O Ministério da Saúde cumpriu uma recomendação do Ministério Público Federal e classificou, publicamente, que um feijão vendido pela Igreja Mundial do Poder de Deus não é a cura para o coronavírus. A pasta, porém, não divulgou o comunicado nas redes sociais, por onde a igreja chegou a anunciar a venda do feijão.
No vídeo, que já foi removido do YouTube após um pedido da Procuradoria dos Direitos do Cidadão em São Paulo, o pastor Valdemiro Santiago aparecia dizendo que a igreja teve casos de pessoas curadas a partir da compra da semente.
“Só tem um jeito de se vencer essas fases difíceis: semeando. Essa semente, “sê tu uma benção”… você vai semear essa semente e na planta que nascer vai estar escrito ‘Sê tu uma benção'”, diz Valdemiro. Depois, dá o lance inicial – ou “propósito” – de 1000 reais por fiel para adquirir o produto.
Na página de notícias do Ministério, a publicação aparece com um símbolo de “Isto é fake news!” e um texto explicativo afirmando que “não há, até o momento, produto, substância ou alimento que garante a prevenção ou tratamento do coronavírus.”
A publicação, no entanto, não tinha sido compartilhada nas redes sociais do Ministério até a noite desta quinta-feira 11. É prática que a página da pasta divulgue as informações classificadas como falsas, como é o caso da desmentida fala do ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre a notificação de covid-19.
O @minsaude esclarece que o ministro interino Eduardo Pazuello não tem perfil em redes sociais. Portanto, o perfil onde a imagem foi publicada é falso. A pasta tem solicitado às diferentes plataformas a exclusão de vários perfis falsos em nome do ministro. pic.twitter.com/oUamQjrrYP
— Ministério da Saúde (@minsaude) June 8, 2020
Valdemiro Santiago é um dos líderes religiosos que apoia o presidente Jair Bolsonaro desde os tempos de eleição, e aparenta proximidade com o presidente. No ano passado, chegou a receber um passaporte diplomático, mas teve o acesso barrado pela Justiça. Em uma ocasião, esteve presente no Palácio do Planalto e apareceu em uma transmissão ao vivo com o presidente.
Para o MPF, o pastor utilizou de um “disfarce linguístico” para poder extorquir as vítimas. “Não se pode, a título de liberdade religiosa, permitir que indivíduos inescrupulosos ludibriem pessoas vulneráveis e firam a fé pública.”, escreveu o procurador Wellington Saraiva em uma recomendação de que o pastor fosse investigado por estelionato pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, que teria a competência para averiguar o caso.
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