Saúde

Como voluntários tentam aliviar o caos de saúde no Amazonas

O estado viveu em janeiro o mês mais devastador desde o início da pandemia do novo coronavírus

Um homem segura um tanque de oxigênio. Foto: Michael DANTAS / AFP
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Quando a notícia sobre a crise de saúde pública sem precedentes em Manaus estourou, em meados de janeiro, Julio César Ferrezo e amigos organizaram imediatamente uma ação interna, modesta, com a meta de arrecadar 30 mil reais para ajudar hospitais. Mas eles não esperavam que a comoção fosse extrapolar os limites da cidade.

“A gente levou um susto porque nosso pedido de doação disparou. Famosos começaram a compartilhar a nossa ação e conseguimos arrecadar mais de 9 milhões”, conta Ferrezo, que adaptou a ideia para uma campanha nacional em questão de horas.

O dinheiro logo se transformou em pelo menos 400 cilindros de oxigênio, miniusinas de geração do gás – cuja falta nos hospitais comprometeu a vida de pacientes com Covid-19 – oxímetros e remédios que foram distribuídos em postos de saúde.

O estado do Amazonas viveu em janeiro o mês mais devastador desde o início da pandemia do novo coronavírus. Foram mais de 66 mil casos e 2.832 mortes – quase o dobro do registrado em maio de 2020, quando o pico anterior havia sido atingido.

A agonia parece não dar trégua com a chegada de fevereiro. E sem a ação de voluntários, como os 150 que se mobilizaram em torno da campanha SOS Amazonas da qual Ferrezo faz parte, a situação seria pior.

“Para o tanto de dificuldade enfrentada no estado, o valor que juntamos não é muita coisa. Ainda tem muita gente nos procurando precisando de oxigênio”, comenta.

Atualmente, o grupo tem se concentrado em oferecer recarga de cilindros de oxigênio e, assim, ajudar a manter os pacientes vivos. Como as fabricantes locais do gás não têm conseguido dar conta da alta demanda, o material distribuído pela iniciativa tem vindo principalmente de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, explica Ferrezo.

“Manaus por um respiro”

Formada em teatro e sem poder trabalhar devido à pandemia, Karine Magalhães, de 23 anos, também iniciou uma corrida para aliviar o desespero que viu tomar conta de Manaus com a crise do coronavírus.

“Entramos em contato com os hospitais e unidades de saúde para ouvir dos médicos e enfermeiros o que mais estava faltando”, conta Magalhães sobre o início do trabalho voluntário.

Com o dinheiro arrecadado numa vaquinha na internet, que continua aberta, a iniciativa, batizada de “Manaus por um respiro”, entregou itens como papel, lençóis, fluxômetros de oxigênio, óculos, aventais, toucas, máscaras e luvas.

O grupo de amigos disse ter ficado chocado ao saber que em alguns lugares, como um hospital público em Iranduba, cidade vizinha à capital, até água para os profissionais de saúde estava em falta. “Além de água pra beber, levamos saco de lixo, papel higiênico, vassouras, balde, água sanitária, copo descartável”, conta Magalhães.

Um dos locais aonde a ajuda chegou foi o Serviço de Pronto Atendimento Danilo Correia, em Manaus. “A gente precisava de equipamentos para colocarmos mais pacientes graves com covid-19 num único cilindro de oxigênio, e os voluntários trouxeram, além de outros materiais. Foi uma ajuda fundamental”, conta Lídia Amoedo, enfermeira que atua na linha frente contra a doença.

Na unidade, salas de suturas e de medicação se transformaram em enfermarias improvisadas. Com capacidade para atender 22 pacientes, no momento 36 estão internados, dois deles sobrevivem com ventiladores mecânicos.

“Estamos além da nossa capacidade em toda a rede pública. O caos ainda não passou”, comenta Amoedo sobre o serviço público de saúde no Amazonas.

Socorro para quem está em casa

Acompanhando o desenrolar da tragédia, as estudantes de Direito Regina Aquino Marques de Souza, de 19 anos, e Suelem Marques, de 20 anos, organizaram uma plataforma numa rede social para tentar diminuir o sofrimento daqueles que estavam em casa.

“Há muitas pessoas que estão doentes nas residências, desempregadas, com crianças, sem renda, com dificuldade de comprar comida e pagar aluguel”, explica Souza, uma das fundadoras do movimento SOS Em Casa.

Com as doações, o grupo comprou e distribuiu cestas básicas, remédios, kit de oxigênio, fraldas, termômetros, inaladores. “Temos voluntários que entregam diretamente na casa das pessoas doentes”, diz Souza sobre a equipe formada por 20 estudantes.

Até agora, a iniciativa recebeu cerca de R$ 13 mil reais de doadores. E não pretende parar. “Vamos continuar enquanto for preciso. A gente não sabe até onde vai essa situação crítica da saúde”, comenta Souza.

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