Um técnico de medicina de um hospital na cidade chinesa de Wuhan, epicentro do surto de coronavírus, afirma que muitas mortes por coronavírus não entram nas estatísticas oficiais. Segundo o funcionário, entrevistado pela Deutsche Welle sob condição de anonimato, hospitais, médicos e enfermeiros estão sobrecarregados e a população tem que esperar horas para receber tratamento.
DW: O senhor confia nos números oficiais de infecções e mortes?
Jiesi Luo*: Acho que há muito mais infecções e mortes por coronavírus do que estão sendo divulgadas oficialmente. Quando os testes preliminares determinam que um paciente tem uma doença pulmonar, o teste de ácido nucleico (NAT), que detecta vírus, nem sempre pode ser realizado porque a lista de espera é muito longa. Então o paciente não é diagnosticado. Além disso, se alguém morrer de doença pulmonar e não tiver feito o teste de NAT, o óbito não é registrado na estatística como tendo sido causado pelo coronavírus.
DW: Qual é o risco atual de uma infecção em Wuhan?
JL: Os pacientes que apresentam sintomas muitas vezes têm de esperar horas antes de receber o tratamento. Os médicos prescrevem medicamentos, e os pacientes são enviados para casa para se autoisolarem. As salas de espera estão cheias de gente tossindo, e a população que tem que esperar nessas condições corre o risco de infecção. Leva-se muito tempo para chegar a outro hospital. Quem não tem carro depende de táxis, mas só dois táxis são oficialmente designados para cada bloco habitacional. Apenas alguns voluntários levam os doentes para os hospitais. O telefone de emergência 120 está totalmente sobrecarregado e já não funciona. As pessoas são forçadas a caminhar para o hospital.
DW: Há suficientes trajes de proteção, por exemplo, máscaras?
JL: As máscaras de proteção e os desinfetantes estão esgotados. Os hospitais também têm um suprimento muito limitado. Neste meio tempo, muitas doações chegaram a Wuhan. Mas os regulamentos para os médicos trocarem máscaras e roupas de proteção a cada quatro a seis horas não podem ser cumpridos.
DW: O primeiro de dois novos hospitais foi inaugurado em Wuhan. Isso é uma boa notícia?
JL: As 2 mil camas extras nos hospitais recém-construídos não bastam, porque não há pessoal médico suficiente. Médicos e enfermeiros estão completamente sobrecarregados e o sistema que organiza os turnos está em colapso. O tratamento de longo prazo é necessário para o paciente se recuperar de uma doença pulmonar. As autoridades estão atualmente mobilizando funcionários de clínicas menores.
* Jiesi Luo (pseudônimo) é técnico de medicina de um hospital de Wuhan. Ele se recusou a dar seu nome devido a preocupações com sua segurança.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login