Mesmo com a ineficácia de medicamentos usados no chamado ‘tratamento precoce’ contra a Covid-19, o Conselho Federal de Medicina não vai rever o aval dado aos médicos para a utilização dos fármacos. Foi o que afirmou nesta quinta-feira 25 o presidente do órgão, Mauro Ribeiro, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo.
“Essa ideia de que a ciência já concluiu que essas drogas não têm efeito não é 100% verdadeira. Porque se você for pra literatura, você tem de tudo, tem trabalhos que mostram efetividade dessas drogas no tratamento inicial da Covid e outros tantos que mostram que essas drogas não têm efeito nenhum na Covid”, afirmou.
O parecer de abril do ano passado dá autonomia aos médicos brasileiros para prescreverem os remédios. Os ‘kits covids incluem cloroquina, azitromicina e ivermectina.
O uso desse tipo de tratamento foi desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“O médico tem que sentar com o paciente e explicar que é um tratamento que não tem comprovação que faça algum alguma diferença e que, se o paciente quiser ser tratado e o médico se disponibilizar a tratar, que seja feito o tratamento”, ressaltou Ribeiro.
Médicos investigados
Segundo uma reportagem do Estadão, a utilização das drogas do kit covid já levou cinco pacientes à fila do transplante de fígado em São Paulo e é apontada como causa de ao menos três mortes por hepatite.
Ribeiro afirma que os médicos brasileiros não têm uma carta de alforria e que casos denunciados ao Conselho serão investigados.
“Agora, sabemos que existem excessos dos dois lados. Os médicos que se excedem de forma pública estão sujeitos a sindicâncias abertas e eles vão ter o direito de apresentarem sua defesa e serão julgados pelos seus pares. Esses excessos são condenáveis, sim. O médico não pode, baseado no parecer do CFM, dizer que o tratamento é milagroso.”
O presidente da entidade critica também que Prefeituras entreguem kits com medicamentos para a Covid-19 aos profissionais de saúde.
“Somos contra uma prefeitura ou quem quer que seja entregar o kit para o médico dizendo que ele tem que prescrever aquilo. Agora, o médico deve ter a autonomia dele, ele pode prescrever as medicações que ele julgar necessário”.
Conselho critica gestão Bolsonaro
Ribeiro diz que houve uma politização em cima do uso dos medicamentos e criticou como o Governo Federal atua no combate à pandemia no País.
“Existem informações desencontradas por parte do governo federal? Claro que existem. Existe um excesso em relação a preconização do chamado tratamento precoce? Com certeza absoluta. Mas o médico brasileiro sabe o que faz. Nós precisamos agora reunificar o País. Isso é urgente”
O presidente Jair Bolsonaro mudou o tom sobre a vacinação em massa no Brasil, que também é defendida por Ribeiro, mas não deixou de lado sua crítica contra o isolamento social e a defesa do chamado ‘tratamento precoce’.
Na quarta-feira 24, após reunião com chefe dos poderes, Bolsonaro disse que existe a possibilidade de tratamentos precoces.
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