Saúde
Mesmo com ampla campanha, vacinação se estenderá por no mínimo um ano, diz estudo
Pesquisadores listam recomendações para ‘medidas duras de controle’ da pandemia e alertam para riscos de reabertura de atividades
Mesmo com ampla campanha, a vacinação contra a Covid-19 deve se estender por no mínimo um ano e não necessariamente evitará um elevado número de casos e mortes, segundo estudo apresentado nesta terça-feira 19 por um grupo de sete pesquisadores da UnB, Unifesp, Uneb, UFSJ e IFBA e do Cimatec/Senai.
Na nota técnica “Situação da Pandemia de Covid-19 no Brasil e impactos da campanha de vacinação”, os especialistas afirmam que vacinar apenas as pessoas com idade superior ou igual a 60 anos não é o suficiente para conter efetivamente a pandemia. Seria necessário imunizar indivíduos com um número de contatos muito maior que a média da população, como professores, condutores de transporte público e caixas de supermercado.
O cenário do estudo simula uma campanha de imunização em que o país contaria com 250 milhões de doses de vacina por ano, o que englobaria 125 milhões de pessoas, já que são duas doses por indivíduo.
Para Tarcísio Marciano, físico e um dos responsáveis pela pesquisa, o Brasil precisaria de pelo menos 300 milhões de doses para concluir a vacinação em 2021. Ele também destaca que não se sabe quanto tempo durará a proteção pela vacina, nem se ela impedirá alguém de transmitir o vírus, mesmo que não desenvolva a doença.
“O fato é que não haverá campanha em massa em um período de poucos meses. Será necessário vacinar bem mais da metade da população, e é isso que vai tomar tempo”, afirmou o professor.
O estudo diz que serão imprescindíveis as medidas mais duras de controle, para reduzir o índice de contágio. Para os especialistas, “a abertura de atividades ainda suspensas pode acelerar ainda mais o crescimento da pandemia“. O retorno completo às atividades escolares, por exemplo, seria suficiente para causar um aumento de 10% no índice de contágio, “o que resultaria em uma forte piora dos indicadores”.
Os estudiosos listaram recomendações:
- Adotar medidas de contenção de contatos sociais;
- Planejar uma campanha de vacinação em massa, com o maior número de doses no menor intervalo de tempo possíveis;
- Não restringir a vacinação apenas à população acima de 60 anos;
- Correlacionar projeções de campanhas de vacinação para unir a capacidade de distribuição das vacinas à imunização propriamente dita;
- Implementar um sistema de logística que envolva a fabricação, a compra, a distribuição e o armazenamento das vacinas e todos os insumos pertinentes;
- Mobilizar profissionais capacitados, com a montagem e a coordenação de equipes, para atuar nos três níveis federativos;
- Centralizar a coordenação no governo federal para monitorar a fabricação, a compra e o planejamento de vacinação nos estados;
- Realizar extensas campanhas de informações sobre cuidados essenciais, como o uso de máscaras e o distanciamento social;
- Basear decisões nas melhores evidências científicas disponíveis;
- Desistir de atingir a imunidade de rebanho, algo “inaceitável do ponto de vista ético e humano, pois resultaria numa enorme perda de vidas”.
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