Saúde
Casos de Covid-19 em terra Yanomami aumentam 230% em três meses
Relatório denuncia omissão da Secretaria de Saúde Indígena e ressalta falta de expulsão de invasores do território


Indígenas da etnia Yanomami e Ye’kwana tiveram um salto de 230% no número de casos de Covid-19 confirmados somente nos últimos 3 meses. O levantamento, feito pela Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana e publicado nesta quinta-feira 19, mostra também o baixo número de testes realizados e enfatiza a necessidade da expulsão de invasores, especialmente de garimpeiros.
Entre agosto e outubro, diz o relatório, os casos confirmados foram de 335 para 1.202. A contabilização difere da mostrada pela Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, porque é feita com base no monitoramento comunitário da Rede Pró-Yanomami, que acusa o governo de não realizar testagens e não identificar toda a potencialidade da doença.
O relatório também denuncia que a Casa de Saúde Indígena do território converteu-se “em um dos principais focos de transmissão do novo coronavírus”, já que, até o dia 24 de outubro, cerca de 184 casos foram confirmados nas dependências do local.
Entre os 23 óbitos identificados pela Rede, seis eram bebês com menos de dois anos (22%), 12 eram pessoas com mais de 50 anos (52%), quatro eram jovens com idades entre 12 e 20 anos, e há também uma jovem de 23 anos.
Há também criticismo em relação à quantidade de testagem arranjada pela Sesai, classificada como “insignificante” em relação à população total na Terra Indígena Yanomami. Foram 1.270 testes, entre positivos, negativos e descartados até o dia 23 de outubro, uma porcentagem de 4,7% dos povos.
“Já existem casos confirmados em 23 das 37 regiões da terra indígena, localizada entre os estados de Roraima e Amazonas e lar de cerca de 26,7 mil indígenas, incluindo grupos isolados — ainda mais vulneráveis a doenças.”, complementam.
Roraima, atualmente, é o estado com a maior taxa de incidência do vírus a cada 100 mil habitantes, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), assim como possui a maior porcentagem de mortalidade pelo mesmo parâmetro.
CartaCapital pediu respostas à Sesai e aguarda o posicionamento do órgão para inseri-lo nesta reportagem.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.