Prefeitos, advogados, bispos, imprensa: todos repudiam postura de Bolsonaro

Entidades divulgaram notas de protesto contra 'campanha de desinformação' adotada pelo presidente contra quarentena

O presidente da República, Jair Bolsonaro. Foto: Isac Nóbrega/PR

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A Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que reúne 406 municípios, repudiou a campanha patrocinada pelo presidente Jair Bolsonaro, em que pede que os estados desistam dos decretos de quarentena e que os brasileiros voltem à normalidade, mesmo durante a crise do novo coronavírus. Em ofício divulgado nesta sexta-feira 27, a entidade questionou a propaganda em cinco pontos.

O documento foi encaminhado ao Palácio do Planalto e aos líderes do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). No texto, os prefeitos lembram que o Ministério da Saúde definiu regras rigorosas para evitar o avanço da doença, como o planejamento de da antecipação de férias e o ensino à distância em instituições educacionais. Em reunião de 22 de março, o próprio ministro Luiz Henrique Mandetta ressaltou a importância das medidas de isolamento social, destacam os chefes municipais.

Em seguida, os prefeitos interrogam: “O governo federal orienta os entes subnacionais a suspender imediatamente as restrições de convívio social? Caso positivo, por meio de qual instrumento oficial?”. No segundo item, perguntam: “Caso o convívio social seja suspenso, há previsão de diálogo federativo para a construção de uma estratégia para concretizar tal medida?”.

No terceiro item, os prefeitos indagam: “Quais as evidências científicas foram consideradas para motivar a mudança repentina no posicionamento do governo federal quanto às medidas de isolamento social?”. No quarto ponto, perguntam se o governo federal vai assumir todas as responsabilidades da atenção básica média e alta complexidades, em caso de colapso no Sistema Único de Saúde (SUS). Por último, perguntam se o governo federal cogita federalizar o SUS.

Na quarta-feira 25, outra nota dos prefeitos foi divulgada. Os gestores dos municípios afirmaram que as manifestações de Bolsonaro contra as restrições de circulação “desmerecem o trabalho dos prefeitos no enfrentamento ao novo coronavírus”.


“Não contar com essa liderança, e pior, contar com uma postura irresponsável, alicerçada em convicções sem embasamento científico, que semeiam a discórdia e até mesmo a convulsão social, compromete as relações federativas”, escreveram os prefeitos.

Presidente desenvolve “campanha de desinformação”

Em um documento chamado “Em Defesa da Vida”, também rechaçaram Bolsonaro as entidades: Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Comissão Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

As instituições alertam a população para que fique em casa, em respeito às recomendações da ciência, dos profissionais da saúde e da experiência internacional. No texto, dizem que as estratégias de isolamento social são fundamentais para conter o crescimento acelerado do número de pessoas afetadas pelo coronavírus.

Por fim, acusam Bolsonaro de desenvolver uma “campanha de desinformação”. Segundo as entidades, a postura do presidente “é uma grave ameaça à saúde de todos os brasileiros”.

“A hora é de enfrentamento desta pandemia com lucidez, responsabilidade e solidariedade. Não deixemos que nos roubem a esperança”, protestam.

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