Saúde

São Paulo disseminou mais de 85% dos casos de Covid-19, aponta estudo

Sem as devidas medidas de contenção, cidades e rodovias contribuíram para a chegada da Covid-19 em todo o País

Foto: EBC
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Um estudo científico conduzido por pesquisadores brasileiros, e publicado nesta segunda-feira 21 na revista “Scientific Reports”, aponta como as grandes cidades, sem as devidas medidas de contingência, contribuíram para a disseminação do coronavírus pelo País no início da pandemia.

A pesquisa destaca que, embora os aeroportos internacionais tenham sido a grande porta de entrada do coronavírus no Brasil, a circulação do SARS-COV-2 também foi potencializada pela dinâmica de pelo menos 17 cidades – sendo São Paulo uma das principais ‘superespalhadoras’ do vírus – além do leva a traz verificado nas rodovias federais.

São Paulo, de acordo com o estudo assinado pelos cientistas Miguel Nicolelis, Rafael Raimundo, Pedro Peixoto e Cecilia Andreazzi, foi responsável pela disseminação de mais de 85% dos casos de Covid-19 nas três primeiras semanas da pandemia.

Quando consideradas outras 16 cidades — Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, Salvador, Fortaleza, Recife, São Luís, João Pessoa, Manaus, Belém, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Goiânia, Cuiabá e Campo Grande — o índice de disseminação chega 98-99% no mesmo período da pandemia.

Os pesquisadores verificaram que, uma vez estabelecida a transmissão comunitárias do coronavírus nessas capitais, a transmissão continuou para as regiões interioranas por meio das rodovias federais. Em 30 dias, 26 rodovias federais foram responsáveis por cerca de 30% da propagação dos casos no eixo norte-sul do País, um total de 5.313 quilômetros percorridos.

A dinâmica configurou o que os pesquisadores chamam de efeito ‘boomerang’ da pandemia, já que pacientes acabaram procurando atendimento nas grandes metrópoles, dada a estrutura muitas vezes dependente de cidades menores, e também o contrário: cidades maiores também recorreram a cidades do interior com a saturação de suas redes.

O estudo mostra que São Paulo foi também a cidade que mais enviou moradores para internação em outras cidades (158 cidades), seguida pelo Rio de Janeiro (73 cidades), Guarulhos (41 cidades), Curitiba (40 cidades), Campinas (39 cidades), Belém (38 cidades) e Brasília (35 cidades).

De acordo com o estudo, a estruturação de um lockdown nacional poderia ter evitado a grande circulação do coronavírus já no início da pandemia. “Nossos resultados sustentam a noção de que um número restrito de ‘cidades super-espalhadoras’, rodovias federais e a concentração espacial extremamente enviesada de disponibilidade de leitos de UTI, semearam o padrão de disseminação espacial e temporal da pandemia no campo brasileiro’, destaca o estudo.

Os pesquisadores ainda alertam para a necessidade de um conjunto de respostas não farmacológicas ue devem ser consideradas pelas políticas públicas no enfrentamento às pandemias.

“Tais respostas poderiam incluir, por exemplo, o planejamento e implementação de ”roadblocks’ estrategicamente colocados e extensos fechamento de fronteiras entre estados assim que emergências epidemiológicas sejam oficialmente declaradas; financiamento para o desenvolvimento de sistemas de informação e redes de pesquisa associadas para garantir a disponibilidade de dados e, assim, estratégias de mitigação específicas dos casos nos níveis federal, estadual e regional; e a gradual descentralização da disponibilidade de leitos de UTI para cobrir uma maior região do interior brasileiro que atualmente não tem assistência em termos de complexos cuidados médicos, dificultando o acesso à saúde pública verdadeiramente universal’.

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