Saúde

Coletores menstruais serão regulamentados pela Anvisa

Eles deverão ser atóxicos, hipoalergênicos e sem fragrâncias. Orientações mais claras sobre o uso e os riscos deverão constar na embalagem

A regulamentação da Anvisa ocorre após o expressivo aumento do número de vendas do produto, uma alternativa aos absorventes tradicionais
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Os coletores menstruais, também conhecidos como “copinho”, deverão ser regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A decisão ocorre após o expressivo aumento do número de vendas do produto, uma alternativa aos absorventes tradicionais comum no exterior, mas relativamente desconhecido no Brasil até poucos anos atrás. O primeiro modelo foi criado na década de 1930, mas o produto só se tornou viável economicamente no final dos anos 1980.

No Brasil, a adesão aconteceu só nos últimos anos, com a proliferação da discussão sobre a alternativa em grupos de mulheres e feministas. Mariana Betioli, uma das sócias da marca Inciclo, conta que o interesse das brasileiras surpreendeu. 

“No início foram necessários muitos esforços para quebrar o paradigma de deixar de usar absorventes, tocar o próprio corpo e falar de menstruação”, conta ela, uma das responsáveis pela marca disponível desde 2010 no mercado brasileiro. Hoje, nota Betioli, mulheres que tinham vergonha de comprar absorvente na farmácia postam fotos com o coletor nas redes sociais. Só em 2016, as vendas dos coletores da marca subiu 352% 

Em geral feito de silicone hipoalergêncio e antibacteriano, o coletor menstrual é um copinho maleável e ajustável ao corpo, responsável por coletar o sangue da menstruação. Ao contrário do absorvente interno tradicional, inserido no fundo do canal vaginal, o coletor fica na entrada da vagina. 

O produto foi celebrado por muitas mulheres, uma vez que não é descartável (ele deve ser higienizado ao fim de cada período menstrual e tem validade entre 5 e 10 anos de uso) e permite um maior conhecimento do próprio ciclo menstrual. O produto pode ser encontrado em lojas online ou encomendado nos fabricantes – o acesso ao produto, que custa entre 80 e 120 reais,  em farmácias, porém, ainda não é generalizado. 

Segundo a futura norma da Anvisa, que deverá ser publicada no Diário Oficial da União nos próximos dias, o material que compõe o coletor menstrual deverá ser atóxico, adequado para o seu uso e isento de integrantes como fragâncias e inibidores de odores.

Além disso, na rotulagem, deverá constar instruções que orientem claramente as usuárias sobre o modo de uso, contendo inclusive a frequência de remoção do produto para o descarte do conteúdo menstrual, além de informações sobre a Síndrome do Choque Tóxico.

Rara, a Síndrome do Choque Tóxico (SCT) foi descrita pela primeira vez em 1978. A doença pode atingir ambos os sexos e seus sintomas são causados pelas toxinas das bactérias, em especial, a Staphylococcus aureus. Apesar de rara, a doença pode desencadear uma série de graves reações, podendo até mesmo levar a morte.  A maioria dos casos da STC estão associadas ao uso de absorventes internos ou tampões, devido ao acúmulo do sangue menstrual coletado por muitas horas. 

O maior risco é o uso prolongado, por mais de 8 horas. Entre os sintomas, estão febre alta, dor muscular, náuseas, vômitos, pressão arterial baixa, além de vermelhidão e erupções na pele. A recomendação é procurar um médico imediatamente.  

A historiadora Carolina Kuk, 30 anos, começou a usar o copinho em janeiro de 2016, três meses depois de parar também com o uso da pílula anticoncepcional. Ela foi apresentada ao produto ao buscar informações em grupos de discussão sobre percepções mais naturais sobre a fertilidade.

“A princípio não tive vontade de usar porque eu não me sentia mal usando o absorvente. Mas depois de minha irmã e uma amiga comentarem que era maravilhoso e eu fiquei curiosa”, conta ela, que encomendou um coletor menstrual da marca Inciclo. “Desse dia em diante só usei o coletor, até o dia em que fiquei grávida”.

Ela cita como vantagens o maior conforto, as questões ecológica (o coletor é reutilizável, sem necessidade de descarte imediato) e o contato mais direto com o corpo e com o ciclo são citados por ela como vantagens em relação aos absorventes convencionais.

Luisa Cardoso, sócia da marca brasileira de coletores Korui, conta que, por muito tempo, a indústria de absorventes descartáveis relacionou a menstruação à sujeira ou a algo que deveria ser escondido. “Os absorventes tem até neutralizadores de odor. O sangue menstrual é algo natural. Acredito que o copinho aproxima a mulher do próprio corpo e ajuda a quebrar o tabu”, defende. 

“Antes do coletor eu não fazia ideia de qual era exatamente o volume da minha menstruação. Agora eu sei”, afirma Carolina, que conta que não sabia que o produto não era regulamentado, mas alega que não faria diferença. “Eu continuaria usando com ou sem regulamentação”.

Para Betioli, da Inciclo, além de fornecer a informação adequada às clientes, a regulamentação visa garantir a qualidade dos coletores vendidos no Brasil.

“Hoje, com a popularização do copinho, algumas empresas estão vendendo coletores que não são feitos de silicone, alguns são fabricados na China e sem nenhuma garantia de qualidade, outros têm corante e há até coletor com glitter”, afirma. Luisa Cardoso, da Korui, concorda. “Agora o consumidor terá mais segurança de que comprará um produto seguro”.

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