Saúde

Brasil precisa recuperar protagonismo na saúde após boicote do governo, dizem especialistas

Webinar Saúde de CartaCapital reuniu especialistas para discutir ‘O lugar do Brasil no mundo pós-pandemia’

Brasil precisa recuperar protagonismo na saúde após boicote do governo, dizem especialistas
Brasil precisa recuperar protagonismo na saúde após boicote do governo, dizem especialistas
Webinar Saúde de CartaCapital debate desafios do Brasil na pandemia. Foto: Reprodução
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“Medalha de ouro” na saúde pública, o Brasil decepcionou o mundo com a sua resposta desastrosa à pandemia do novo coronavírus. Na opinião de especialistas, a principal responsabilidade é do governo de Jair Bolsonaro, que “boicotou” o maior ativo do País no atendimento médico: o Sistema Único de Saúde. O debate fez parte da mesa “O lugar do Brasil no mundo pós-pandemia”, que abriu nesta terça-feira 3 o Webinar Saúde de CartaCapital.

 

Para o médico e sanitarista Daniel Dourado, será desafio para o Brasil se recolocar no papel protagonista que antes ocupava na saúde pública. Em sua análise, o País era como um favorito de uma Olimpíada e provocava a expectativa em toda a comunidade internacional para uma resposta exemplar.

Essa perspectiva se deve, especialmente, ao SUS, a maior política de redução de desigualdade do Brasil e referenciado no exterior. No entanto, Bolsonaro fez exatamente o oposto do que deveria oferecer, diz o pesquisador.

“O Brasil é medalha de ouro e teve um resultado pífio”, disse o especialista.

Isaac Schartzhaupt, cientista de dados e coordenador na Rede Análise Covid-19, cita como medidas reprováveis do governo a propaganda para medicamentos ineficazes e a campanha contra a adoção de restrições sanitárias. Para o especialista, o panorama atual faz contraste com políticas institucionais adotadas no passado, como para o tratamento ao HIV e à AIDs. Hoje, diz o pesquisador, é como se os especialistas tentassem sintonizar uma estação de rádio, e o governo jogasse interferência.

“O governo já fez campanhas sensacionais”, lembra ele. “O Brasil teria totais condições, mas fez o oposto.”

Os especialistas também discutiram a pressão pela reabertura da economia, num momento em que estados brasileiros já anunciam a suspensão das restrições para setembro. Para os pesquisadores, a decisão é precipitada e reflete mais um clima político do que sanitário.

Eles ressaltam que mesmo países desenvolvidos, com patamares superiores de vacinação, estão retornando a estágios anteriores de limitação de circulação. Além disso, as regiões perifericas globais têm índices muito baixos de imunização. No mundo, somente 30% da população obtêm a 1ª dose da vacina, e 15% receberam a 2ª dose, lembrou Schartzhaupt. No continente africano, o percentual é ainda mais baixo: 5% com a 1ª dose, e 2% com a 2ª.

Para Alexandre Padilha, médico, ex-ministro da Saúde e deputado federal pelo PT de São Paulo, a comunidade internacional deve trabalhar para tornar a vacina antiCovid como um bem público. Para Padilha, a manutenção do monopólio com empresas privadas vai prejudicar a velocidade da produção em escala mundial e favorecer o aparecimento de novas variantes.

Diante da proliferação da variante Delta, o ex-ministro da Saúde considera que será necessário adaptar periodicamente a composição dos imunizantes, o que deve demandar a existência de mais atores na produção e distribuição. Para os especialistas, blocos como a Organização Mundial do Comércio e o G-7 devem examinar ações para facilitar, por exemplo, a transferência de tecnologia para países que ainda se encontram no início do processo de vacinação.

O ex-ministro também elenca como desafio para o Brasil tratar os efeitos da pandemia na aprendizagem das crianças, adolescentes e jovens, após o País retroceder em 20 anos nos níveis de evasão escolar.

“Ou o mundo se protege, ou não estanca a pandemia”, avalia Padilha. “O pós-pandemia pode ser mais tardio e mais trágico por impactos sanitários, sociais e econômicos.”

O Webinar Saúde terá palestras uma vez por semana até 31 de agosto. Na próxima semana, dia 10 agosto, terça-feira, às 19 horas, CartaCapital realizará o debate “Como o Brasil pode enfrentar a nova onda?”, com a participação do virologista Anderson Brito, a infectologista Rosana Richtmann e o sanitarista Paulo Buss. A exibição ocorre ao vivo pelo YouTube, de forma restrita. Interessados em assistir à discussão devem se cadastrar no site dialogoscapitais.com.br. A inscrição é gratuita.

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