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Variante Ômicron: o início do fim?

Um número crescente de cientistas acredita que a nova cepa precipita o fim da pandemia, mas os críticos alertam para o colapso dos hospitais e o risco de novas mutações agressivas

Variante Ômicron: o início do fim?
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A Terra é plana ou esférica? Além de matar piolho, a Ivermectina combate o Coronavírus? As máscaras trazem mais prejuízos que benefícios? As vacinas são realmente seguras ou provocam graves reações adversas? Quem tomar o imunizante da Pfizer corre o risco de se transformar em jacaré? Sob o governo de Jair Bolsonaro, a comunidade científica precisou unir-se para enfrentar o tsunami de fake news e falsas controvérsias alimentadas pelas milícias digitais bolsonaristas. A profusão de bobagens nas redes sociais era tão grande que, em certo momento, o brasileiro viu-se forçado a escolher um lado: ou abraçava o negacionismo do xamã do Planalto ou se guiava pela “ciência”. Passados dois anos e 615 mil mortos, o elevado porcentual de brasileiros que tomou ao menos uma dose da vacina, 78%, é um forte indício da vitória desse segundo grupo. Ufa!

A ciência não é, porém, o território de certezas imutáveis. É impossível dissociar a produção do conhecimento da dúvida, da divergência. Não por acaso, a comunidade científica, dentro e fora do Brasil, hoje está dividida em torno de uma tese, segundo a qual a passagem da variante Ômicron pode representar, no futuro próximo, o fim da pandemia que provocou a morte de mais de 5,5 milhões de indivíduos. À primeira vista, a hipótese desafia o senso comum. O noticiário não se cansa de apontar os impactos da nova cepa, capaz de contagiar mais de 3 milhões de pessoas em um único dia pelo mundo afora. Hoje responsável por 98% das infecções por Covid nos EUA, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, a Ômicron provocou mais de 1 milhão de infecções no país somente na segunda-feira 10. O número de internações aumentou 20% na comparação com o início do ano anterior. Identificada em 50 das 53 nações europeias, a variante deve infectar mais da metade da Europa nas próximas seis ou oito semanas, estima a Organização Mundial da Saúde. Segundo um relatório divulgado pela entidade na terça-feira 11, a nova cepa já é predominante, sendo responsável por 58,5% dos casos de Covid-19 analisados no mundo.

A VARIANTE SE ALASTRA EM UMA VELOCIDADE SEM PRECEDENTES, MAS É MENOS AGRESSIVA QUE AS CEPAS ANTERIORES

No Brasil, é impossível saber a real dimensão do estrago. Primeiro, porque o governo federal negligencia, desde o início da pandemia, a testagem de casos suspeitos com a identificação da variante causadora. Segundo, porque os sistemas do Ministério da Saúde estão fora do ar ou com instabilidade há mais de um mês, em decorrência de um ataque hacker. O Painel da Covid, por exemplo, não é atualizado desde a primeira semana de ­dezembro. Por ora, os poucos dados disponíveis são do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington, a estimar que o País já registra mais de 1 milhão de infecções de Covid por dia, quase a totalidade causada pela Ômicron, e pode chegar a 2,3 milhões em fevereiro (gráfico à pág. 13). A projeção leva em conta não só os casos confirmados por testes, mas também a gigantesca subnotificação.

Apesar de ser altamente transmissível e ter se alastrado pelo mundo numa velocidade sem precedentes, como observou a OMS, a Ômicron revelou-se bem menos agressiva que as variantes anteriores. Não por acaso, a explosão de casos tem pressionado os serviços de emergência e lotado os leitos de enfermaria, mas não chegou a lotar as UTIs nem disparar o número de óbitos nos países com vacinação mais avançada. E são exatamente essas duas características, o fato de ser mais contagiosa e menos agressiva, que levam um crescente grupo de cientistas a acreditar que a variante pode, em curto espaço de tempo, tornar a Covid uma doença endêmica, com ciclos sazonais de infecção, a exemplo do que ocorre com o vírus da gripe.

Na África, faltam vacinas e apenas 11% da população estava imunizada às vésperas do Natal. Enquanto isso, 30% dos americanos não querem se vacinar

“A grande maioria deve contrair o vírus em curto espaço de tempo, mas sem desfechos graves. Teremos um grande contingente populacional com uma imunidade recente, gerada pela infecção, somada a outro de vacinados”, avalia o epidemiologista Pedro Hallal, titular da Universidade Federal de Pelotas e professor visitante da Universidade da Califórnia, em San Diego (box à pág. 15). Segundo o especialista, as variantes anteriores eram muito mais agressivas, razão pela qual não seria possível adotar uma estratégia de imunização coletiva por exposição ao vírus. “Se tivéssemos deixado todo mundo se infectar, a pandemia poderia ter matado 3 milhões de brasileiros, em vez das 615 mil vítimas registradas até o momento.”

Com a passagem da Ômicron, o cenário é diferente, observa o epidemiologista. A maioria dos brasileiros possui algum grau de imunidade ao Coronavírus em decorrência de uma infecção prévia ou da vacinação. A variante tem a capacidade de escapar dessa barreira de proteção, mas a infecção manifestará sintomas leves, semelhantes aos de uma gripe, como cefaleia, coriza, dores no corpo, febre, mal-estar e tosse. A teoria não pode, porém, ser aplicada em lugares com baixa cobertura vacinal – a exemplo da África, com apenas 11% da população imunizada às vésperas do Natal. “Ainda assim, acredito que a Ômicron pode ser o primeiro passo para o fim da pandemia por aqui. Ela é de quatro a cinco vezes menos agressiva que as cepas anteriores. Esse número diminui consideravelmente entre vacinados e, no Brasil, 68% estão completamente imunizados. Entre os idosos, o porcentual chega a 95%. E estamos falando de uma população com alto porcentual de indivíduos com infecção prévia. Por esses fatores, acredito que a população brasileira está mais protegida que outras.”

Fonte: Institute for Health Metrics and Evaluation/ University of Washington School of Medicine. Dados coletados em 10/jan/2022.

A avaliação é compartilhada pelo infectologista Marcos Boulos, professor da Faculdade de Medicina da USP e ex-integrante do Centro de Contingenciamento ao Coronavírus em São Paulo. “Há tempos sabemos que a Covid tende a se tornar endêmica, pois o vírus se alastrou pelo mundo inteiro e as vacinas não se mostraram capazes de evitar novas infecções, embora reduzam muito o risco de hospitalização e morte. Ou seja, não há possibilidade de se erradicar a doença e teremos de conviver com ela, como convivemos com a Influenza, que matou dezenas de milhões de pessoas em 1918 e nos anos seguintes, mas depois perdeu a força”, avalia. Um indicativo de que o Brasil estaria próximo dessa transição, de pandemia para endemia, foi o fato de a variante Delta ter provocado um estrago muito maior na Europa e nos EUA do que por aqui. “Seja por conta da vacinação ou por uma infecção prévia, os brasileiros parecem mais protegidos.”

Não são apenas os compatriotas que podem se favorecer com a Ômicron. Na terça-feira 11, a Agência Europeia de Medicamentos, a exercer um papel regulador semelhante ao da Anvisa, manifestou dúvidas sobre a necessidade de uma segunda dose de reforço nos cidadãos do bloco. “Com a Ômicron, haverá muita imunidade natural além da vacinação. Avançamos para um cenário próximo da endemicidade”, disse Marco Cavaleri, diretor de estratégia vacinal da EMA, com sede em ­Amsterdã. “Ninguém sabe quando veremos a luz no fim do túnel, mas chegaremos lá.”

A DESIGUALDADE NA COBERTURA VACINAL FAVORECE O SURGIMENTO DE NOVAS VERSÕES DO CORONAVÍRUS

Otimista, Mike Tildesley, especialista em modelagem matemática de doenças infecciosas e professor da Universidade de Warwick (Inglaterra), acredita que a Ômicron pode favorecer o surgimento de uma cepa ainda mais branda. “No longo prazo, a Covid-19 se tornaria endêmica, com uma versão menos severa, muito semelhante ao resfriado comum”, disse, em entrevista ao britânico The Guardian. “Ainda não chegamos lá, mas a Ômicron é o primeiro indício a sugerir que isso pode acontecer.”

A tese está, porém, longe de ser consensual na comunidade científica. Na passagem do ano, o diretor-geral da OMS, ­Tedros Adhanom Ghebreyesus, chegou a publicar nas redes sociais a esperançosa previsão de que a pandemia acabaria em 2022. Agora se demonstra bem mais cauteloso e reticente. “Assim como as variantes anteriores, a Ômicron está hospitalizando e matando. Na verdade, o ­tsunami de casos é tão grande e rápido que está sobrecarregando os sistemas de saúde em todo o mundo”, afirmou o ex-ministro da Saúde etíope, doutor em Saúde Pública pela Universidade de Nottingham (Reino Unido). Segundo a OMS, o número de casos globais de Covid aumentou 71% na última semana. Nas Américas, houve alta de 100%. Entre os registros de casos graves, 90% são de pacientes não vacinados ou sem o ciclo completo de imunização.

Fonte: Secretarias Estaduais de Saúde. Compilação: Ministério da Saúde.

O neurocientista Miguel Nicolelis, professor do Departamento de Neurobiologia da Duke University e ex-integrante do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, também demonstra preocupação com o avanço da Ômicron. Na avaliação dele, não existe nenhum dado científico concreto ou um modelo matemático seguro a indicar que a variante possa precipitar o fim da pandemia. “De repente, pode aparecer uma mutação na Indonésia muito mais grave e letal. Não tem como prever, porque o vírus não segue uma trajetória linear”, alerta (leia mais à pág. 15). “Os especialistas mais renomados que eu conheço deixaram muito claro que não faz sentido falar em fim da pandemia neste instante.”

Nicolelis alerta para a existência de três epidemias concomitantes no Brasil.  “Tem a Ômicron, que virou dominante, tem a Delta ainda e tem a Influenza. E eu já me preocupo com a dengue, porque esse é o período sazonal de crescimento da doença.” Em sua avaliação, os serviços de saúde podem entrar em colapso com a avalanche de casos de Covid prevista para as próximas semanas pela Universidade­ de Washington. “E o pior: o Ministério da Saúde está completamente perdido. Não temos liderança, não temos estratégia. Temos um ministro que não fala coisa com coisa, que retardou vacinas para crianças sem a menor necessidade. Nós não testamos, as pessoas ficam horas para fazer um teste e podem se infectar na fila, de tanta gente que tem. E não temos números, vivemos um apagão estatístico.”

O BRASIL CHEGARÁ A 2 MILHÕES DE INFECÇÕES POR DIA NAS PRÓXIMAS SEMANAS, ESTIMA A UNIVERSIDADE DE WASHINGTON

José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde e pesquisador da Fiocruz, une-se aos críticos da tese do fim iminente da pandemia. “Vejo muita gente batendo palmas porque o Brasil conseguiu imunizar 68% da população, mas com muita heterogeneidade. Na Região Norte, temos estados com cobertura vacinal de duas doses na casa dos 40%”, observa. É o caso de Roraima, com 39,6% da população completamente imunizada, e do Acre, com 47,7%. Além disso, enfatiza Temporão, a tese de que a Ômicron veio para tornar a Covid endêmica é apenas uma hipótese, que pode ou não se confirmar. Outra hipótese, “igualmente plausível”, é de ela favorecer o surgimento de uma variante mais agressiva, devido à intensa circulação do vírus pelo planeta. “Não é o momento de fazer afirmações tão categóricas. A variante é nova, ainda estão saindo os primeiros estudos sobre o seu comportamento, fisiopatogenia, período de incubação, ­transmissibilidade. Precisamos aguardar as conclusões para fazer prognósticos mais seguros.”

Apesar do otimismo da Agência Europeia de Medicamentos, a Ômicron tem desafiado os governos do continente. No Reino Unido, as companhias privadas foram acionadas para atuar no controle da cepa, caso a ausência de profissionais doentes comprometa o Sistema Nacional de Saúde. No fim de dezembro, um em cada 20 trabalhadores da saúde estava afastado por infecção de Covid. Além disso, militares foram convocados para atuar nos hospitais, devido ao aumento dos casos.

No pós-pandemia, devemos seguir o exemplo dos orientais e usar máscaras de proteção no inverno

Na Espanha, a rede primária está sobrecarregada e aposentados foram convidados a voltar a trabalhar para ajudar no atendimento. Para minimizar o déficit de profissionais da linha de frente no atendimento ao Coronavírus, a França resolveu abolir, em caráter extraordinário, a quarentena e o isolamento dos profissionais infectados que estão com sintomas leves ou nenhum sintoma, fazendo com que eles continuem atendendo outros pacientes. Um risco sem precedentes e que está servindo de base para o governo brasileiro, que reduziu para cinco dias o isolamento de trabalhadores assintomáticos. A Confederação Nacional de Saúde também defende que os profissionais com Covid-19 assintomáticos não sejam afastados do trabalho, desde que tenham tomado a terceira dose da vacina.

Apontados como um dos países onde o movimento antivacina é mais forte, os EUA são palco de uma guerra jurídica envolvendo alguns estados governados por republicanos e a administração de Joe Biden. Negacionistas, esses governadores brigam na Justiça para derrubar a obrigatoriedade da vacina. A França é outro país onde o movimento cresce, a ponto de o presidente Emmanuel ­Macron ameaçar transformar a vida dos não vacinados em “um inferno” e restringir o acesso a trens e cinemas. Na Itália, cidadãos acima de 50 anos serão obrigados a se vacinar, enquanto os trabalhadores não imunizados podem ser suspensos do emprego a partir de 15 de fevereiro.

NOVE EM CADA DEZ INTERNADOS POR COVID SÃO PACIENTES QUE NÃO SE VACINARAM

Sede das Olimpíadas de Inverno previstas para ocorrer no início de fevereiro, a China volta a impor o lockdown em algumas cidades, diante do avanço da Ômicron, deixando mais de 20 milhões de chineses em isolamento e estabelecendo o fechamento do comércio. Está em curso uma campanha de testagem em massa, com o objetivo de zerar o número de casos e garantir a realização do evento esportivo com relativa segurança.

Em meio ao cenário assustador, os brasileiros iniciaram uma corrida pela vacina em vários estados. Na Bahia, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, mais de 80% dos internados nas UTIs não se vacinaram. No Rio de Janeiro, a demanda dos serviços de emergência aumentou mais de 200%. “As UTIs estão com casos de Covid só entre os não vacinados. Os imunizados dificilmente passam do atendimento ambulatorial”, comentou, ao jornal O Globo, a intensivista Ludhmila Hajjar. Na avaliação da especialista, os sistemas de saúde podem entrar em colapso em uma semana.

Em alguns estados, como o Ceará, cirurgias eletivas foram suspensas para assegurar leitos de UTI a pacientes com Covid. São Paulo está reinstalando tendas para atender os doentes e, na terça-feira 11, mais de 1,7 mil pacientes estavam internados em UTIs, um aumento de mais de 90% comparado ao início de janeiro. Apenas na capital, perto de 270 mil profissionais de saúde estão infectados. Belo Horizonte alcançou 100% de lotação em leitos de enfermaria para atendimento às infecções respiratórias na rede pública. Em Pernambuco, mais de 80% das UTIs estão ocupadas por pacientes com síndrome respiratória aguda grave. Na Grande Florianópolis, em Santa Catarina, quase 80% dos leitos para Covid estão em uso. Em Goiânia, a ocupação nas enfermarias dobrou entre o fim de dezembro e a primeira semana de janeiro. Em Manaus, cerca de 50% dos leitos clínicos estão com pacientes com Coronavírus.

No Rio, o carnaval de rua foi proibido, mas o desfile na Sapucaí e as festas particulares estão liberadas

Salvador, Olinda, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo anunciaram que não vão permitir o Carnaval nas ruas, mas a iniciativa privada está liberada para oferecer uma programação para quem pode pagar. No Rio, inclusive, existe a possibilidade de haver o tradicional desfile das escolas de samba na Sapucaí, assim como deve acontecer em São Paulo. Mesmo com a liberação para festas privadas no Carnaval, alguns estados voltaram a adotar medidas restritivas. Na segunda-feira 10, os governos de Pernambuco e Bahia decidiram limitar a 3 mil o público em shows e eventos, além de exigir o passaporte vacinal para ter acesso aos locais. “Estamos lidando com uma situação de pré-colapso nas emergências municipais, UPAs, postos de saúde e nas emergências dos hospitais estaduais”, justifica o governador baiano, Rui Costa, do PT. “Esperamos que essa medida sirva de alerta também para quem organiza eventos e que passem a exigir o atestado de vacinação com maior rigor.”

Diante desse cenário, Júlio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor associado da UFMS e da Yale School of Public ­Health (EUA), diz nutrir um “otimismo cauteloso” em relação à Ômicron. “Existe, de fato, um bom prognóstico após a passagem da variante, mas não temos garantia de que não aparecerá uma nova cepa capaz de quebrar essa barreira imunológica e causar infecções mais graves”, pondera. “Além disso, um número tão elevado de infecções ao mesmo tempo vai sobrecarregar os serviços de saúde. Nas emergências, já vemos filas de quatro a seis horas, falta de profissionais, falta de atendimento médico. Por menor que seja a sua letalidade, a Ômicron pode, sim, provocar um colapso na saúde pública.” •


RUMAMOS PARA O FIM DA PANDEMIA?

PEDRO HALLAL*

“Estou otimista. O contexto é diferente do início da pandemia. Como as primeiras cepas eram mais agressivas, se tivéssemos deixado todo mundo se infectar, a pandemia poderia ter matado 3 milhões de brasileiros. Não dava para pensar em imunidade coletiva como estratégia. Então, surge a variante Delta, que assola o mundo inteiro, mas não o Brasil. E por quê? O País foi devastado pelas variantes anteriores. Muitos adquiriram algum grau de imunidade conferido por infecção prévia ou pela vacinação, e o número de casos e mortes despencou. Quando apareceu a Ômicron, muitos pensaram: ‘Voltamos à estaca zero’. Só que a nova variante tem características que podem ser o que precisávamos. A maioria deve contrair o vírus em curto espaço de tempo, mas sem desfechos graves. Teremos um grande contingente populacional com uma imunidade recente, gerada pela infecção, somado a outro de vacinados. Com isso, a doença se tornaria endêmica e nos aproximaríamos do fim da pandemia.”

*Epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas e professor visitante da Universidade da Califórnia, coordena o Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre Coronavírus no Brasil.


MIGUEL NICOLELIS*

“Não existe nenhuma indicação, baseada no perfil da Ômicron, que possa dizer que a pandemia esteja no fim. Essas declarações são baseadas em ‘pensamento de coach’, em autoajuda. Ninguém tem um dado seguro, um modelo matemático claro a prever esse cenário. De repente, pode aparecer uma mutação na Indonésia muito mais grave e letal. Não tem como prever, porque o vírus não segue uma trajetória ­linear. Os especialistas mais renomados que conheço deixaram muito claro que não faz sentido falar em fim da pandemia neste instante. Essa narrativa de que a Ômicron é branda foi abandonada pela OMS. Qualquer organismo que consegue infectar 3 milhões de pessoas em 24 horas não é brando nem leve. Discutir se vai virar endemia não ajuda em nada. Estamos no meio de uma guerra, na trincheira. O debate prioritário é: que medidas podemos tomar, além da vacinação, para quebrar a transmissão de casos o mais rápido possível e não deixar boa parte da humanidade ser infectada? Esse é o objetivo central.”

*Neurocientista, professor do Departamento de Neurobiologia da Duke University (EUA) e ex-integrante do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste.


PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1191 DE CARTACAPITAL, EM 13 DE JANEIRO DE 2022.

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS: MINISTÉRIO DA SAÚDE E FLÁVIO TAVARES/O TEMPO/FOLHAPRESS – ROBYN BECK/AFP E OMS/GHANA – CAMPUS PARTY , KATSUMI TANAKA/YOMIURI SHIMBUN/AFP E KÁTIA HELENA DIAS – THIAGO RIBEIRO/AGIF/AFP

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