Saúde

Com agravamento da pandemia, Brasil pode ter meio milhão de mortos em julho

A previsão é do médico Miguel Nicolelis que afirma: ‘a pandemia está totalmente fora de controle’

Com agravamento da pandemia, Brasil pode ter meio milhão de mortos em julho
Com agravamento da pandemia, Brasil pode ter meio milhão de mortos em julho
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) criticou nesta quinta-feira 1º a lentidão “inaceitável” da vacinação na Europa, em um momento em que a pandemia de Covid-19 se agrava na América Latina, especialmente no Brasil, que registrou em março seu mês mais letal.

“Atualmente a situação regional é a mais preocupante em vários meses”, declarou o diretor da divisão Europa da OMS, Hans Kluge.

Dos 2,8 milhões de mortos registrados no mundo desde dezembro de 2019, a região da Europa soma o maior número, com cerca de 958.000 óbitos, seguida por América Latina e Caribe (cerca de 783.500) e Estados Unidos e Canadá (575.000), conforme balanço da AFP estabelecido nesta quinta.

Na zona Europa – com 50 países, incluindo Rússia e vários Estados da Ásia Central -, mais de 24.000 mortes foram contabilizadas na semana passada e estão “rapidamente” se aproximando de um milhão no total, segundo a organização.

“Precisamos agilizar o processo, aumentando a produção, reduzindo os obstáculos à [sua] administração (…) e aproveitando todas as doses” armazenadas, acrescentou Kluge.

Mas nesta mesma sexta-feira, os países membros da UE disputaram acirradamente a distribuição de 10 milhões de doses adicionais do medicamento Pfizer-BioNTech.

Os dois laboratórios também confirmaram que o medicamento é muito eficaz contra a chamada variante sul-africana do coronavírus e também entre os mais jovens.

A vacina russa Sputnik V, por sua vez, não receberá autorização da UE “antes do final de junho”, alertou o secretário de Estado francês para a Europa, Clement Beaune.

A Europa abriga 12% da população mundial e já administrou mais de 152 milhões de doses de vacinas anticovid, ou seja, um quarto de todas as injetadas no mundo.

Nos próximos “8 a 14 dias”, a Alemanha vai fortalecer os controles em suas fronteiras terrestres, enquanto a Itália decidiu estender suas medidas até 30 de abril. Na Áustria, a região de Viena ficará confinada na Páscoa.

Na França, onde a situação está se deteriorando há várias semanas e se aproxima de 100.000 mortes, as escolas ficarão fechadas por pelo menos três semanas. As restrições serão estendidas a todo território.

O consumo de álcool em espaços públicos será proibido nas próximas semanas, e o acesso a locais propícios a reuniões ao ar livre também será limitado, anunciou o primeiro-ministro francês, Jean Castex.

Sem chama olímpica

A situação também se agrava no restante do mundo, do Japão ao Brasil, passando pelo Canadá.

Na Ásia, o governo japonês anunciará novas restrições, especialmente em Osaka, cujas autoridades regionais não querem o revezamento da tocha olímpica na metrópole para limitar as infecções, segundo a imprensa local.

Do outro lado do Pacífico, a província de Ontário, motor econômico do Canadá, prepara-se para anunciar um reconfinamento de 28 dias para interromper uma nova onda de infecções, depois que Québec anunciou o fechamento de escolas e negócios não essenciais.

Embora no vizinho Estados Unidos a situação melhore à medida que a vacinação avança, seu presidente Joe Biden pediu que as medidas continuem a ser respeitadas, como o uso de máscaras, e que os clubes esportivos não abram todas as cadeiras de seus estádios.

“Temos que chegar a um ponto em que um número suficiente de pessoas tenha sido vacinado para diminuir a possibilidade de (o vírus) se espalhar”, frisou.

O pior mês no Brasil

Na América Latina, o Brasil, que aprovou na quarta-feira o uso emergencial da vacina Johnson & Johnson, o número de mortos está crescendo a um ritmo assustador. O gigante sul-americano registrou seu pior mês da pandemia em março, com mais de 66.000 mortes.

Depois dos Estados Unidos (552.073 mortes), o Brasil é o país com o maior número de vítimas fatais nesta pandemia (321.515), seguido pelo México (203.210).

“Nunca um único evento gerou tantas mortes em 30 dias na história do Brasil”, disse à AFP o médico Miguel Nicolelis, ex-coordenador da Comissão Científica formada pelos estados do Nordeste para enfrentar a pandemia.

Segundo Nicolelis, “a pandemia está totalmente fora de controle e (…) a perspectiva de chegar a meio milhão de mortes em julho já é plausível”.

A Bolívia fechou sua fronteira com o Brasil por uma semana, caso uma nova variante de Covid-19 circulasse.

O Chile – que faz fronteira terrestre com Argentina, Bolívia e Peru – também anunciou que fechará suas fronteiras ao longo de abril. A campanha de vacinação está avançando, mas os casos também.

E as infecções estão “em alta” em todo continente, alertou a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa Etienne.

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