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EUA confirmam segundo caso de coronavírus e 50 suspeitos

Especialistas temem que seja tarde demais para conter coronavírus na China

Passageiros usam máscaras no desembarque do Aeroporto Internacional de Los Angeles, nos EUA, como proteção contra o coronavírus (Foto: Mark RALSTON / AFP)
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Uma mulher de 60 anos que voltou de Wuhan em 13 de janeiro e vive em Chicago está infectada com o coronavírus chinês, disseram autoridades sanitárias americanas, que relataram que este é o segundo caso confirmado no país e que há mais 50 casos sob investigação.

Hospitalizada para evitar a disseminação, “ela está clinicamente estável”, disse Allison Arwady, chefe de saúde pública de Chicago, em entrevista coletiva.

A diretora do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Nancy Messonnier, relatou que, além dos dois casos confirmados, 11 pessoas avaliadas no país receberam diagnóstico negativo e outros 50 pacientes estão em análise.

Especialistas estão temerosos

A tentativa da China de conter o letal coronavírus colocando cidades inteiras sob quarentena é uma medida sem precedentes, mas parece pouco provável que possa interromper a disseminação do patógeno, alertam especialistas.

O vírus contagioso já se espalhou pela China e além de suas fronteiras. Mesmo um governo autoritário tem pouco tempo para que os cidadãos se submetam ao fechamento de cidades, dizem os especialistas.

“Acho que superamos o período ideal de controle e prevenção”, disse Guan Yi, especialista em vírus da Universidade de Hong Kong.

A China começou sua campanha na quinta-feira 23, suspendendo os transportes com Wuhan, cidade de 11 milhões de habitantes (similar a São Paulo), onde surgiu em dezembro o coronavírus da família da SARS.

Várias cidades vizinhas integraram este bloqueio de viagens, atingindo cerca de 41 milhões de pessoas – quase a população da Argentina – em uma tentativa de impedir que pessoas contaminadas com o patógeno viagem e infectem outros fora desta zona.

Contudo, com um balanço de 26 mortos e infecções detectadas até nos Estados Unidos, teme-se que as ações sejam pequenas demais e cheguem tarde demais.

Yi, que voltou de Wuhan antes da quarentena, afirma que muita gente tinha ido embora da cidade antes de ela ser fechada, devido às férias de Ano Novo chinês, que se celebra neste sábado 25. “Poderiam estar incubando o vírus quando deixaram Wuhan”, afirmou.

Os sintomas podem demorar dias para vir à tona, criando uma bomba-relógio para o país e o mundo.

Planos de escape

Enquanto isso, não se descartam falhas de segurança em Wuhan e seus entornos nos próximos dias, apesar do imponente esquema de segurança que está sendo mobilizado. Foram bloqueadas estradas e os serviços de trens e aviões.

“Pessoas com dinheiro e conexões vão tentar e provavelmente conseguir”, disse à AFP Zi Yang, um analista do centro S. Rajaratnam School of International Studies, de Singapura.

Contudo, os dirigentes comunistas chineses contam com a colaboração da população, em parte devido ao controle da internet, à falta de liberdade de imprensa e a eficácia do aparato de segurança.

O professor associado da Universidade de Sydney Adam Kamradt-Scott, especialista em segurança sanitária mundial, disse que apenas um “punhado” de países poderiam impor quarentenas em larga escala.

Ele acha que os Estados Unidos seriam um dos poucos a colocar em curso uma operação similar, utilizando a Guarda Nacional. Contudo, Kamradt-Scott alerta que uma quarentena que dure uma semana ou mais poderia gerar “níveis de descontentamento e frustração crescentes”.

Quarentena é ‘ilusão’

Para este especialista, a quarentena parece mais uma medida para que as autoridades ganhem tempo e possam adotar outras iniciativas. A China vai construir um hospital especializado para o coronavírus em Wuhan em apenas 10 dias.

A história confirma que os controles geralmente não são muito eficazes. A primeira vez que uma quarentena foi aplicada foi em Veneza, no século XIV, quando navios que chegaram à cidade infectados de outros portos eram retidos por 40 dias.

Ao longo dos séculos, os Estados Unidos tentaram impor quarentenas para combater a febre amarela, os países europeus tentaram controlar as epidemias do cólera e vários países da África Ocidental selaram cidades para controlar o ebola na década passada.

“A quarentena é simplesmente uma ilusão”, diz Bruno Halioua, historiador médico da Universidade Paris IV. “A quarentena nunca funcionou. Sempre houve problemas”.

E depois de ver a situação em Wuhan em primeira mão, Guan Yi, da Universidade de Hong Kong, compartilha o pessimismo. “Eu nunca tive medo”, contou. “Desta vez, estou com medo”, conclui.

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