Infectologista descarta risco à saúde de quem recebeu dose vencida da Astrazeneca

'O prazo de validade estabelecido costuma considerar um período de segurança bastante grande', explica Vivian Avelino-Silva

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Vivian Avelino-Silva, médica infectologista e pesquisadora no Hospital das Clínicas e no Albert Einstein, em São Paulo, garante que não há motivos para a população entrar em pânico com a notícia da aplicação de doses vencidas da vacina Astrazeneca. Os vacinados não correm riscos de desenvolver problemas de saúde.

 

 

“É muito improvável que tenha qualquer risco. Na verdade, o prazo de validade que é estabelecido para esse tipo de produto costuma considerar um período de segurança bastante grande. Na verdade, a vacina duraria muito mais do que está escrito lá. A gente só esperaria problemas, de fato, se houvesse um vencimento há muito mais tempo”, esclareceu a especialista em contato com CartaCapital.

“Portanto, é provável que essas pessoas estejam protegidas de qualquer forma, mesmo com o prazo de validade da vacina estourado”.


A infectologista pondera que não é possível responsabilizar o fabricante por falta de eficácia após o prazo de validade. Além disso, a empresa não pode responder por efeitos adversos ou qualquer outro tipo de problema, e por isso a aplicação de doses vencidas é considerada um erro vacinal. “A falta dessa referência e da possibilidade de responsabilizar o fabricante não deixa de ser um problema. Agora, do ponto de vista da segurança das pessoas, é para a gente ficar tranquilo”.

Avelino-Silva reforça a importância da imunização e a necessidade de que a população acredite nas vacinas. Ela também destaca que o caso não deve levar a vacina da Astrazeneca ao descrédito. “Primeiro, [porque] a culpa não é do fabricante. Alguém não olhou essa data de validade”.

“Outra coisa que tem ficar clara é que existe um cuidado muito grande quando a gente vai produzir vacinas novas, desde a observação de eficácia em estudos in vitro no laboratório, em modelos animais, e observação de eficácia e segurança em estudos em humanos, que são feitos de uma forma muito detalhada”, acrescenta a pesquisadora, que participou do desenvolvimento de estudos para vacinas contra a Covid-19.

“Podemos afirmar com tranquilidade que é das vacinas mais seguras que a gente já produziu. A questão é colocar na balança o que é mais arriscado: se é ter um evento grave com uma vacina da Covid-19 versus o risco de pegar a doença e adoecer com gravidade. O segundo é muito maior. Então, a escolha que hoje faz sentido é tomar a vacina que tiver o quanto antes”, alerta.

 

Entenda o caso

Nesta sexta-feira 2, uma reportagem veiculada pelo jornal Folha de S. Paulo com base nos registros do Ministério da Saúde contabilizou 26 mil doses da vacina Astrazenaca aplicadas no País após a data de validade. Até o dia 19 de junho, os imunizantes com prazo estourado teriam sido utilizados por 1.532 municípios.

Ainda de acordo com a matéria, os casos teriam sido mais frequentes na cidade de Maringá (PR), onde 3.536 pessoas teriam tomado a 1ª dose com vacinas fora do prazo. Depois aparecem Belém (PA), com 2.673; São Paulo, com 996; Nilópolis (RJ), com 852; e Salvador (BA), com 824.

A reportagem ainda apontou que outras 114 mil doses da vacina distribuídas a estados e municípios dentro do prazo de validade teriam vencido.

 

Quais são os lotes?

O lote de vacinas pode ser consultado na carteira de vacinação. Confira abaixo quais lotes do imunizante estariam vencidos, segundo a Folha de S.Paulo [70% das doses vencidas referem-se ao lote 4120Z005]:

4120Z001 – vencimento: 29.mar

4120Z004 – vencimento: 13.abr


4120Z005 – vencimento: 14.abr

CTMAV501 – vencimento: 30.abr

CTMAV505 – vencimento: 31.mai

CTMAV506 – vencimento: 31.mai

CTMAV520 – vencimento: 31.mai

4120Z025 – vencimento: 4.jun

 

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