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Países europeus e Israel proíbem voos da África após descoberta de variante do coronavírus

A Organização Mundial da Saúde convocou para esta sexta-feira 26 uma reunião de emergência

Foto: CDC
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A Organização Mundial da Saúde convocou para esta sexta-feira 26 uma reunião de emergência para discutir a nova variante do coronavírus identificada na África, a B.1.1.529. Horas depois do anúncio desta convocação, vários países Europeus e Israel decidiram impor medidas restritivas aos viajantes provenientes do continente africano.

A partir desta sexta-feira, passageiros vindos da África do Sul não podem desembarcar em aeroportos britânicos. A decisão foi anunciada pelo secretário de Estado para Saúde e Assistência Social do Reino Unido, Sajid Javid. Também estão na chamada lista vermelha Namíbia, Lesoto, Eswatini, Zimbábue e Botsuana.

“Mais dados são necessários, mas estamos tomando precauções agora”, postou Sajid Javid no Twitter.

A medida foi criticada pelo governo sul-africano. “Nossa preocupação imediata é o dano que esta decisão causará tanto às indústrias de turismo quanto às empresas de ambos os países”, disse a ministra das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, em um comunicado.

Israel também vai impedir a entrada de pessoas vindas desses países, assim como de Moçambique. O ministério da Saúde israelense anunciou nessa sexta-feira o primeiro caso de contaminação com a nova variante em uma pessoa vinda do Malawi.

O governo alemão também anunciou que vai recusar a entrada em seu território de viajantes estrangeiros vindos da África do Sul a partir desta sexta-feira. Os cidadãos alemães que viajarem que voltarem do país terão que respeitar uma quarentena de 14 dias, mesmo que estejam vacinados.

A Itália vai proibir a entrada em seu território de vários países africanos, entre eles África do Sul e Moçambique, enquanto França, Bélgica e Holanda estudam as medidas a serem tomadas.

Motivo de preocupação

Em uma entrevista coletiva online convocada às pressas pelo governo da África do Sul, o cientista brasileiro Tulio de Oliveira, que vive no país e trabalha com o sequenciamento genômico do coronavírus desde o início da pandemia, disse na quinta-feira 25 que a nova variante descoberta é motivo de preocupação e “tem um alto número de mutações”. A B.1.1.529 já foi identificada também em Botsuana e em Hong Kong entre viajantes que estiveram na África do Sul.

O brasileiro criticou decisões como a tomada pelo Reino Unido e Israel ao afirmar que “mundo deve fornecer apoio à África do Sul e à África e não discriminá-la ou isolá-la”.

O Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis informou que esta última variante já foi encontrada em 22 pacientes no país, que começou o mês de novembro registrando, no primeiro, dia 106 novos casos e duas mortes por conta da COVID-19. Já o relatório desta quinta-feira mostrou que em 24 horas foram 2.465 novos casos e 114 mortes por conta da doença.

A África do Sul teve até agora o maior número de infectados pelo coronavírus no continente (2.952.500), embora tenha conseguido recuperar 96,3% deles (2.843.961). Mesmo assim, este aumento recente de novos casos vem preocupando as autoridades do país, principalmente na província de Gauteng, onde fica Johanesburgo e a capital Pretória.

Quarta onda

No fim do ano passado, a equipe liderada pelo cientista brasileiro Tulio de Oliveira descobriu a variante chamada de Beta na África do Sul, que nos últimos meses já foi encontrada em 41 países africanos de acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, sigla em inglês), a agência de saúde pública da União Africana.

O centro informou que 11 países da África atualmente enfrentam a quarta onda de infecções (Argélia, Benin, Burkina Faso, Egito, Eritréia, Quênia, Mali, Mauritânia, Maurício, Somália e Tunísia). A lista foi divulgada pouco antes do anúncio da descoberta da nova variante na África do Sul.

Atualmente 27 países africanos – metade do continente – registram taxas de mortalidade por conta da COVID 19, acima da média global, que no momento é de 2%. Esta taxa supera os 5% em três países: Egito, Somália e Sudão.

Vacina

De acordo com o escritório da OMS para o continente africano, depois de 18 semanas de quedas consecutivas, a quantidade de novos casos registrados na última semana em países da África Austral foi 48% maior que na semana anterior. Além disso, o que também vem preocupando é a baixa taxa de vacinação entre profissionais de saúde na região.

Um levantamento feito em 25 dos 54 países da África mostrou que apenas 27% desses profissionais (cerca de 1,3 milhão) estão totalmente vacinados. Ou seja: somente um em cada quatro profissionais que lidam com infectados diariamente está completamente imunizado. Os motivos vão da falta de vacinas à rejeição aos imunizantes. Seis países vacinaram mais de 90% dos trabalhadores da área. Nove não chegaram a imunizar 40%.

Desde março do ano passado, 150.400 desses trabalhadores foram infectados pelo coronavírus em países africanos, sendo que 70% destes casos foram registrados em cinco países: África do Sul, Argélia, Gana, Quênia e Zimbábue.

Um médico ou um enfermeiro doente significa um profissional a menos no combate à pandemia em um continente que já sofre com a falta deste tipo de profissional em algumas regiões. Não são raras as vezes que muitos pacientes dependem de um só especialista. Dezesseis países da África têm menos de um profissional de saúde para cada mil habitantes.

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