que entre 2,5% e 4,1% da população local estava infectada pelo coronavírus, entre 50 e 85 vezes acima do número de casos oficialmente confirmados.

Longe da maior potência mundial, na África do Sul, o confinamento provocou uma “guerra” para conseguir alimentos.

“Senhor presidente, estamos atravessando uma crise alimentar. Aqui há uma guerra”, adverte Joani Fredericks, uma ativista sul-africana, preocupada porque o confinamento em seu país gerou confrontos com a polícia e saques nos bairros mais carentes, uma consequência da fome.

Fim do confinamento?

Diante dos sinais de desaceleração da epidemia na Europa, apesar do aumento diário ainda expressivo do número de mortos, alguns países começarão a reabrir as escolas.

Os colégios abrirão as portas de maneira progressiva a partir de 11 de maio na França e Suíça, de 4 de maio na Alemanha, de 27 de abril na Noruega e já retomaram algumas atividades na Dinamarca.

Mas este é um risco assumido? Os dados mostram que o coronavírus afeta apenas levemente os jovens de maneira geral, o que significa que o risco desta faixa etária de ter a versão grave da doença ou de ser vetor do vírus ao retornar às aulas parece menor, afirmam os especialistas.

Mas o coronavírus continua provocando cenas trágicas, como a de um convento de capuchinhos no sudeste da França, onde cinco dos 11 irmãos morreram vítimas da covid-19, enquanto os mais jovens se recuperam aos poucos.

“Tive sorte”, disse a alemã Martina Hamacher, 60 anos, que acaba de passar a primeira noite sem o auxílio de um respirador artificial após várias semanas internada, três delas na UTI.

Tudo começou com uma gripe, com um pouco de febre. Mas a situação se tornou grave rapidamente. “Nunca vivi algo assim, este sentimento de não poder respirar… É impossível descrever, sempre vai ficar na minha cabeça”, afirma, aliviada.

No Brasil, situação das favelas preocupa

No Brasil, com mais 2,1 mil mortes e mais de 33 mil infectados – embora o número real de contágios possa ser 15 vezes maior, segundo cientistas, a situação de saúde nas favelas é particularmente preocupante.

“Tem bastante risco de expansão na comunidade porque dos testes que a gente tem feito aqui, de 40% a 50% estão dando positivo”, explica Tiago Vieira Koch, diretor de uma clínica que trabalha na Rocinha, Rio de Janeiro, a maior favela da América Latina.

 

A crise ameaça apresentar uma fatura pesada à região e apagar todos os avanços conquistados nos últimos anos, como advertiu o Banco Mundial, que prometeu 160 bilhões de dólares para financiar projetos contra a pandemia nos próximos 15 meses.

Depois que a Argentina declarou recentemente uma moratória ao pagamento da dívida interna, os credores do Equador concordaram em prorrogar até agosto o prazo para o país pagar 811 milhões de dólares em juros de sua dívida externa, que serão utilizados para combater o coronavírus.

Enquanto as autoridades federais brasileiras se negam a decretar medidas de confinamento, outros países como República Dominicana, El Salvador ou Paraguai prolongam os toques de recolher ou confinamentos.

O governo do México, que proibiu a cremação dos corpos de vítimas do coronavírus não identificadas, anunciou a compra de 1.000 respiradores dos Estados Unidos, apenas 10% do que o presidente Andrés Manuel López Obrador havia solicitado a Trump.

O México registra 6.875 casos confirmados e 546 mortes.

As prisões estão virando novos focos de preocupação para as autoridades locais. O Equador registrou a morte de um detento em uma penitenciária com 1.400 presos, enquanto a Colômbia anunciou a morte de três detentos e informou que 20 foram infectados na prisão de Villavicencio, no departamento de Meta, centro do país.

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