Saúde

Infarto mata mais mulheres do que câncer de mama; machismo é uma das razões

Sobrecarga mental e doméstica aumentam os riscos de complicações cardíacas. E pior: elas vivem tão ocupadas que os sintomas passam despercebidos

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Por Taíssa Stivanin

Nada mata mais mulheres no mundo todo do que infartos. A doença já superou os óbitos causados por câncer de mama, segundo estudos recentes. Os motivos: sobrecarga mental e doméstica e falta de atenção aos primeiros sintomas.

As pacientes têm sinais diferentes dos homens. Sentem indigestão, cansaço, fraqueza e dificuldades para respirar. Em uma idade em que normalmente estão ocupadas com o trabalho e a rotina da família, minimizam os sinais. Quando se dão conta da gravidade, pode ser tarde demais. É o que explica, em partes, por que a taxa de mortalidade seja maior entre as mulheres.

A rapidez no atendimento é crucial, diz a especialista francesa Martine Gilard, da Federação Francesa de Cardiologia. “Se desobstruirmos a artéria coronária rapidamente, a parte do músculo destruída será pequena. Se a intervenção é tardia, o músculo será mais afetado. Por isso o infarto é uma emergência”, explica. O pronto-atendimento vai limitar o número de células cardíacas afetadas e diminuir as sequelas.

Ainda há uma questão cultural quanto à prevenção do infarto em mulheres. Em um mundo dominado pelos homens, as queixas femininas são levadas menos a sério, diz a cardiologista. “Tem que educar a população. Dizer: fique alerta! Se sua mulher reclamar de dor no peito, pode ser um infarto. E não responder: “não é nada, vai deitar um pouco, você esta estressada”, exemplifica.

A sobrecarga mental e doméstica também aumenta o risco de um novo ataque nas mulheres, ressalta. Isso porque as pacientes ativas que sofreram infarto mudam menos suas rotinas do que homens que passaram pela mesma situação. E deixam de lado os cuidados.

“A mulher jovem tem seus filhos, sua vida de família. Ela se recusa a ir ao centro de reeducação, porque, além do trabalho, tem sua segunda vida: faxina, crianças e família. Percebemos que os homens fazem a reeducação, mas as mulheres, com frequência, não. Consequentemente, elas têm menos acompanhamento e podem enfartar novamente”, diz a cardiologista.

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Os fatores de risco, como a maioria das pessoas sabe, incluem sobrepeso, tabagismo, hereditariedade, falta de atividade física e estresse. Uma junção de fatores que pode ser fatal – e que se agrava ainda mais se as mulheres usarem anticoncepcionais, em especial os que contêm estrogênio e favorecem a trombose (formação de coágulos na corrente sanguínea).

Antes acreditava-se que os hormônios protegiam as pacientes mais jovens, antes de chegarem à menopausa. No entanto, segundo a Federação Francesa de Cardiologia, o número de vítimas abaixo dos 50 anos é bem maior do que se imaginava – corresponde a cerca de 25% do total de ataques.

Estresse

O estresse isoladamente também pode provocar um infarto, explica a médica francesa, mas este tipo incidente é bem mais raro e corresponde a apenas 1% dos casos – que atingem principalmente mulheres.

“Em geral, não há destruição das células coronárias, que voltam ao normal depois de sofrer um “colapso” temporário. Mas esse tipo de ataque também necessita cuidados imediatos, porque também pode matar”, sublinha a cardiologista francesa.

A gerente de joalheria paulistana Ligia Folco levou um susto quando, em 2010, aos 42 anos, teve um ataque do coração. Na época, ela estava em boa forma, tinha uma alimentação regrada, corria diariamente e não tinha fatores de risco, mas levava uma vida profissional corrida.

O infarto, acreditam seus médicos, foi causado pelo estresse. Ela estava em casa e começou a sentir uma indigestão, acompanhada de uma estranha sensação no peito. “Era como se uma pata de elefante estivesse em cima de mim”, descreve. Passou a noite sem conseguir dormir e no dia seguinte sentiu fraqueza nos membros. “Percebi que alguma coisa estava errada e pedi à minha mãe que me levasse ao hospital”. Era um infarto.

Depois de três dias na UTI e um cateterismo, Ligia ficou sem sequelas e leva uma vida normal. Mas mudou a maneira de encarar a rotina. “Fiquei bem assustada”, diz. “Comecei a dar valor para as coisas que realmente têm valor. Às vezes a gente se desgasta com bobagens. Aprendi a respirar mais e olhar as coisas com mais calma”, diz. “Era muito agitada. Quando eu trabalho, fico muito envolvida e a mil por hora”, descreve.

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