Saúde

Pandemia favorece volta de médicos cubanos ao trabalho no Brasil

“Quando deixamos Cuba para vir ao Brasil, estávamos dispostos a ir a qualquer lugar, pandêmicos ou não”, diz médico Juan Carlos

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No final de 2018, Havana retirou seus médicos do Brasil após críticas de Jair Bolsonaro, que descreveu o programa “Mais Médicos” como “escravidão” porque os profissionais dariam a maior parte de seu salário ao governo cubano. No entanto, cerca de 1.800 médicos – dos mais de 8 mil cubanos no acordo – permaneceram no Brasil.

Juan Carlos, de 31 anos, é um deles. Carlos teve um relacionamento com uma brasileira e o casal agora espera um filho. Ao ficar, ele se tornou um “desertor” do regime cubano. “Quando fui chamado de volta, foi como jogar água fria na gente. Cumpri com todos os requisitos exigidos na missão no Brasil, não havia tido nenhum problema. Sempre fui elogiado por meu trabalho, alcancei resultados”, disse à RFI.

Lançado em 2013 pelo governo de Dilma Rousseff, o programa “Mais Médicos” permitiu que os profissionais de saúde fossem levados para áreas remotas e pobres do Brasil, onde a falta de médicos é crônica, explica Luiz Facchini, especialista em saúde pública da Universidade de Pelotas, no Brasil.

“Muitos tiveram a possibilidade de ter um médico pela primeira vez na vida de modo efetivo, nas aldeias indígenas, nas populações quilombolas, e inclusive nos grandes centros urbanos, em favelas, em comunidades pobres, que não tinha médicos de maneira regular. Com a saída dos médicos cubanos, já que a grande maioria retornou a Cuba, aconteceu um problema muito sério de falta de pessoal nos serviços médicos nos luares, especialmente nos mais pobres”, ressaltou.

Médicos brasileiros não querem ir para lugares distantes ou pobres

Bolsonaro então anunciou um novo programa com médicos nacionais, mas muitos dos cargos deixados pelos cubanos continuaram vazios. Agora, diante da pandemia, o governo de extrema direita se resignou a reintegrar centenas de médicos cubanos.

“São profissionais experientes, com passagem por saúde comunitária e da família, e eles não se recusam a trabalhar em lugares remotos e difíceis, nos grandes ou pequenos centros urbanos. Eles são necessários porque há insuficiência de profissionais no Brasil e os médicos brasileiros não escolhem esses lugares para trabalhar”, avaliou Facchini.

Depois de um ano e meio trabalhando em outras áreas, Juan Carlos está ansioso para retomar seu trabalho como médico. “Quando deixamos Cuba para vir ao Brasil, estávamos dispostos a ir a qualquer lugar, pandêmicos ou não”, conta. Os profissionais cubanos agora cobrarão o salário inteiro, mas até agora sua reintegração tem sido lenta.

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