Saúde

Coronavírus: Novo estudo mostra “nenhum efeito benéfico” da hidroxicloroquina

O uso do medicamento no combate à covid-19 é defendido por Jair Bolsonaro, que ignora os estudos divulgados sobre o tema

Pílula de Hidroxicloroquina - Foto: GEORGE FREY/AFP
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A hidroxicloroquina não mostra “efeito benéfico” para os pacientes da Covid-19. Essa foi a revelação feita por pesquisadores do estudo clínico britânico Recovery, que anunciaram nesta sexta-feira (05) a suspensão “imediata” da inclusão de novos pacientes para o tratamento.

O Recovery, o primeiro grande ensaio clínico a obter resultados há muito esperados, foi um dos únicos a não suspender seus testes com hidroxicloroquina após um controverso estudo publicado na revista especializada The Lancet, depois retirado, que apontava para a ineficácia, ou até mesmo o efeito nefasto, da controversa molécula.

 

Após uma análise dos primeiros resultados, “concluímos que não há efeito benéfico da hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados com Covid-19”, informaram os pesquisadores em comunicado. “Decidimos, portanto, parar de recrutar participantes para o “braço” (a parte de um estudo relacionado a um tratamento específico, nota do editor) hidroxicloroquina do estudo Recovery, com efeito imediato”, acrescentaram.

Eles disseram que decidiram tornar públicos esses “resultados preliminares porque têm importantes consequências para o atendimento ao paciente e a saúde pública”.

O Recovery é um ensaio clínico controlado randomizado (pacientes escolhidos por sorteio), um método experimental considerado o mais sólido para testar medicamentos. O processo vem sendo realizado no Reino Unido em mais de 11.000 pacientes de 175 hospitais para avaliar a eficácia de diversos tratamentos para a Covid-19. Já os testes para outros tipos de tratamento vão continuar.

Sem diferença para mortalidade ou hospitalização

A divisão que se ocupou do estudo específico sobre a hidroxicloroquina envolveu 1.542 pacientes que receberam a molécula, em comparação a 3.132 pacientes que receberam tratamento padrão. Os pesquisadores concluíram que não há diferença significativa entre os dois grupos nem para a mortalidade em 28 dias, nem para o tempo de internação hospitalar.

“É decepcionante que esse tratamento seja ineficaz, mas nos permite focar nos cuidados e na pesquisa de medicamentos mais promissores”, revelou Peter Horby, principal responsável pelo estudo.

Embora esse tratamento tenha sido amplamente prescrito em muitos países “na ausência de informações confiáveis, esses resultados devem mudar as práticas médicas em todo o mundo e demonstrar a importância de estudos randomizados em larga escala para permitir decisões sobre a eficácia e segurança de tratamentos”, acrescentou seu assistente Martin Landray.

Um estudo publicado na revista médica The Lancet em 22 de maio concluiu que a hidroxicloroquina não era benéfica para pacientes hospitalizados com Covid-19 e poderia até ser prejudicial. Mas foi um estudo observacional baseado em dados coletados em 96.000 pacientes em todo o mundo pela uma empresa americana Surgisphere que, desde então, vinha sendo questionado.

Solidariedade e Discovery

O estudo levou à suspensão do braço da hidroxicloroquina em dois grandes estudos: o Solidariedade, sob a liderança da Organização Mundial da Saúde (OMS), e o estudo europeu Discovery.

Após a onda de críticas contra o estudo da Lancet – que acabou por ser retirado -, a OMS parece ter mudado de opinião, anunciando esta semana a retomada de seus testes, o que deve ser seguido pelo Discovery. Na quarta-feira (03), outro ensaio clínico randomizado realizado nos Estados Unidos e no Canadá, em menos pacientes que o Recovery, concluiu que a molécula é ineficaz na prevenção do Covid-19.

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