Saúde

Drauzio Varella: A perda de olfato após o diagnóstico de Covid-19

O comprometimento costuma surgir de forma repentina, sem relação com a congestão nasal, explica Drauzio Varella

Foto: istock
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A perda de olfato costuma ser um dos primeiros sintomas da Covid-19. No último número da Nature, Michael Marshall faz uma revisão da literatura sobre o tema.

Um inquérito realizado entre mais de 8 mil pacientes revelou que 41% se queixavam de deficiência olfativa. Na Universidade de Teerã, a aplicação de um teste em cem pacientes com Covid mostrou que 96% apresentavam algum grau de disfunção. Em 18% a perda era total.

O comprometimento do olfato costuma surgir de forma repentina, sem guardar relação com a ocorrência de congestão nasal. Muitos autores consideram o déficit olfativo um marcador importante para o diagnóstico da infecção.

Embora o mecanismo seja mal conhecido, as evidências sugerem que esteja relacionado com o processo inflamatório provocado pelo vírus ao infectar as células sustentaculares, aquelas que dão suporte aos neurônios responsáveis pela captação dos estímulos olfatórios nas mucosas nasais. A ação do vírus nessa população celular deixaria os neurônios mais vulneráveis e com dificuldade de acesso aos nutrientes.

Menos conhecida, a perda do paladar é geralmente associada à do olfato. Como a combinação de odor, gosto e quimiostese (sensações que surgem quando compostos químicos ativam receptores relacionados com a dor, o toque e a percepção térmica) é essencial para a identificação dos sabores, a perda do olfato interfere com o paladar.

“O que é criado pelo espírito é mais vivo que a matéria” Charles Baudelaire

Na maioria das vezes, a sensibilidade aos odores retorna em algumas semanas. Um estudo mostrou que em um mês o olfato voltou ao que era antes em 72% dos casos, e o paladar em 84%. O acompanhamento de 202 pacientes durante um mês, no Guy’s Hospital, de Londres, encontrou números menos favoráveis: em apenas 49% houve retorno do olfato à normalidade em 30 dias. Em 41% do total de participantes a recuperação foi parcial, nesse período.

Alguns pacientes evoluem, no entanto, com alterações mais duradouras do olfato e do paladar. Outros, à medida que se recuperam, queixam-se de que os odores ficaram pervertidos, de que tudo tem cheiro de azedo ou de apodrecido. Conhecido como parosmia, esse fenômeno pode persistir por meses. Em alguns casos, a perda completa do olfato (anosmia) também pode durar vários meses. É possível que seja definitiva em casos mais raros, atribuídos à morte dos neurônios olfatórios.

A perda do olfato tem consequências danosas. Publicado em 2014, um estudo mostrou que a anosmia duplica o risco de acidentes, como o de ingerir alimentos deteriorados ou inalar gás do fogão. Além da relação com o paladar, o olfato é importante no relacionamento que a mãe estabelece com o recém-nascido. Perda de olfato aumenta o risco de depressão.

Não existem medicamentos para tratar o déficit olfativo. Há uma experiência limitada com o uso de corticoides para reduzir o processo inflamatório na mucosa nasal. Treinamento realizado com a exposição a diversos odores distintos tem sido empregado para acelerar a recuperação.

Publicado na edição n.º 1142 de CartaCapital, em 29 de janeiro de 2021.

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