Saúde

AstraZeneca reforça sua imagem global sem visar ganhos no curto prazo

A colaboração da farmacêutica com a Universidade de Oxford reforçou sua reputação e elevou o preço de sua ação

Foto: JUSTIN TALLIS / AFP
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Por Julia Kollewe

Antes mesmo da pandemia, a AstraZeneca era altamente considerada no mundo empresarial e farmacêutico, vista como uma das melhores companhias do Reino Unido. Hoje, graças ao bem-sucedido programa de vacinação britânico e de outros países, tornou-se um nome familiar.

A firma anglo-sueca, que publicou os resultados anuais na quinta-feira 11, ganhou proeminência como fabricante de uma das primeiras vacinas para Covid-19 do mundo, aprovada para uso no Reino Unido, na União Europeia e na Índia. Inevitavelmente, gerou notícias. A AstraZeneca tem sido o ponto focal da guerra pelo fornecimento de vacinas entre o Reino Unido e a União Europeia e, como parte dessa disputa, enfrenta perguntas sobre a eficácia do imunizante em cidadãos com mais de 65 anos.

Nos últimos dias, houve certo alívio quando análises de dados de três novos testes concluíram que uma única dose da vacina conferiu, em média, 76% de proteção contra a Covid durante ao menos três meses e reduziu a transmissão do vírus em 67%.

A última vez em que a AstraZeneca ocupou tanto os noticiários foi em 2014, quando ela evitou uma tentativa de compra indesejada, por 70 bilhões de libras (cerca de 520 bilhões de reais), pela rival norte-americana Pfizer, que avaliava suas ações em 55 libras (409 reais).

Seis anos depois, em julho de 2020, a ação da AstraZeneca bateu um recorde de 93,20 libras, depois de uma bem-sucedida transformação dos negócios na gestão do executivo-chefe Pascal Soriot. Fazer as apostas certas em pesquisa, em particular das drogas contra câncer Tagrisso e Lynparza, deu à AstraZeneca um forte portfólio em oncologia, enquanto a rival britânica GSK ainda tenta construir um.

A colaboração da AstraZeneca com a Universidade de Oxford na vacina contra a Covid-19 reforçou sua reputação e elevou o preço de sua ação. A farmacêutica superou a Royal Dutch Shell e a Unilever em maio e tornou-se, durante alguns meses, a maior companhia no índice FTSE 100. Mas, ao contrário da Pfizer, que espera captar 15 bilhões de dólares em vendas neste ano com sua vacina para Covid-19 desenvolvida com a alemã BioNTech, a AstraZeneca diz que não lucrará com sua vacina e decidiu fornecê-la a preço de custo durante a pandemia, entre 3 e 5 dólares a dose. Qualquer lucro virá no futuro, embora a firma enfrente a concorrência de outras vacinas.

A parceria com a Universidade de Oxfordfez bem à reputaçãodo laboratório

Seu coquetel AZD7442, que usa anticorpos gerados artificialmente para imitar a reação imune natural do corpo, está em fase de testes como tratamento preventivo para a Covid para aqueles que não podem ser vacinados, e como terapia para os doentes com o vírus. Outras firmas, entre elas a Eli Lilly, a GSK e a Regeneron, também investem no desenvolvimento desses tratamentos com anticorpos e, embora cientistas tenham levantado dúvidas sobre sua eficácia contra as novas variantes de Covid, este poderá se tornar um mercado competitivo.

Assim, o principal motor de crescimento da AstraZeneca são as drogas anticâncer, como Enhertu para cânceres de seio, gástrico e outros, desenvolvida com a companhia japonesa Daiichi Sankyo, e Calquence, para o agressivo linfoma de células do manto.

Outros potenciais sucessos, com receitas anuais de ao menos 1 bilhão de dólares, incluem o medicamento contra asma Fasenra, que pode poupar os pacientes do uso de esteroides. A companhia teve boa atuação ultimamente: sua droga para diabetes Farxiga acaba de ser aprovada para tratar insuficiência cardíaca na China e poderá tornar-se um grande sucesso. O banco Barclays estima as vendas em 3,8 bilhões de dólares em 2025. A firma de Cambridge saiu-se um pouco melhor na pandemia que a GSK, que ela suplantou em 2019 como maior empresa farmacêutica do Reino Unido em valor de mercado, embora suas vendas sejam inferiores às da GSK.

Analistas esperam que a AstraZeneca tenha alcançado receitas de 26,4 bilhões em 2020, comparadas com 24,4 bilhões de dólares no ano anterior. Resta ver se sua recente aquisição, por 39 bilhões de dólares, da especialista em doenças raras Alexion, seu maior negócio até hoje, compensará.

Analistas temem que a AstraZeneca possa ter pago demais, mas a companhia pretende levar alguns remédios da Alexion à China, onde abriu cinco novas sedes regionais nos últimos dois anos e gera um quinto de suas receitas. Em todo caso, a AstraZeneca está muito mais forte, e mais conhecida, que em 2014.

Nota de CartaCapital: a Organização Mundial da Saúde vai deliberar nos próximos dias sobre o uso emergencial da vacina da AstraZeneca, após a África do Sul suspender a distribuição do produto. Autoridades de saúde sul-africanas reportaram menor eficácia do imunizante contra a variante do Coronavírus surgida no país. Katherine O’Brien, diretora de vacinas da OMS, afirmou que a entidade mantém visão positiva sobre o medicamento. “O objetivo atual é reduzir as mortes, as internações e os casos graves da doença, e isso todos os fabricantes entregam, segundo os estudos que conduzimos até agora”, afirmou Michael Ryan, diretor-executivo da organização.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Publicado na edição n.º 1144 de CartaCapital, em 12 de fevereiro de 2021.

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