Mundo
‘Quero encher o saco dos não-vacinados’, diz presidente francês
‘A partir de 15 de janeiro, não vão mais poder ir ao restaurante, tomar um copo de vinho, um café, ir ao teatro, ao cinema’, afirmou Macron
Em uma longa entrevista ao jornal Le Parisien desta quarta-feira 5, o presidente francês Emmanuel Macron admitiu que quer “’encher o saco’ dos não vacinados”. A frase repercutiu já na véspera e é destaque da imprensa francesa.
“Os não vacinados, tenho muita vontade de incomodá-los”, disse o presidente, empregando o verbo ‘emmerder’, considerado vulgar, que também significa “encher o saco”.
O editorial de Le Parisien observa que com essa frase, Macron colocou uma cruz sobre os votos dos não vacinados, em torno de 5 milhões de pessoas. A repercussão da frase também suspendeu as discussões sobre o passaporte vacinal na noite de ontem na Assembleia.
Le Parisien deu capa e mais seis páginas nas quais Macron responde a perguntas do que seria uma amostra da população francesa: um agricultor, um corretor de imóveis, uma professora e uma enfermeira.
Macron fala sobre a Europa – a França preside o Conselho da União Europeia por seis meses -, promete que não vai aumentar os impostos e sobre a “vontade” de ser candidato às próximas eleições presidenciais, já em abril. Mas ao falar sobre os não vacinados, ele usou a frase que provocou um maremoto político.
“Não vou prendê-los ou vaciná-los à força. Mas que fiquem sabendo que a partir de 15 de janeiro, não vão mais poder ir ao restaurante, tomar um copo de vinho, um café, ir ao teatro, ao cinema”, disse Macron a Le Parisien.
No momento, o governo centrista de Macron quer aprovar a transformação do passe sanitário em passaporte vacinal. Ou seja, apenas quem for vacinado poderá ter um documento que dá acesso a atividades socioculturais, como restaurantes, bares, espetáculos, cinemas. Um teste negativo recente ou comprovante de ter tido a doença não contam mais.
Corrida eleitoral
Para o jornal econômico Les Echos, Macron “despertou alvoroço entre a classe política e marcou de maneira espetacular, mas arriscada, sua entrada efetiva na campanha presidencial”.
“A nova onda relança o presidente, mas ameaça o candidato”, analisa o conservador Le Figaro. O jornal explica que, normalmente, janeiro marca a entrada a fundo de um candidato na campanha eleitoral, com grandes comícios de mobilização. Mas o momento é de incertezas, com comícios adiados e limites para aglomerações. “A nova onda de Covid atropela a gramática da eleição presidencial”, diz Le Figaro.
“Será que estamos assistindo às premissas de uma crise política em relação à estratégia sanitária do governo, a cem dias da eleição presidencial? ”, pergunta Le Monde.
Os rivais não esperaram para reagir, como conta Libération. O candidato dos ecologistas Yannick Jadot considera que Macron cometeu um erro político. Marine Le Pen, da extrema direita diz que Macron insiste em dividir a nação e tornar os não vacinados em cidadãos de segunda classe. Jean-Luc Mélenchon, da extrema esquerda, retoma a orientação da OMS, de “convencer ao invés de condenar”.
As discussões sobre o passe vacinal serão retomadas nesta tarde. Se aprovado, o documento passa a valer a partir do dia 15 de janeiro.
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