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Gustavo Ribeiro, presidente da Abramge

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Segurança e estabilidade são essenciais para a ampliação do acesso à saúde

É fundamental que o debate sobre a saúde suplementar seja conduzido com responsabilidade, sem medidas que possam gerar desequilíbrios irreversíveis

Conteúdo oferecido por Gustavo Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge)

Foi uma honra acompanhar de perto o início dos atendimentos do programa Agora Tem Especialistas, do Ministério da Saúde, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Alexandre Padilha, no Hospital Ariano Suassuna, do Grupo Hapvida NotreDame, no Recife (PE). A iniciativa representa um marco na história da saúde no Brasil e evidencia, de forma incontestável, o papel estratégico da saúde suplementar no alívio das pressões orçamentárias sobre o SUS, que garante assistência a 75% da população. Estrutura suficiente para expandir essa bem-vinda integração entre o público e o privado que a saúde suplementar detém.

Em apenas um ano, a saúde suplementar realizou junto aos seus 52,8 milhões de beneficiários perto de 1,9 bilhão de procedimentos, entre consultas, exames, terapias e internações. Historicamente, responde por quase 3% do PIB e pela maior parte dos 5,18 milhões de empregos formais do sistema. Manter essa engrenagem em funcionamento, contudo, exige condições mínimas de segurança jurídica e econômica, que tragam estabilidade e sustentabilidade, premissas fundamentais desse sistema. Qualquer tentativa de artificializar os mecanismos desse setor representa um risco real de colapso. A única exceção prevista pela lei são os planos individuais, cujos reajustes são controlados pela ANS. Ademais, o modelo de saúde privado brasileiro sustenta-se nas bases do mutualismo e do livre mercado. Tentar, por exemplo,aplicar a mesma lógica de controle dos planos individuais aos coletivos significa desconsiderar a natureza distinta desses contratos e as inúmeras diferenças estruturais entre esses dois produtos e realidades.

Nos planos corporativos ou por adesão, empresas, associações e operadoras negociam livremente serviços, preços e condições, em um ambiente de concorrência saudável. O contratante pode comparar, avaliar e escolher a opção mais adequada do ponto de vista tanto da qualidade assistencial quanto do custo financeiro. Romper com essa lógica, impondo controles artificiais, é fragilizar as bases de qualquer relação econômica equilibrada em um mercado sob as regras da livre democracia.

A experiência com os planos individuais ilustra bem o problema: a regulação engessada reduziu a oferta e inviabilizou economicamente o modelo para parte significativa do mercado. Repetir esse modelo limitante com os planos coletivos comprometeria um dos principais instrumentos de acesso à saúde no País e traria impactos negativos tanto para o setor privado quanto para o público, cujo orçamento segue cada vez mais pressionado. Vide o exemplo da Alemanha, que, em um modelo econômico muito mais estável que o brasileiro, se vê pressionada a realizar com urgência uma reforma do Estado de Bem-Estar Social, tarefa conduzida pelo premier Friedrich Merz, diante da incapacidade de arcar com os custos crescentes, entre os quais o da saúde.

Por isso, é fundamental que o debate sobre a saúde suplementar seja conduzido com responsabilidade, sem medidas que possam gerar desequilíbrios irreversíveis. A sustentabilidade do setor depende da compreensão de suas complexidades, que variam conforme o porte da operadora, o tipo de produto, a região de atuação e outras tantas variáveis. Como entidade que representa mais de 140 operadoras, pelas quais são atendidos quase 40% dos usuários do sistema privado de saúde, o nosso objetivo é sempre o de estabelecer diálogos propositivos. Para isso, precisamos de dados, fatos e ciência na busca de soluções de longo prazo que garantam o bom atendimento assistencial da população, com uma integração cada vez mais eficiente com o Sistema Único de Saúde e com a imprescindível viabilidade econômico-financeira das empresas.

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