Os alertas de Natália Pasternak e Carlos Orsi sobre os riscos das pseudociências

Em entrevista a CartaCapital, os especialistas questionam os interesses por trás de práticas como a homeopatia e ressaltam os riscos

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Para os pesquisadores Natália Pasternak e Carlos Orsi, enaltecer e validar a ciência significa também refletir sobre o perigo e as implicações de práticas ditas científicas, mas que não encontram respaldo dos pares e da vasta literatura sobre o tema.

Isso é parte do que a dupla, formada por uma microbiologista e um jornalista, propõe no novo livro Que bobagem! Pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério, publicado pela Editora Contexto. Na obra, os autores lançam olhares sobre práticas como homeopatia, acupuntura, curas naturais e energéticas e modismos de dieta.

Em entrevista a CartaCapital nesta terça-feira 25, eles também questionam o endosso das práticas por políticas públicas de saúde e alertam sobre os riscos de adotar esses métodos em detrimento de tratamentos cientificamente reconhecidos.

“O livro trata de 12 assuntos que a gente considera pseudociência, e a gente define isso não de uma maneira filosófica, mas por uma definição prática, que permite que as pessoas compreendam que são doutrinas, práticas, teorias que se fazem de ciência sem passar pelos crivos do rigor científico”, explicou Pasternak no programa Direto da Redação. “E não são só assuntos de medicina alternativa, são 12 assuntos de distorções da ciência ou de pseudociência que consideramos populares na cultura brasileira.”

Algumas das inicativas listadas pelos autores no livro são oferecidas via Sistema Único de Saúde como práticas integrativas e complementares, caso da acupuntura e da homeopatia.

Para Orsi, há dois fatores a explicarem o cenário. “Um é cultural, a ideia de que o poder público deve garantir o maior acesso possível àquilo que as pessoas querem, pedem ou estão acostumadas. Então, a pessoa está acostumada a se tratar com homeopatia e, sendo cidadã brasileira, teria o direito de ter acesso ao tratamento no serviço público. Nós discordamos dessa visão, por entender que o dinheiro público tem de ser investido de uma forma que vá produzir o melhor resultado possível, e tratamentos homeopáticos são placebos, não têm resultados. Essa, de qualquer forma, ainda é a razão benigna.”


“Existe uma razão maligna, que é a dos lobbies“, prossegue o pesquisador, ao citar outras práticas custeadas pelo poder público, mas que não têm apelo cultural ou afetivo, a exemplo de quiropraxia, ozonioterapia e constelação familiar. “Por que isso estaria lá? A ideia de que é um lobby das pessoas que querem vender estas terapias é difícil de desprezar”, acrescenta.

Os pesquisadores também chamaram a atenção para os riscos das práticas.

“As pseudociências podem parecer inofensivas em si. Mas fazer uso da homeopatia em detrimento de tratamentos que realmente funcionam para problemas de saúde crônicos, graves, doenças de longa duração, cardiopatia, câncer, doenças autoimunes, doenças essas que se não forem tratadas e diagnosticadas precocemente podem, inclusive, levar a pessoa à morte?”, alerta Pasternak. “Aí é que está o perigo das pseudociências. Muitas vezes não é o perigo do procedimento, e às vezes é, caso da ozonioterapia. Acreditar em pseudociências traz consequências sociais.”

Assista à entrevista na íntegra:

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6 comentários

MAURICIO PEREIRA PRETTO 26 de julho de 2023 10h31
Tratar a homeopatia como pseudociencia é desconhecer a homeopatia. Sou veterinário, com formação alopática tradicional, não sou homeopata e me trato há mais de 20 anos com homeopatia. É uma terapia abrangente, que trata os males do corpo e da mente. Não tomo antidepressivos e muito raramente lanço mão de antibióticos. Sabendo os limites da homeopatia, assim como o limites da alopatia, é a melhor forma de chegar ä saúde. Desqualificar uma ciência para promover uma outra me cheira a bolsonarismo. Sugiro que Carta Capital consulte as organizações brasileiras de médicos homeopatas para descobrir que foram enganados.
NELSON JACOMEL JUNIOR 26 de julho de 2023 18h29
A ciência avança a cada funeral, como se diz. No caso, temos dois cientistas pensando em fazer as honras. Claro que não é pela ciência em si, mas por aquilo que o grande negócio, e círculo vicioso, pesticida-medicamento implementa como lobby não apenas no Brasil, mas em todos os países. Não é possível discutir uma ciência sem conhecê-la - isto está no próprio conceito de ciência. O motivo pelo qual este artigo está na Carta é o mesmo pelo qual eles escreveram o livro: lobby para a grande farma. Os dois cientistas estão fazendo lobby para o setor industrial onde atuam. Por outro lado, a Carta faz um desfavor ao não apresentar as visões diferentes, seja daqueles que estudam a homeopatia ou daqueles que usam psicologia. Em um piscar de olhos os dois cientistas vão questionar acupuntura, medicina ayurveda, uso de canabidiol e outras atenções da saúde. Em vez de gastar tempo e dinheiro reclamando do trabalho dos outros, deveriam fazer o seu trabalho, deixando de provocar dissabores alhures.
JULIA MORIGAKI 29 de julho de 2023 11h53
Um absurdo esta matéria, me fez pensar em não renovar a revista Carta Capital
Francisco José Milhorança 29 de julho de 2023 13h25
Estou estarrecido com esse publieditorial na revista. Sim, pq se fosse jornalismo de vdd, no mínimo haveria o outro lado a apresentar os fatos Mino Carta, cadê você?!?. É patético. Como não dá pra imaginar que uma dupla de cientistas desse calibre não conheça acupuntura, não entenda o que significa COMPLEMENTARES em Praticas Integrativas, só resta imaginar a quem estão servindo, além do próprio ego. O mais incompreensível é Carta Capital se prestar a isso. Se não houver uma contrapartida a essa vergonha que chamam de matéria, aqui vcs terão um ex-assinante da publicação. Confesso nunca ter imaginado ver isso numa publicação de Mino Carta.
Francisco José Milhorança 29 de julho de 2023 13h31
Na verdade, essa matéria mostra que a ignorância não escolhe bandeiras nem diplomas pendurados na parede.
Alexandre Mitsuru 2 de agosto de 2023 18h40
CartaCapital divulgando agora matérias para o desserviço da sociedade. Por outro lado, é bom termos matérias sobre essas loucuras e devaneios de pessoas que se julgam especialista?! e ficarmos cientes do que não devemos ler, como esse livro.

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