Saúde

“Enquanto você posta foto na praia, estamos aqui vendo a segunda onda vir com força”

Médico cearense narra atendimentos de casos de Covid-19 e se diz exausto: ‘A população não nos escuta há meses’

“Enquanto você posta foto na praia, estamos aqui vendo a segunda onda vir com força”
“Enquanto você posta foto na praia, estamos aqui vendo a segunda onda vir com força”
Médico cearense desabafou nas redes sociais. Créditos: Reprodução / Instagram Médico cearense desabafou nas redes sociais. Créditos: Reprodução / Instagram
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O médico cearense Diego Vieira fez um desabafo em sua página do Instagram Imagens e História sobre a situação vivida por ele e demais profissionais da saúde nos hospitais pelo País, com o aumento de contaminação pela Covid-19.

 

O profissional relatou alguns atendimentos feitos nos primeiros plantões de 2021 e fala sobre a falta de escuta por parte da população. “A população não nos escuta há meses. Estamos exaustos, deprimidos e desesperançosos. Enquanto você posta foto na praia, na balada ou no bar, estamos aqui vendo a segunda onda vir com força redobrada. Enquanto nós não temos mais força nenhuma. Pois ninguém nos escuta”, escreveu.

Veja o relato completo:

Jovem de 22 anos com sintomas respiratórios. Relata que viajou pra praia no Réveillon e que 3 pessoas da casa onde estavam testaram positivo para COVID. Está com medo pois abraçou a mãe idosa no dia primeiro de janeiro. Repreendi sobre a necessidade de evitar aglomerações, ele respondeu que “precisava relaxar” no Ano Novo. Sinto que ele não me escutou.

Mulher de 45 com febre e tosse. Tenta furar a fila de atendimento exigindo o “tratamento preventivo”. Mando esperar sua vez. Na sua consulta exige prescrição de cloroquina. Oriento que a medicação não tem nenhuma eficácia contra o COVID. Sai do consultório ameaçando me processar. Sinto que ela não me escutou.

Idosa de 71 anos com falta de ar. Saturação de oxigênio baixa. Ligo para o SAMU que informa que não pode levar no momento para hospital de grande porte pois já estão com vários pacientes na mesma situação esperando. Filha diz que fizeram uma “festinha” só de 15 pessoas na virada, apenas com parentes próximos. Nem tinha mais forças para repreender. Sinto que ela não vai me escutar.

E é assim que todos os profissionais da saúde que conheço estão se sentindo. A população não nos escuta há meses. Enquanto isso, chegamos a mais de 200 mil mortos oficialmente, mas quem trabalha na linha de frente sabe que esse número é subestimado. Estamos exaustos, deprimidos e desesperançosos. Enquanto você posta foto na praia, na balada ou no bar, estamos aqui vendo a segunda onda vir com força redobrada. Enquanto nós não temos mais força nenhuma. Pois ninguém nos escuta.

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