Saúde

“Saia da redoma de Brasília e venha visitar os hospitais de campanha”, diz Doria a Bolsonaro

Governador convidou presidente para visitar São Paulo, epicentro da epidemia no Brasil, e fez fortes críticas a falas recentes de Bolsonaro

(Foto: Governo de SP)
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“O senhor continua afirmando que o País está vivendo uma pandemia de um ‘resfriadozinho’? Eu convido o senhor, presidente, venha à São Paulo, saia dessa redoma de Brasília e venha visitar comigo o Hospital das Clínicas, os hospitais de campanha, e venha ver a gripezinha, venha ver as pessoas agonizando nos leitos e a preocupação dos profissionais de saúde de São Paulo e de toda parte do Brasil.”

Este forte ataque ao presidente Jair Bolsonaro foi feito pelo governador de São Paulo, João Doria, na tarde desta quarta-feira 29. Doria respondeu ao presidente sobre a responsabilidade do número de mortes causadas pela covid-19, que ultrapassou a marca dos 5 mil óbitos na noite de terça, e fez mais uma crítica às atitudes e falas do presidente no que diz respeito ao crescimento do coronavírus no Brasil.

Na noite anterior, o presidente respondeu, irritado, a jornalistas que o questionaram sobre as vidas perdidas para o coronavírus no País. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, afirmou, em frente ao Palácio da Alvorada, fazendo referência a um de seus sobrenomes.

Hoje, o presidente compareceu ao mesmo lugar para atacar jornalistas e dizer que a “conta” dos óbitos não iria cair no colo dele, e ainda culpou medidas de isolamento social – adotadas por lugares como o estado de São Paulo por meio da quarentena oficial, que vai até o dia 10 de maio.

“As medidas restritivas são a cargo dos governadores e prefeitos. A imprensa tem que perguntar para o Doria porque tem mais gente perdendo a vida em São Paulo. Perguntar para ele que tomou todas as medidas restritivas que ele achava que devia tomar”, disse Bolsonaro.

O tom de resposta de Doria, que já tem sido o principal antagonista de Bolsonaro desde o início da crise no País, foi duro. “Eu posso enumerar algumas atitudes que o senhor já poderia ter tomado, começando por respeitar os brasileiros, os que lhe elegeram e que não elegeram também. Pais, mães, amigos que perderam famílias. Que o senhor respeite o luto de mais de 5 mil famílias que perderam os seus entes queridos, e em praticamente todos, nenhum parente pode acompanhar os enterros”.

 

Após ter realizado o convite – improvável de ser aceito – para que Bolsonaro fosse à São Paulo, o governador também sugeriu que o presidente visitasse Manaus, capital do Amazonas, que vive um colapso no sistema de saúde e nos serviços funerários devido ao alto número de pacientes e vítimas do coronavírus.

“Se não quiser visitar São Paulo, vá à Manaus, vá ajudar o governador do estado do Amazonas e o prefeito de Manaus, no mínimo sendo solitário e vendo a realidade do país, não a sua realidade do estande de tiro que o senhor foi ontem celebrar enquanto choramos a morte de brasileiros.”, pontuou Doria, que relembrou publicação feita por Bolsonaro, nas redes sociais, nas quais o presidente aparece treinando tiros antes dos compromissos oficiais de ontem em Brasília.

O embate entre Doria e Bolsonaro é antigo. Doria é criticado por apoiadores do presidente por ter utilizado da candidatura do então candidato para se promover ao posto no Palácio dos Bandeirantes. Recentemente, disse estar “arrependido” de seu voto.

Ao mesmo tempo, ele é um dos governadores que aplicou medidas de isolamento social para diminuir o contágio pelo coronavírus, e defende que a porcentagem do distanciamento, que alcançou 49% do estado na terça-feira, atinja um mínimo de 60% da população. São Paulo já tem 2049 mortes e mais de 24 mil casos confirmados.

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