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Gustavo Ribeiro, presidente da Abramge

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Pedido à racionalidade no debate sobre a saúde suplementar

POR GUSTAVO RIBEIRO, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PLANOS DE SAÚDE (ABRAMGE)

Dois mil e vinte e seis se aproxima e, se há algo consensual, é que será um ano complexo que exigirá grande esforço coletivo para a construção de diálogos racionais. Afinal, historicamente, em anos eleitorais a tendência é haver amplificação da desinformação e debates polarizados construídos à luz das emoções e voltados somente para resultados momentâneos. Esse movimento encontra terreno fértil em temas de forte impacto social – a saúde entre eles.

A desinformação, contudo, tornou-se um desafio sistêmico. No 29º Congresso Abramge, o historiador Yuval Harari lembrou que nunca tivemos tanto acesso a informações e, paradoxalmente, nunca estivemos tão vulneráveis ao poder corrosivo das narrativas falsas. Se quisermos proteger a arquitetura social, será preciso restaurar a confiança no diálogo. No campo da saúde, seu fortalecimento e recorrência são imperativos.

Como entidade que representa 140 das mais de 660 operadoras ativas, nossa missão é apresentar dados concretos aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e à agência reguladora, contribuindo para diagnósticos e soluções dos desafios históricos da saúde suplementar. A sustentabilidade financeira é só um dos exemplos cuja discussão requer uma visão mais sistêmica e técnica do setor.

Frequentemente, os resultados das operadoras são examinados de forma descontextualizada, o que obscurece a real heterogeneidade do setor. Atualmente, do total de operadoras, somente seis têm mais de 1 milhão de beneficiários. A faixa com mais operadoras (26%) é a que tem até 5 mil vidas. Em termos financeiros, mais de 40% das empresas operam no negativo. Obrigar algumas dessas pequenas empresas, sem a devida análise do caso, do paciente e da operadora, a arcar com tratamentos de alto custo não previstos pela regulação pode ser o caminho para a falência.

Outro tema recorrente é a judicialização. Muito se fala em “excesso”, mas é essencial analisar dados. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2024 foram registradas 303 mil ações em um universo de mais de 52,2 milhões de beneficiários, o equivalente a um índice de insatisfação de 0,5%. A proporção revela que o setor opera de forma amplamente satisfatória para a grande maioria que o acessa.

Por fim, há também uma questão reputacional. Em que pese a dificuldade do setor de se comunicar com a sociedade, o fato é que o sistema privado tem importância ímpar na economia e no acesso da população ao sistema de saúde. O setor responde por cerca de 3% do PIB, emprega mais de 170 mil pessoas e reúne 666 operadoras que atendem mais de 53 milhões de beneficiários. Sem o braço privado, caberia ao SUS o atendimento de mais 26% da população, o que oneraria os cofres públicos e a estrutura assistencial.

Os dados não se esgotam nesta leve pincelada. A razão de existir do setor é o beneficiário. Atender suas demandas é nosso objetivo dentro de um contexto de segurança jurídica e de decisões baseadas na segurança do paciente e na realidade das operadoras. Temos certeza de que o ponto de equilíbrio será alcançado. Para chegarmos lá, porém, as armas terão de ser depostas: o debate deverá ser feito com fatos, dados e ciência.

 

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